Pautando o compartilhamento e o diálogo como pontos principais, o Coletivo Babilônia trabalha para a construção de uma realidade diferente. Uma das iniciativas do Babilônia é o evento “Ponta de Lança”, focado no protagonismo negro. As atividades serão divididas em dois momentos, nos dias 8 e 9 de dezembro de 2017. No primeiro dia será ambientado no cinema do Espaço Sonhus, localizado no Centro de Goiânia, com filme e mesa-redonda. O segundo dia será no espaço do Babilônia, em Aparecida de Goiânia, e envolve exposição de obras e música.
O projeto “Ponta de Lança” é promovido pelo Coletivo Babilônia, focado no protagonismo negro, tendo como base a realidade do racismo estrutural brasileiro. Promove um diálogo sobre vivências e busca construir parâmetros para a inclusão periférica no cenário sociocultural, pensando em representatividade e nos mecanismos existentes para reverter condicionamentos sociais. O coletivo é voltado para a produção cultural e artística, é composto por mulheres que idealizam o cenário de produção artística goiano menos centralizado.
O coletivo nasceu em fevereiro deste ano e no mês seguinte já realizava seu primeiro evento chamado “Gaia na Babilônia”. O evento era voltado para o protagonismo feminino. O coletivo foi formado por cinco mulheres que de alguma forma participavam do cenário periférico ou entendiam o mínimo das suas necessidades, desde a vivência singular à sensibilidade pela causa. “Hoje somos duas, eu (Lara Jordana) e a Ilâne, no centro da babilônia, mas depois de uns seis meses fazendo os corres percebemos o verdadeiro significado do que é coletivo. A Babilônia é feita por um monte de outras pessoas, tem mãe, tem pai, tem muitos amigos, tem professores, enfim, tem muita gente que tem observado nossas iniciativas e botado fé no nosso rolê e ajudado a gente a levar pra frente”, relata Lara Jordana Brandão, uma das idealizadoras do coletivo.
Cabe às pessoas ocupar todos os espaços da cidade, inclusive as partes centrais, mas também é importante habitar e construir nas periferias, como ressalta Lara Jordana: “A ideia principal da Babilônia é descentralizar, como diz a Ilâne, ‘Desloque o Centro’, é nosso maior desafio, levar as pessoas que estão acostumadas a frequentar certos ambientes culturais elitistas para zonas periféricas, que tenham pouca visibilidade, é difícil, mas não pode ser impossível. E muito mais que levá-las até lá, é dar visibilidade pra galera que já está ali, fazendo a cena acontecer, a Babilônia, por exemplo, permanece graças às pessoas da região que frequentam nosso ambiente e valorizam as nossas propostas.”
Lara Jordana fala a respeito de iniciativas que abordem cultura e estética negras na luta contra o racismo: “Projetos que envolvam a estética negra são essenciais, ainda mais do lugar de fala em que estou, eu como mulher negra fico muito feliz em poder de alguma forma movimentar as pessoas a pensarem sobre isso, e apesar de não ser só esse o enfoque da Babilônia. O evento ‘Ponta de Lança’, que começa hoje, lá no Sonhus, por exemplo, vai dar destaque pra galera preta que tem muito pra ensinar e ser valorizada, e a nossa missão vai ser ceder o espaço, e aprender com elas.”
Lara fala também sobre o progressivo movimento da periferia como espaço artístico: “Os movimentos periféricos têm ganhado força sim, às vezes bate um certo desânimo porque não podemos negar que as pessoas ainda são muito acomodadas, e mistificam muito em relação ao que podem encontrar fora das regiões de conforto mais comum, onde as discussões acontecem, como no próprio centro de Gyn, Setor Sul, Universitário e derivados. Mas quando a gente olha com um pouquinho de positividade, que seja, a gente já vê muito rolê foda tendo visibilidade. Tem o Rimanação, que surgiu, se não me engano, na Cidade Livre, em APGO; a própria Babilônia, no Garavelo. Uma galera tem se organizado em outros coletivos em Goiânia e vem fazendo a cena acontecer no bairros Novo Mundo, no Itatiaia, no Parque Amazônia, enfim. Aos poucos essa galera vai gritar bem alto e vai ser impossível dos ditos burguês desconstruídos, ‘classe média sofre’, não enxergarem a gente (risos). É óbvio que a gente vai ter que ralar e o esforço vai vir da coletividade que enxerga as reais necessidades dos lugares em que vivem, e aos poucos vamos ocupando os espaços e nos deslocando.”
Duas Vezes Senzala
O filme retrata a vida de pessoas LGBT's negras, suas vivências e suas experiências ao se assumirem. O documentário percorre entre entrevistas que explanam a vida dessas pessoas crescendo em uma sociedade LGBTfóbica e racista. O objetivo do filme não é só abordar a discriminação que essas pessoas sofrem dentro da nossa sociedade, mas também dentro da própria comunidade LGBT que, infelizmente, ainda reverbera comportamentos racistas e preconceituosos. Esse documentário tem como busca uma discussão aberta e construtiva sobre raça, identidade de gênero e orientação sexual, explorando meios e formas de quebrar comportamentos LGBTfóbicos e racistas que ainda permeiam nossa realidade social.
Programação:
PONTA DE LANÇA, 8 E 9 DE DEZEMBRO
Sexta 8/12 - Espaço Sonhus (Rua 18, esq. c/ 21, nº 10, Setor Central - anexo ao Colégio Lyceu)
Sábado 9/12 - Coletivo Babilônia (Rua 138-A, esq. c/ 138, Qd. 18, Lt. 26, Jardim Tropical - Aparecida de Goiânia)
PROGRAMAÇÃO SEXTA-FEIRA (8/12)
Horário: 17h
Local: Espaço Sonhus (cinema)
Entrada: Gratuita
EXIBIÇÃO DE CURTAS-METRAGENS
Título: Duas Vezes Senzalas
Doc / 25min / Goiânia-GO / 2017
Direção: Gustavo Pozzatti
Título: Em busca de Lélia
Doc / 15min / Cachoeira-BA / 2017
Direção: Beatriz Vieirah
Título: Rapsódia para o Homem Negro
Ficção / 25min / Contagem-BH / 2015
Direção: Gabriel Martins
MESA REDONDA
“Deslocamentos: Representatividade negra, mecanismos de inclusão periférica e dificuldades de alcance.”
Mediação: Ana Lúcia Lourenço
Mesa: Dalton Paula (artista plástico), Ellen Rocha (acadêmica de Direito), Larissa Neves (acadêmica de Ciências Sociais), Camila Ribeiro (acadêmica de Dança)
PROGRAMAÇÃO SÁBADO (9/12)
Horário: 20h
Local: Coletivo Babilônia
Entrada: R$ 10,00
EXPOSIÇÃO COLETIVA
Raquel Rocha, Talita Reis, Luiz Fernando Brito, Hariel Revignet, Mayara Varalho, Leticia Braga
RODA DE COCO
Coco Fugido
DJS
Barats (black music, soul funk, hip-hop e brasilidades)
Black Sisters – Lila e Lili Arruda (funk)
OFICINA DE TURBANTE
A oficina será ofertada pela Raquel Rocha, que ensinará amarrações durante o evento. A participação inclui a aquisição de turbante maravilhoso.