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O resgate de Júpiter Maçã

Com traços de psicodelia sessentista e da jovem guarda, o primeiro ál­bum solo de Júpiter Maçã, “A sé­tima efervescência” (1997) exibe toda a explosão criativa do artis­ta gaúcho. No trabalho, resulta­do de um processo delicado de concepção, produção e grava­ção, Júpiter experimenta ritmos, texturas e letras que, carregadas de uma sensação constante de não-pertencimento, esboçam os conflitos internos, delírios, paixões e experiências lisérgi­cas de uma mente enigmática, fora da órbita do planeta Ter­ra. O músico, falecido em 2014, completaria 50 anos em 2018, e um de seus desejos era ver sua obra remasterizada. Na tarde da última segunda-feira, a grava­dora goianiense Monstro Discos anunciou o lançamento em vi­nil de “A sétima efervescência”, dando início a esse processo.

O responsável pela remas­terização é o próprio Egisto dal Santo, que produziu “A sétima efervescência” nos anos 90. De acordo com informações do jor­nalista cultural Roger Lima, as gravações do álbum foram reali­zadas nas madrugadas de agos­to de 1996, entre meia-noite e 8 da manhã. Para chegar ao re­sultado final, que conta com 14 músicas, distribuídas ao longo 1h e 3 minutos, foram necessá­rias mais de 200 horas de estú­dio. “A sétima efervescência” é considerado um dos discos de maior importância para a mú­sica gaúcha e para o rock bra­sileiro. Em 2007 foi eleito por mais de 50 músicos e produ­tores como o álbum mais im­portante da música gaúcha. No mesmo ano ficou entre os 100 mais da música brasileira, em publicação da revista Rolling Stone Brasil.

A prensagem é limitada a mil cópias, e de acordo com o relea­se da gravadora, 300 delas pos­suem vinil colorido de azul e acompanha encarte com letras e fotos inéditas da época. É o pri­meiro volume da chamada Série de Ouro da Monstro Discos, que tem como objetivo disponibili­zar vários outros álbuns impor­tantes para a música brasileira, como declarou Léo Bigode, pro­dutor do selo. “Trata-se de um resgate de discos raros ou fora de catálogo, para os quais, hoje em dia, há um buraco no merca­do”. Em publicação do produtor no Facebook, a gravadora reve­la o caminho da remasterização do álbum. “O disco foi gravado em sistema analógico 24 canais 2 polegadas. Mixado em sistema analógico. Agora remasteriza­do em sistema analógico (con­sole MCI)”.

O ARTISTA

Apesar de ter seu primeiro disco solo lançado apenas em 1997, Flávio Basso – nome de batismo de Júpiter – é uma das mentes mais influentes no de­senvolvimento do rock do Rio Grande do Sul. As bandas TNT (1986-2007) e Os Cascavelletes (1986-1992) são consideradas essenciais para o desenvolvi­mento do rock gaúcho. As me­tamorfoses Cristiano Bastos, autor de matéria publicada em 2007 na Revista Aplauso – na ocasião, “A sétima efervescên­cia” foi eleito o melhor álbum do rock gaúcho por 50 especia­listas. “No regresso de uma jor­nada relâmpago pelo folk dy­lanesco, no começo da década de 90, como Woody Apple, o compositor Flávio Basso inau­gurou sua fase elétrico-psico­délica ao empunhar novamen­te guitarra e assumir a alcunha de Júpiter Maçã”, afirma.

Bastos fala ainda do impac­to da estética de Júpiter na cena local. “Em Porto Alegre, o im­pacto de “A sétima eferves­cência” extrapolou as esferas musicais e passou a ditar mu­danças de caráter visual: des­de então, as ruas da capital (e do bairro Bom Fim em espe­cial) foram tomadas de assal­to por um esquadrão de jovens metidos em terninhos de bre­chó e penteados beatle. Muitos formaram bandas que emulam as referências mod resgatadas do túnel do tempo por Júpiter Maçã”. Roger Lima resgata em seu site alguns nomes que com­põem o time do álbum. “Júpi­ter contou com dupla de músi­cos irmãos Glauco e Emerson Caruso, que tocaram bateria e baixo, respectivamente, em todas as faixas, além das sofis­ticadas orquestrações arranja­das por Marcelo Birck e parti­cipações especiais de artistas como Frank Jorge”.

Além do clássico de 97, Jú­piter lançou outros três discos. Nenhum deles apresentava sim­plesmente mais do mesmo. Em “Plastic Soda” (1999), onde as­sumiu a persona Júpiter Apple, passou a compor em inglês e ex­perimentou combinar elemen­tos psicodélicos com bossa nova e jazz, o que deu a ele maior visi­bilidade internacional. “Hisscivi­lization” (2002), pico experimen­tal da carreira de Júpiter, que traz um clima de calmaria e paranoia desenvolvido através de longas experimentações eletrônicas. Por fim, o esperado “Uma tar­de na fruteira” (2008) – conside­rado pelos críticos seu trabalho mais acessível – traz clássicos como A marchinha psicótica de Dr. Soup. Em 2009 lançou o sin­gle Modern Kid, acompanhado por um clipe.

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