Economia

Economia respira otimismo

Redação DM

Publicado em 4 de maio de 2018 às 00:32 | Atualizado há 7 anos

O presidente Michel Temer ao visitar a Agrishow na manhã de ontem, em Ri­beirão Preto (SP), demonstrou oti­mismo com a economia brasileira e ironizou eventual preocupação com as investigações da Polícia Federal sobre suspeitas de que teria recebi­do propina. A Agrishow, instalada no domingo, encerrou-se ontem com um nível de negócios recordes. Temer era esperado para a instala­ção da maior feira de agronegócio da América do Sul. Mas não com­pareceu e Jair Bolsonaro foi a estre­la. Apesar da importância de Goiás no cenário da cadeia produtiva de grãos, carnes, hortifrútis não se teve notícia da presença de governantes goianos na 25ª Feira Internacional de Tecnologia Agrícola em Ação.

Após visitar um estande de má­quinas agrícolas e subir em um tra­tor, o presidente da República dis­cursou na Agenda do Agronegócio, evento promovido pelo jornal A Ci­dade, de Ribeirão Preto. “Verifiquei uma confiança extraordinária de nosso País”, confessou, brincando que nenhum empresário do meio rural compraria máquinas com va­lores superiores a R$1 milhão “se não tivesse certeza de que investi­mento daria retorno”.

Ele disse que saiu da Agrishow “entusiasmadíssimo”, com a certe­za de “vale a pena apostar no Bra­sil”. Temer e sua comitiva circularam por uma área restrita da feira, com a presença de seguranças e sem con­tato direto com o público. O presi­dente não sofreu hostilidades. Ao contrário, alguns empresários e fun­cionários o procuraram para fotos.

ENTUSIASMO PROCEDE

O meio empresarial demons­tra entusiasmo com a recuperação da economia brasileira. Se no ano passado, a feira comercializou cerca de R$2 bilhões e 200 milhões, para este ano a expectativa é de acrés­cimo de mais 10%, ou um total, de R$2 bilhões e 400 milhões. Os dados oficiais serão divulgados hoje pela coordenação da Agrishow, Fran­cisco Maturro.

Roberto Rodrigues, ex-minis­tro da Agricultura, demonstrou seu entusiasmo com a feira de Ribei­rão Preto “tanto em negócios quan­to em novidades tecnológicas sem precedentes”, num rápido papo com o repórter do Diário da Ma­nhã. Luiz Felli, da AGCO, voltou do sul do Maranhão encantando com o que viu. “É o novo farwest brasi­leiro, nova fronteira agropecuária, aonde os tratores vão gradual e ra­pidamente substituindo o carro de boi e ofertando uma nova linha de negócios, safras crescentes de grãos, de aves e de suínos”. A empresa GSI monta uma estratégia agressiva no mercado brasileiro. A ideia da in­dústria é investir R$1.200 milhões, gerando mais de 3.500 empregos.

Werner dos Santos é outro que vê a economia mais favorável, ob­servando que a taxa Selic tende a atrair mais investimentos no segun­do semestre. Segundo ele, o Brasil é agraciado “até com a disputa entre os Estados Unidos e a China”. A seca na Argentina e o dólar “também aju­dam os brasileiros”. A Índia e a China com suas populações explosivas e o êxodo rural querem comida. “E nin­guém tem espaço, solo, água e lumi­nosidade para produzir grãos, car­nes, frutas e hortaliças igual o nosso País”, acusa, de outro lado, Roberto Rodrigues, considerado o embaixa­dor da FAO no Brasil.

VITRINE DO AGRONEGÓCIO

A Honda, multinacional japo­nesa, está animada com a retoma­da econômica brasileira. Com 80% do mercado de motos, por exemplo, acredita num crescimento de 8%. Na Agrishow fez novos lançamentos de motores estacionários, de pulve­rizadores, entre outros equipamen­tos. “Aqui é a vitrine do agro”, diz Al­fredo Guedes, do grupo.

Jack Torreta Júnior, diretor de Operações da Mehindra Rise, tor­nou-se a primeira em vendas no Brasil, no segmento de colheitadei­ras e implementos agrícolas. Sua rede de vendas já alcança 2.500 parceiros. “Acredito no futuro bra­sileiro”, diz ao Diário da Manhã. O grupo já vendeu mais de 4 milhões de tratores e está lançando oito no­vos produtos em suas unidades nacionais e o índice de nacionali­zação tende a crescer, sobretudo a partir de março de 2019.

