No dia 3 de março de 2017, numa Venezuela tomada por protestos e embates entre oposição e o governo Nicolás Maduro, o fotógrafo Ronaldo Shemidt registrou a imagem vencedora do concurso Word Press Photo, uma das mais prestigiadas premiações fotográficas do mundo. Nela, o manifestante José Víctor Salazar aparece com as roupas em chamas depois da explosão de uma motocicleta durante ato em Caracas, capital do país. Salazar, que sobreviveu ao incidente com queimaduras de primeiro e segundo grau (teve 70% do corpo queimado). No último dia 13, Ronaldo Shemidt esteve em Amsterdam para participar da cerimônia de premiação. “Meus pensamentos seguem com José Víctor Salazar, cada vez que vejo essa imagem sinto sua presença”, declarou.
De acordo com o júri do concurso, o registro de Shemidt representa simbolicamente “um país em chamas”. Durante o evento, o fotógrafo disse admirar “os valores” dos manifestantes que acompanhou durante a cobertura dos protestos de 2017. “Eles enfrentaram corporações armadas e veículos blindados sem nada mais que pedras, garrafas e escudos de madeira”. Shemidt manifestou sua solidariedade a Salazar, desejando uma completa recuperação física e psicológica. A foto de Shemidt venceu outras cinco indicadas que retratam o atentado de Westminster, em Londres; uma vítima do grupo terrorista Boko Haram na Nigéria; o drama dos refugiados em Myanmar e dois registros espontâneos da libertação de Mosul do Estado Islâmico, liderado por forças iraquianas.
CONTEXTO
A imagem premiada retrata o momento em que José Víctor Salazar, de 28 anos, corre envolto por chamas ao ser alcançado por um jato de gasolina. O combustível veio de uma moto pertencente à Guarda Nacional Bolivariana. O veículo foi capturado e incendiado pelos manifestantes com um coquetel molotov. Salazar teve o corpo alcançado pelas chamas quando um outro manifestante rompeu o tubo de combustível da moto com um objeto cortante. No momento do clique, Salazar procurava ajuda para apagar o fogo de seu corpo. Ele corre com uma máscara de gás. No fundo da imagem, um pequeno graffiti mostra um revólver apontado para a palavra “paz”. A vítima das chamas passou correndo ao lado do fotojornalista, e segundos depois se atirou no chão e recebeu ajuda de outros manifestantes para apagar o fogo.
A onda de protestos na Venezuela teve começou em janeiro de 2017, depois da prisão de vários líderes da oposição e do cancelamento do diálogo entre os opositores e o governo de Nicolás Maduro, que assumiu a presidência do país em 19 de abril de 2013, pouco menos de um mês antes da morte do ex-presidente Hugo Chávez. Várias outras medidas tomadas por Maduro para impedir o avanço da oposição fizeram com que a intensidade dos combates aumentasse gradativamente. Desde então, os números oficiais apontam a morte de 165 opositores, além de 4848 prisões e mais de 15 mil pessoas feridas. A crise na Venezuela tem provocado um êxodo do país. Mais de 40 mil venezuelanos cruzaram a fronteira com o Brasil e estão no estado de Roraima.
O CORCURSO
De acordo com o site do World Press Photo, a principal missão do concurso é “conectar o mundo com histórias que importam”. Os princípios básicos do concurso são precisão, transparência e diversidade. “Nós mostramos histórias que fazem as pessoas pararem, sentirem, pensarem e agirem. Encorajamos diversos relatos do mundo que apresentam diferentes perspectivas. Exibimos essas histórias para uma audiência mundial, incentivando o debate sobre seus significados”, explicam os curadores do evento. Para o concurso de foto do ano, vencido por Ronaldo Shemidt em 2018, as inscrições foram abertas em dezembro do ano passado. Os indicados foram anunciados em fevereiro, e o evento de premiação realizado entre os dias 13 e 14 de abril.
Analisando o histórico de imagens premiadas como Fotografia do Ano no World Press Photo, observa-se que a tendência é divulgar o impacto negativo dos conflitos políticos e ideológicos na vida das pessoas. O concurso tem sede em Amsterdam, nos Países Baixos, e foi criado na década de 1950. “Em 1955, um grupo de fotógrafos holandeses organizaram um concurso internacional para expor seu trabalhoaumaaudiênciaglobal. Desde então, o concurso se transformou na competição de fotos mais prestigiosa do mundo, introduzindo as histórias vencedoras para milhões de pessoas”, diz o site do concurso. “Por seis décadas, a World Press Photo Foundation tem trabalhado de sua casa, em Amsterdam, como uma organização crativa, independente e sem fins lucrativos”.
Nesta página, o leitor confere algumas outras fotografias que participaram do concurso, que discute temas atuais como a crise de r e f u giados em várias partes do mundo, transsexualidade, Coréia do Norte, entre outros.