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A democracia corintiana em tempos nebulosos

Amigo boêmio, faz quase sete anos que Doutor Só­crates partiu desta para uma melhor. Craque dentro e fora dos gramados, ele se foi num dia em que o Timão conquistou o Brazuca de 2011 em cima do rival Palmei­ras–que dia, que memória, que jogo! Como bom corintiano, não careço de datas simbólicas para celebrar a memória do ídolo da Democracia Corintiana. Muito pelo contrário, o doutor está presente em nós, pobres seres inconformados.

É, doutor, segue esta singela epís­tola saudosista: amo-te para sem­pre, e sempre te amarei, eterno ca­misa 8 da Fiel, ilustre calcanhar de ouro, ainda que estejamos vivendo sob a ameaça do fascismo. Tu fos­te responsável, acredite, pela mi­nha conscientização política; tu fos­te capitão daquele timaço de 82; tu eras um exímio intelectual da pele­ja, mas antes de morrer andava de saco cheio com o futiba jogado nos campinhos das terras tupiniquins – um saco mesmo, bota saco nisso!

Pois é, não mudou nada des­de tua partida, doutor, tudo segue à mesma cartilha. Como bem sa­bes, o banco de louco conquistou três Brasileirões e uma Libertado­res – ah, sem falar na invasão de Tó­quio, que deixara para trás aquela épica cena de o Maracanã tomado pela torcida alvinegra, em 1977. Só o banco de louco mesmo.

Aliás, torcida que te venera, que te estendeu uma faixa no Pa­caembu na época em que mor­reste, que coisa linda.

Ah, sabes quem vazou da CBF? Advinha: o tal do Ricardo Teixeira. E mais: o sucessor dele, José Ma­ria Marin, que andava abraçado com os milicos na época dos anos de chumbo e pagou de dedo duro, entregando o jornalista Vladimir Herzog, em 1975, agora está na mira da justiça estadunidense.

Entretanto, a corja teima em bater na tecla de que são hones­tos, e nunca, nunca mesmo, pas­me, receberam quaisquer tipos de propina, mesmo o noticiário internacional tendo revelado tra­moias cabeludas deles. Magrão, é um falatório mais do que can­sativo, já que há provas e mais provas de que eles estão enrola­dos até o pescoço.

Mil e uma desculpas, old friend, ops não tu curtes esta por­ra de inglês, né?, porém nada mu­dou por aqui. Menos mal: o in­consciente coletivo está animado com a Copa do Mundo no ano que vem. Também, pudera.

Em casa, fomos humilhados pela Alemanha e choramos lágri­mas de desespero diante das câ­meras televisivas de todo o mun­do. Uma cena bárbara, digna de um Raymond Chandler, para teres uma ideia, doutor. Tio Nelson, melhor cronista esportivo de todos os tem­pos, deve estar entristecido.

Magrão, esta bola tu cantas­te há anos, visto que nosso futiba estava mergulhado numa penum­bra que deixaria o mestre Reginal­do Rossi, eita coisa boa!, com uma puta inveja. Mas, acreditas, o Es­tádio do teu Timão tornou-se um shopping Center.

Fazes muitas faltas, doutor, sem­pre iremos te saudar com o clássico de Sérgio Bittencourt, eternizada na voz do mestre Nelson Gonçalves: “Naquela mesa tá faltando ele/ e a saudade dele está doendo em mim”

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