Dólar: Queda e Efeitos da Guerra Comercial
DM Online
Publicado em 4 de junho de 2025 às 14:50 | Atualizado há 2 diasO dólar apresenta queda nesta quarta-feira (4), com o mercado atento a novidades sobre a guerra comercial do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e dados econômicos de lá.
Na cena doméstica, o destaque segue sendo a política fiscal do governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que deve anunciar medidas que substituam o aumento no IOF (Imposto sobre Operações Financeiras) na próxima semana.
Às 11h11, o dólar comercial caía 0,24%, cotado a R$ 5,623. Já a Bolsa avançava 0,64%, a 138.427 pontos.
Trump assinou, na terça-feira, um decreto que dobra as tarifas de importação sobre aço e alumínio, de 25% para 50%. A medida entrou em vigor nesta madrugada e afetará as exportações do Brasil, segundo maior fornecedor de aço ao mercado norte-americano.
Segundo o texto, a decisão foi tomada após análises que indicaram que as tarifas anteriores não foram suficientes para conter a entrada de produtos estrangeiros a preços baixos, o que compromete a competitividade das siderúrgicas e metalúrgicas dos EUA.
O governo americano afirma que a escalada das tarifas é necessária para garantir a saúde dessas empresas e atender às necessidades de defesa nacional. O aumento inicial para 25% foi anunciado em fevereiro.
Mas, ao contrário das medidas anteriores, este novo capítulo da guerra tarifária de Trump não tem provocado grandes oscilações no mercado. “Os investidores provavelmente estão achando que essa é mais uma ferramenta de barganha e que daqui a pouco Trump irá recuar mais uma vez”, diz o analista Alison Correia, co-fundador da Dom Investimentos.
O apetite por risco também tem como pano de fundo a expectativa de um possível telefonema de Trump e o líder chinês, Xi Jinping, que possa arrefecer as tensões comerciais.
A Casa Branca sinalizou na terça que eles devem conversar ainda nesta semana, dias depois de ambos os países trocarem acusações sobre um suposto descumprimento de um entendimento alcançado no mês passado para reduzir tarifas e restrições comerciais.
Além disso, o otimismo é com o possível avanço das negociações dos EUA com outros países. Trump estabeleceu esta quarta-feira como o prazo final para que os países apresentem suas “melhores ofertas” a fim de evitar a imposição de tarifas mais altas em julho.
As atenções também estão voltadas aos efeitos das tarifas na economia norte-americana. O relatório da ADP mostrou que os empregadores do setor privado dos EUA abriram 37 mil vagas em maio, bem abaixo da projeção de 110 mil de pesquisa da Reuters, apontando para uma desaceleração do mercado de trabalho do país.
A divulgação provocou uma reação imediata em Trump. “Saiu o número da ADP. O ‘Senhor Tarde Demais’ [Jerome Powell, presidente do Federal Reserve] tem que baixar os juros agora. Ele é inacreditável. A Europa já baixou nove vezes”, escreveu em uma postagem no Truth Social.
Os dados da ADP precedem o relatório payroll (folha de pagamento, em inglês), que é mais abrangente e deve ser publicado na sexta-feira.
Trump vem atacando Powell há meses, e seus pedidos pela saída do presidente do banco central dos EUA estão pesando sobre as ações e os mercados. Sobretudo, estão levantando dúvidas sobre a independência do Fed sob o governo Trump, ainda que o presidente tenha dito no mês passado que não irá remover Powell do cargo antes do término do mandato do dirigente.
Já na cena doméstica, o foco está voltado para o fiscal. O presidente Lula, na terça, sinalizou que o governo busca por uma solução para o impasse do aumento do IOF (Imposto sobre Operações Financeiras).
Segundo ele, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, não teve problema em rediscutir o decreto que elevou alíquotas do IOF, acrescentando que uma nova proposta seria discutida durante a tarde em um almoço no Palácio da Alvorada.
O presidente disse ainda que “não deu tempo” para discutir a mudança no decreto que aumentou o IOF.
“O [Fernando] Haddad, no afã de dar uma resposta à sociedade, elaborou uma proposta da Fazenda”, disse. “Não acho que tenha sido erro não, foi momento político e em nenhum momento o companheiro Haddad teve qualquer problema de rediscutir o assunto. A apresentação do IOF foi o que pensaram naquele instante.”
Após o almoço com Lula no Palácio da Alvorada e os presidentes da Câmara e do Senado, Haddad disse que medidas fiscais estruturais em discussão pelo governo não serão anunciadas antes de uma reunião com lideranças partidárias do Congresso Nacional, prevista para domingo.
Para Matheus Spiess, analista da Empiricus Research, a sinalização foi importante para os investidores locais.
“O presidente parece bastante determinado a buscar uma alternativa para o IOF como solução para a crise atual. Mesmo quando questionado sobre medidas mais duras, ele não negou a possibilidade de negociar com as lideranças”.
Spiess afirmou que a coletiva reduziu o ruído em torno dessas negociações, o que ajudou a melhorar o clima local.
“Diante da possibilidade de apresentar, em curto prazo, alguma alternativa ao IOF, as apostas começam a mudar, com o mercado passando a apostar em um cenário mais positivo, ainda que seja apenas uma solução parcial e minimamente bem feita”, afirmou.