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ENTRETENIMENTO

Morte ao velho romance

O nouveau roman (em por­tuguês, novo romance) é um estilo literário fran­cês surgido nos anos 1950 como proposta de narrativa diferente dos gêneros clássicos. O termo foi proposto pelo escritor Émile Hen­riot no jornal Le Monde em 1957, para descrever o trabalho de al­guns escritores que experimenta­ram estilos a cada nova publica­ção, criando essencialmente um novo método a cada nova obra. Distanciando-se das convenções do romance tradicional, criadas antes do século XIX por escritores como Honoré de Balzac ou Émile Zola, o Novo Romance busca uma arte consciente de si mesma. En­tre os nomes de destaque do mo­vimento estão Alain Robbe-Grillet, Nathalie Sarraute, Claude Simon, Michel Butor, Marguerite Duras, entre outros.

Dentre as características do nouveau roman está a postura do narrador, notavelmente in­terrogativa: os lugares por onde ele passa são intrigantes e ele questiona o porquê dos aconte­cimentos corriqueiros. O enredo e o protagonista, que geralmen­te comporta-se como a base para qualquer ficção, são relegados ao segundo plano, e possuem orientações diferentes por par­te de cada autor, que os obser­vam sob uma nova perspectiva a cada livro. Em 1956, a escrito­ra Nathalie Sarraute já questio­nava o romance e recuava suas convenções através do livro L’ere du soupçon (A Era da Suspeita). Seus romances colocam em prá­tica suas reflexões teóricas. Sua publicação mais célebre, Por­trait of a Man Unknown (Retra­to de um desconhecido), foi elo­giada pelo filósofo existencialista Jean Paul Sartre.

Alain Robbe-Grillet, um influen­te escritor e teorista do Novo Ro­mance, publicou uma série de en­saios sobre a natureza e o futuro do romance, mais tarde compila­dos na coletânea Pour un Nouveau Roman (Por um Novo Romance). Rejeitando muito do que existia estabelecido até aquele momen­to sobre romance, Robbe-Grillet analisou vários dos primeiros nove­listas, bem como os escritores foca­dos em formas de escrita pré-Sécu­lo XIX, e a forma como eles focam em ações, narrativas, ideias e perso­nagens. Em contrapartida, propôs a teoria do romance com foco em objetos. O ideal do nouveau roman seria uma versão individual das coi­sas, subordinando enredo e perso­nagens a detalhar o mundo ao invés de utilizá-lo a seu próprio serviço.

Essa visão de novela pôde ser construída através de uma práti­ca sugerida por escritores de pe­ríodos anteriores. Joris-Karl Huys­mans (1848-1907), noventa anos antes, havia sugerido que a nove­la precisava ser despersonalizada. Mais recentemente, Franz Kafka (1883-1924, austríaco, autor de li­vros como A Metamorfose e O Pro­cesso) havia mostrado que os mé­todos convencionais de descrição de personagens não eram essen­ciais. James Joyce (1882-1941, ir­landês, considerado um dos ar­tistas mais importantes do século XX) demonstrou a mesma postu­ra em relação ao enredo. Por ou­tro lado, os chamados escritores absurdistas também já empenha­vam-se em tratar dos temas suge­ridos pelo Novo Romance.

RECONHECIMENTO

Alain Robbe-Grillet tornou-se membro eleito da Academia Fran­cesa em 25 de março de 2005, suce­dendo Maurice Rheims na cadeira de número 32. Claude Simon, autor do livro O Bonde, e também identi­ficado como colaborador essencial do movimento Novo Romance, foi condecorado com o Prêmio Nobel da Literatura de 1985. Michel Butor, que morreu em 2016, aos 89 anos, foi considerado durante vários anos o escritor vivo mais importante da França. Seus romances dinâmicos tem atraído novos apreciadores do estilo. Dois deles, Passagem de Mi­lão (1954) e O Inventário do Tempo (1956), foram publicados no Brasil. Atualmente, os livros publicados pela editora Les Éditions de Minuit, que publicou originalmente vários romances do estilo, são considera­dos difíceis de encontrar.

O Novo Romance também re­verberou na América Latina. Um dos escritores mais importantes da argentina, Julio Cortázar absorveu bastante daquilo que foi proposto na França nos anos 1950, e publi­cações como Todos os fogos o fogo e O jogo das amarelinhas, conside­rados clássicos de sua obra, apre­sentam ao público várias das pre­missas do Novo Romance. O estilo também deixou sua marca nos ci­nemas, a partir da participação dos escritores Marguerite Duras e Alain Robbe Grillet no movimen­to cinematográfico Left Bank (liga­do à Nouvelle vague de diretores como François Truffaut e Jean-Luc Godard). A colaboração dos es­critores com o diretor Alain Res­nais resultou nos filmes Hiroshima mon amour (1958) e Ano passado em Marienbad (1961), ambos acla­mados pela crítica.

Mais especificamente, o movi­mento Left Bank propunha uma espécie de Lado B aos cineastas famosos e bem financiados do movimento Nouvelle vague, to­dos eles associados à publicação Cahiers du cinemá (revista espe­cializada em cinema publicada desde 1951). Diferente dos direto­res ligados à revista, tinham uma visão menos catártica do cinema, e apresentaram mais nuances li­terárias que seus colegas, apesar de serem associados à novelle va­gue, de uma forma geral, pelas propostas de prática cinemato­gráfica e modernismo. Os prin­cipais diretores do movimento são Alain Resnais, Chris Marker e Agnès Verda. Os principais tí­tulos foram produzidos nos anos 1950, e atingiram o público jovem como audiência principal.

ESPAÇO METAFÓRICO

J.M. Dinis, autor do blog Um Canto de Babel, faz uma análise sobre as cidades metafóricas pre­sentes nos livros. No artigo ‘Algu­ma literatura e algumas cidades’, ele aborda a maneira como os autores descrevem o espaço onde aconte­cem suas histórias. “E há também as cidades que não representam apenas metáforas, mas que estão definitivamente incorporadas à poética do escritor. É o caso da Du­blin de Ulisses, do irlandês James Joyce, ou da Buenos Aires mítica que percorre vários contos de Jorge Luís Borges”, afirma. No mesmo tex­to, o autor faz referência à obra de Michel Butor. “Ou do personagem central de Inventário do Tempo, de Michel Butor, em que toda uma to­pografia é criada por meio de pala­vras, o que torna a cidade de sonho quase palpável”, conclui.

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