Cleophus Peter Franklin, vi­ce-presidente de marketing da Mehindra, que acabara de chegar dos Estados Unidos, reafirmou sua “confiança no Brasil”, obser­vando que a empresa de capital indiano “está comprometida com o País”. Novos aportes financeiros estão a caminho, segundo ele, um descendente da África. A Toledo do Brasil, líder em tecnologia na área de pesagem e gerenciamento de informações, apresentou solu­ções para o produtor rural na 25ª Feira Internacional de Tecnologia Agrícola em Ação.

GRUPO JAPONÊS

A Komatsu instalou-se no Brasil em 1975 na cidade de Suzano, São Paulo, em uma área de 634.000 m². A fábrica brasileira foi a primeira planta fora do Japão, fazendo par­te da estratégia de expansão glo­bal com um parque fabril comple­to com fundição própria e processos de usinagem, caldeiraria, monta­gem, inspeção final e expedição.

Em 1997, inaugurou a segun­da planta no Brasil, na cidade de Arujá, ocupando uma área total de 24.000 m² onde são produzi­dos tanques, caçambas, cabines, chassis e chaparia em geral. Em 1998, criou a Komatsu Brasil In­ternacional, subsidiária de vendas destinada exclusivamente a cuidar do mercado brasileiro.

Hoje, a Komatsu atua nos seg­mentos de infraestrutura, agricultu­ra, mineração, rodoviários, ferroviá­rios, aeroportuários, hidroelétricos, petroquímicos e florestais. É mais uma demonstração de confiança. A Firestone, com 95 anos em territó­rio brasileiro, é outra empresa mul­tinacional que demonstra crença no País e espera bons negócios na fei­ra, embora se omita em quantifica­ção de valores. Do Banco Santander, Paulo Ventura, superintendente, diz que suas linhas de financiamen­to são superiores a US$30 bilhões. “Cremos no Brasil e o caminho bra­sileiro é do agronegócio”. O banco espanhol espera negócios superio­res a R$1 bilhão na Agrishow.

Com altas produções e produ­tividades de grãos na lavoura bra­sileira, o gargalo do setor ainda é armazenagem. As empresas pro­dutoras de silos trabalham para conscientizar os produtores a in­vestir em armazenagens próprias, ou mesmo em condomínios (ou consórcios), mas avisam que finan­ciamentos e planejamento são es­senciais, já que a capacidade de implantar novos projetos não che­ga a 10%/ano do total do déficit da produção de grãos/ano. Na 25ª Agrishow – Feira Internacional de Tecnologia Agrícola em Ação, essas empresas demonstram otimismo.

“A expectativa do agronegócio para 2018 é bem positiva e espera­mos crescer de 20% a 25% em vi­sitantes e propostas de negócios”, afirma o diretor comercial da GSI, José Luiz Viscardi, de Marau (RS). Segundo ele, a capacidade das in­dústrias do setor para diminuir o gargalo de armazenagem é menor que a produção de grãos. O défi­cit de estocagem é de cerca de 80 milhões de ton/ano (a produção de grãos em 2017 chegou a qua­se 240 mi/t, ou seja, quatro vezes mais que o déficit). “Em anos bons, as empresas produzem silos para cerca de 8 milhões de toneladas”, emenda Viscardi, citando que fo­ram 6 milhões/ton em 2017 e não chegou a 5 mi/ton em 2016. Ele menciona que produtores do Pa­raná já fazem consórcios para in­vestir em armazenagem, dividin­do os custos entre eles.

O superintendente comercial da Kepler Weber, João Tadeu Vino, informa que a meta é prospectar e captar novos clientes, salientan­do que o trabalho de pré-venda para fechamento na feira surtiu efeito. A empresa trabalha há três anos com o conceito de projetos de armazenagem inteligente, de­senvolvido para garantir melho­res resultados, com soluções foca­das na preservação da qualidade dos grãos, economia nos custos de operação e segurança nos proces­sos de armazenagem.

“Tendo a visão completa do sistema, o produtor pode ter re­torno do investimento com mais rapidez”, resume. Sobre o concei­to de união de produtores para in­vestir em armazenagem, ele usa o termo condomínio. “Dos condo­mínios existentes do Paraná, 80% foram fornecidos pela nossa em­presa; é outro jeito de investir nes­sa área”, explica Vino, que acres­centa: “Outra solução é ter um plano com o governo para zerar o déficit de estocagem, com finan­ciamento e planejamento”.

A gerente executiva Andrea Hollmann, da CASP, de Amparo (SP), destaca que a empresa tem expectativa de aumento de ven­das de 10% em relação ao ano pas­sado, após trabalho pré-feira. “A Agrishow é nossa principal feira e estamos consolidando a marca e recebendo nossos clientes”, des­taca Andrea, que é coordenado­ra do grupo de trabalho de arma­zenagem da Abimaq, que envolve as empresas do setor, promoven­do reuniões a cada dois meses para discutir o tema. No primeiro dia da Agrishow já ocorreu uma reunião.

