Economia

Economistas reúnem em livro frases clássicas e de autoridades atuais

Diário da Manhã

Publicado em 8 de dezembro de 2015 às 06:05 | Atualizado há 9 anos

SÃO PAULO – Assim como o escultor francês Marcel Duchamp usou um pneu de bicicleta e uma banqueta para criar arte, os economistas Gustavo Franco, colunista do GLOBO, e Fabio Giambiagi reuniram uma coleção de citações, fora de seu contexto original, para fazer “Antologia da Maldade – um dicionário de citações, associações ilícitas e ligações perigosas”. O livro, que será lançado em São Paulo nesta quarta-feira, reúne frases de autores como a presidente Dilma Rousseff, o poeta Fernando Pessoa e o astrônomo Carl Sagan, sob mais de 500 verbetes. Com essa fórmula, os autores criaram novo contexto para as citações, permeado pela maldade e humor ferino.

Como surgiu a ideia do livro?

O Fabio tinha uma coleção de citações que acumulou e queria publicar. Propus organizar de forma diferente para ter alguma personalidade. Então surgiu a ideia de um tema unificador e do verbete. Isso permite fazer uma releitura das sabedorias clássicas e criar um diálogo com as coisas da atualidade. Incorporamos falas das autoridades do nosso tempo e, então, trouxe a minha coleção, um acervo de frases de Machado de Assis e Fernando Pessoa. Deu liga. O noticiário era avassalador, todo dia nos falávamos, “olha só o que apareceu é inacreditável”. A coletânea tem curadoria e nós, os organizadores, estamos ali muito visíveis, opinando sobre as coisas.

Por que o nome Antologia da Maldade se o livro é cheio de humor?

Maldade nos pareceu melhor do que malícia. Maldade virou uma linguagem usada no noticiário econômico. O saco de maldades é o conjunto de instrumentos que as autoridades dispõem para fazer a sua política econômica funcionar quando alguém não está cooperando.

Qual a associação mais ilícita do livro?

Tem uma frase muito clichê do Voltaire, filósofo francês, sobre a defesa do direito da liberdade de expressão. A graça foi colocar esta frase dentro do verbete “controle da mídia” e não no verbete “liberdade”. Esse tipo de associação ilícita está distribuído pelo livro inteiro.

As frases da presidente Dilma aparecem em diversos verbetes…

Elas são encontradas nos verbetes mais inesperados. Lembro da fala sobre o ET de Varginha (“Tenho muito respeito pelo ET de Varginha”, disse Dilma, em 2013), que está no verbete “alienígena” junto com uma frase do Carl Sagan sobre a inexistência de vida extraterrestre. O livro não é gentil com a presidente porque as falas (dela) em geral não elevam o espírito.

Que frase representaria melhor o governo e a política econômica atual?

A frase de um argentino sobre a política econômica de seu país: “as autoridades acham que o leite vem da geladeira”. Isso explica muito bem a política econômica de Dilma Rousseff.

E sobre o Lula?

Tem algumas frases do Lula na campanha de 1989:”No Brasil é assim: quando um pobre rouba, vai para a cadeia, mas quando um rico rouba ele vira ministro”. Isso dito em 1989 é uma coisa. E dito hoje em dia, depois de ele ser presidente, com ministros acusados e condenados por corrupção, tem coloração totalmente diferente. Ele fala muito, há muito tempo, e o peixe morre pela boca.

Sobre o câmbio há a citação: “O câmbio foi inventado por Deus para humilhar os economistas. Nunca se sabe para onde ele vai”…

É uma frase do economista Edmar Bacha. Fizemos com os economistas uma coisa meio malvada. Colocamos verbetes como “Groucho-marxismo” e sob ele vários economistas falando coisas que se ouve no noticiário. Mas brincar com a capacidade de errar previsões ou com a linguagem dos economistas quase não tem mais graça. É bater em bêbado.

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