A notícia sobre o “mal da vaca louca” ecoou como um urro fora de hora no meio rural brasileiro, sobretudo em Goiás. Por algum tempo, prevaleceu a dúvida. Houve inclusive quem pensasse em fake news. Mas, não demorou muito para o Ministério da Agricultura e Pecuária confirmar na noite de quarta-feira (22) um caso de encefalopatia espongiforme bovina em um animal macho de nove anos numa pequena propriedade em Marabá (PA), levando à suspensão temporária das exportações de carne bovina brasileira para a China.
“Foi feito o comunicado à Organização Mundial de Saúde Animal e as amostras foram enviadas para o laboratório referência da instituição em Alberta, no Canadá, que poderá confirmar se o caso é atípico”, disse o Mapa em nota.
Ante a confirmação das suspeitas de vaca louca, ações dos principais frigoríficos brasileiros desabaram no último pregão, com investidores desmontando posições no setor. As quedas superaram 4%. As ações da Minerva (BEEF3), mais dependente da exportação de carne para a China, sofreram maior impacto, fechando o último pregão em queda de 7,92%.
Goiás tem um rebanho de aproximadamente 22 milhões de bovinos e existem quatro frigoríficos que exportam para a China. De acordo com dados do Instituto para o Fortalecimento da Agropecuária de Goiás (Ifag), em 2022 as exportações de carne brasileira para o país da Ásia Oriental, representaram 67%, equivalente à carcaça. Somando um total de 8 bilhões de dólares. No Estado, 1,43 bilhão de dólares.
De acordo com o analista do Ifag, Marcelo Penha, os impactos para a economia goiana trazidas pela suspensão temporária das exportações para o país pelo mal da "vaca louca" depende da oferta de mercado. “Vai depender muito da reação do produtor. Se ele continuar ofertando na mesma quantidade de animais para abate, a arroba pode cair sim. Nacionalmente a China representa aproximadamente, 10% de todo o processamento da carne bovina”, explica.
O produtor Gilson Costa não se conteve e resumiu: “O que já estava ruim vai ficar pior ainda”. Diretor da Associação Goiana dos Criadores de Zebu (AGCZ), Kowalsky Ribeiro, já sentiu as consequências. Segundo seu depoimento, os preços já sofrem queda. Na praça de São Luís de Montes Belos o macho de 24 meses foi cotado entre Cr$ 2.000/2.200. Fêmea de 24 meses a 1500/2000. Valor menor que R$1000 por cabeça em um ano, “sem o bloqueio que terá impacto agora”, observa.
Kowalsky acrescenta ainda que “estamos vindo de uma seca grande, com águas intensas na última estação. Estamos todos sem pasto. Não existe a alternativa de manutenção dos animais. A realidade do pecuarista agora é realizar o prejuízo.” E conclui: - É uma informação de desalento no ciclo da pecuária. Bem realista é desprovida de esperança em curto prazo. Como em toda atividade, temos nossas baixas e, teremos que conviver com o prejuízo momentâneo.
Medidas oficiais
O animal, criado em pasto, sem ração, foi abatido e sua carcaça incinerada no local. O Mapa disse que o serviço veterinário oficial brasileiro está realizando a investigação epidemiológica que poderá ser continuada ou encerrada de acordo com o resultado.
“Todas as providências estão sendo adotadas imediatamente em cada etapa da investigação e o assunto está sendo tratado com total transparência para garantir aos consumidores brasileiros e mundiais a qualidade reconhecida da nossa carne”, disse o ministro Carlos Fávaro.
Segundo o protocolo sanitário oficial, quando um caso de EEB é identificado no Brasil, as exportações para a China são suspensas temporariamente até que o governo brasileiro envie informações sobre o ocorrido às autoridades chinesas para análise.
O Mapa disse que o diálogo com as autoridades chinesas está sendo intensificado para demonstrar todas as informações e possibilitar o pronto restabelecimento do comércio da carne brasileira. Na última ocasião em que casos atípicos de EEB foram identificados no Brasil, em setembro de 2021, as exportações de carne bovina brasileira para a China ficaram suspensas por quatro meses.