“O produtor está preocupado, pois perde dinheiro sem arma­zenagem”, emenda ela. “Estamos conscientizando o produtor ru­ral, que só existem vantagens em armazenagem, e isso já melhorou bastante, pois antes a cultura era apenas em comprar mais terras”, enfatiza Andrea.

A empresa Silomax, de Rolândia (PR), trabalha forte no segmento de armazenagem e classificação de se­mentes, principalmente com soja, para que o produtor tenha boas se­mentes no plantio. Com seus clien­tes, a indústria também produz si­los de armazenagem da produção, e aposta em bons negócios durante a Agrishow. “Nosso objetivo na feira não é fechamento, mas de abertura de novos negócios”, diz o represen­tante comercial Washington Luiz Silva, satisfeito com os primeiros resultados no evento.

A Agrishow 2018 teve início no dia 30 de abril e se encerra hoje. A feira é uma iniciativa das prin­cipais entidades do segmento no país: Abag – Associação Brasileira do Agronegócio, Abimaq – Asso­ciação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos, Anda – Associação Nacional para Difusão de Adubos, Faesp – Federação da Agricultura e da Pecuária do Esta­do de São Paulo e SRB–Sociedade Rural Brasileira. O evento é orga­nizado pela Informa Exhibitions, integrante do Grupo Informa, um dos maiores promotores de fei­ras, conferências e treinamento do mundo com capital aberto.

OTIMISMO NO MERCADO DE MÁQUINAS

A 25ª Agrishow – Feira Inter­nacional de Tecnologia Agrícola em Ação que se encerra hoje está apresentando as principais novi­dades do mercado de máquinas e ferramentas para o agronegó­cio. Alguns expositores desses segmentos comemoram a par­ticipação já nos três primeiros dias de evento.

A Bristol, de São Jerônimo, no Rio Grande do Sul, comercializou na Agrishow 2017 R$ 130 mil em equipamentos. “Neste ano, já ven­demos R$ 90 mil. Por isso, temos a certeza de que podemos atingir nos­sa meta, que é de R$ 250 mil”, explica Guilherme Silveira, diretor executi­vo. A empresa trouxe como inova­ção uma perfuratriz para tratores destinada a linhas de transmissão.

A Husqvarna veio com uma no­vidade, um robô cortador de gra­ma a bateria, que conta com três versões, pequeno, médio e gran­de e pode cobrir uma área de até 3.200 metros quadrados voltan­do a base fixa para recarregar au­tomaticamente. O gerente de ven­das regional da companhia, Pedro Quevedo, revela que a empresa es­pera superar os números do ano passado, quando venderam R$ 900 mil em equipamentos. “Nos­sa meta é alcançar nesta edição R$1,2 milhão”, acrescenta.

No caso da Stihl, a empre­sa espera um aumento de 10% no volume de vendas neste ano na feira. A empresa apresenta na Agrishow sua linha a elétrica do­méstica para jardinagem, sendo que cada equipamento pesa em média 2,3kg e não é preciso reti­rar a bateria para recarregar.

Por fim, a Tramontina trouxe fer­ramentas fabricadas em Garibaldi Rio Grande do Sul e uma novida­de a Caixa Pickup Box com capa­cidade para 260 ferramentas, que é colocada em veículos para a ma­nutenção de máquinas no campo, o representante da empresa expli­cou que a participação deste ano na Agrishow é institucional, para estrei­tar as relações com os representan­tes e o consumidor final.

ABIMAQ DEFENDE MODERNIZAÇÃO

“Precisamos de uma política in­dustrial que contribua para moder­nização da indústria brasileira e as­sim aumentar a produtividade da economia do País. O Brasil neces­sita do aumento do consumo de bens de capital, de máquinas. Sa­bemos que o aumento da produti­vidade vem das máquinas”, assim José Velloso, presidente executivo da Abimaq – Associação Brasilei­ra da Indústria de Máquinas ini­ciou sua palestra ontem durante a realização da Agrishow.

Segundo Velloso, o Brasil pre­cisa de financiamentos competi­tivos que sejam compatíveis com o retorno das empresas. É neces­sária uma reforma monetária que permita a substituição da taxa Se­lic por uma taxa de juros de curto prazo fixada com valor próximo ou pouco acima da inflação proje­tada, acrescida do risco País. “Essa taxa – argumentou – deve remu­nerar os depósitos voluntários e compulsórios dos bancos. Preci­samos ainda de uma taxa de lon­go prazo sendo definida pelo mer­cado. Continuou sugerindo que os resquícios de indexação de preços e contratos fossem eliminados”.

Tags

Leia também

Siga o Diário da Manhã no Google Notícias e fique sempre por dentro

edição
do dia

Impresso do dia