Economia

Pesquisa revela que 77% dos brasileiros veem o país como muito desigual

Léo Carvalho

Publicado em 9 de setembro de 2025 às 10:40 | Atualizado há 6 horas

Maioria da população percebe grande disparidade no Brasil. Apenas 2% dos brasileiros não percebem desigualdade no país | Ilustração: Pinterest
Maioria da população percebe grande disparidade no Brasil. Apenas 2% dos brasileiros não percebem desigualdade no país | Ilustração: Pinterest

Uma parcela de 77% dos brasileiros considera que o país é muito desigual, enquanto uma fatia de 2% acha que não há disparidades. As conclusões são de uma pesquisa divulgada nesta terça-feira (9) pelo Observatório Fundação Itaú.

As razões mais citadas de forma espontânea para a existência de disparidades foram ausência de políticas públicas (24%) e questões relacionadas à má gestão pública (18%). Na sequência, vieram corrupção (12%), falta de emprego/desvalorização da mão de obra (10%), discriminação (9%) e aspectos sociais, como desunião, desonestidade ou falta de respeito (9%). Apenas 7% atribuíram o problema à má distribuição de renda.

Segundo o estudo, o percentual daqueles que colocam o país como muito desigual é maior entre mulheres (82%), classes sociais C (78%) e D/E (77%), pessoas com ensino fundamental incompleto ou completo (79%) e grupos mais velhos (81% entre a faixa de 45 a 59 anos e 80% entre a de 60 anos ou mais).

Morro Santa Marta-RJ no contraste entre riqueza e pobreza no Brasil, onde poucos concentram muito e muitos têm quase nada | Foto: Ratao Diniz/Getty Images

A pesquisa teve apoio técnico e aplicação da empresa de consultoria Plano CDE e do Datafolha, conforme o Observatório Fundação Itaú. O estudo se chama “Percepções sobre as desigualdades no Brasil”.

Desafio

Na avaliação do presidente da Fundação Itaú, Eduardo Saron, a população sabe que a desigualdade é um “enorme desafio” e que a educação e o trabalho são caminhos para superá-la. O que falta, segundo ele, é a “engrenagem coletiva” atuar em prol de resultados concretos. Essa questão envolve governos, empresas, sociedade civil e cidadãos.

“Cada um tem um papel que não dá para terceirizar. Os governos precisam garantir políticas públicas efetivas intersetoriais, sistêmicas, que não mudem somente porque o governo mudou”, afirma Saron.

Já as empresas, aponta, podem ir além dos negócios e ampliar seus impactos com investimentos em inclusão produtiva, diversidade, inovação social e iniciativas que valorizem a cultura e a comunidade onde estão inseridas.

“E nós, como indivíduos, também temos força. É nosso papel exercer pressão cidadã, cobrar direitos, exigir transparência e participar ativamente das iniciativas do território em que vivemos”, acrescenta presidente da Fundação Itaú.

O levantamento analisa a percepção sobre a origem das desigualdades em três frentes: culturais, estruturais e históricas. Na parte cultural, a pesquisa indica que 76% concordam totalmente com a leitura de que a impunidade nos casos de corrupção contribui para a manutenção das disparidades.

Do lado pobre ao lado rico, o abismo social entre Paraisópolis e Morumbi | Foto: C_Fernandes/Getty Images

Nos quesitos estruturais, 70% avaliam que as leis beneficiam os mais ricos e que o funcionamento da economia favorece poucos e prejudica muitos. Em termos históricos, 47% dizem concordar plenamente com a ideia de que as desigualdades raciais existem por causa do passado do Brasil e 44% com o entendimento de que as pessoas negras têm hoje menos oportunidades de estudo e trabalho devido à escravidão. Os percentuais, contudo, são inferiores aos das outras origens.

Privilegiados pela cor

A pesquisa aponta que a maior parte dos brasileiros acredita que brancos têm mais acesso a oportunidades e serviços do que negros, com destaque para acesso ao mercado de trabalho (68%), a boas escolas (63%) e a bairros de melhor infraestrutura (60%).

Ainda de acordo com a pesquisa, 55% consideram que homens têm mais chances de ocupar empregos com bons salários se comparados a mulheres.

Para 79% dos brasileiros, investir na educação pública é essencial para diminuir a desigualdade de renda, diz o estudo.

Também há concordância com a visão de que a ausência de investimentos em educação contribui para a manutenção do ciclo de pobreza intergeracional (59%).

Formato da pesquisa

A pesquisa envolveu etapas qualitativa e quantitativa. A primeira foi realizada de agosto a setembro de 2024, em cinco capitais (Belém, Cuiabá, Recife, Curitiba e São Paulo) e com 150 pessoas, distribuídas em 50 tríades com variações de classe, gênero, raça, idade e localidade (rural ou urbana).

Já a etapa quantitativa foi realizada em junho de 2025. Contou com uma amostra nacional de 2.787 entrevistados, representativa da população de 18 anos ou mais. A margem de erro é de 2 pontos percentuais para mais ou para menos, com nível de confiança de 95%.

O levantamento sinaliza que 6 em cada 10 brasileiros começaram a trabalhar antes dos 18 anos. Apesar da alta percepção de que começar a trabalhar cedo ajudou a vida profissional (62%), 34% consideram que os estudos foram prejudicados, o que é maior entre classes mais baixas (51% na classe D/E) do que nas mais altas (13% na classe A).

(FOLHAPRESS/LEONARDO VIECELI)


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