Enquanto no Brasil a primavera acaba de dar as caras, a Inglaterra é marcada pela chegada do outono, e com ele, árvores despidas de folhas, uma estação de transição, mas seria essa transição apenas no que se refere às estações do ano?
Para Sueli Lopes de Oliveira, escritora brasileira que mora em Londres, todos passamos por esse processo de transição, ou, como ela mesma diz: "é o processo de desnudar-se de todo o peso e abraçar o novo que chega". E é através dessa abordagem que Sueli lança seu livro, entitulado "Nossos outonos: a arte de desnudar a vida e a escrita".
De origem goiana, Sueli possui fortes laços com o mundo da escrita, desde criança é fascinada pela leitura. Em uma escola de pau-a-pique funada por sua mãe, aprendeu a ler e a escrever, mais tarde, tornou-se "escrevedora" e leitora dos alunos da comunidade, que eram desprovidos de alfabetização.
Sueli se mudou para Goiânia, onde formou-se em Letras na Universidade Federal de Goiás, e acabou atuando como professora na intituição. Ela lecionou também na Pontifícia Universidade Católica de Goiás e em escolas municipais de Goiânia, além de ter desenvolvido projetos culturais junto a instituições que trabalhavam com menores infratores.
Em 2000, em uma campanha junto à comunidade, montou a primeira biblioteca de recinto no Sindicato dos Empregados no Comércio no Estado de Goiás (SECEG).
Sua paixão por pela escrita e leitura tomou proporções ainda maiores quando ganhou uma bolsa de estudos da Embaixada da Espanha no Brasil para fazer uma pós-graduação na Universidade de Salamanca, em 2000. Três anos depois, mudou-se para Londres, onde hoje, além de trabalhar como coautora, é colunista de duas revistas, uma de Londres e outra de Goiânia.
Seu desempenho como escritora a levou para a premiação "O melhor do mundo", promovida pela revista High Profile, e é voltada para brasileiros que vivem em outros países. Ela está entre os dez finalistas na categoria "A melhor escritora brasileira - adulto".
Em entrevista exclusiva ao Diário da Manhã, Sueli afirma que a promoção da leitura tranforma a sociedade. "O conhecimento liberta. Quanto mais acessível ele for, melhor para todos", afirma.
Questionada sobre em qual momento da vida ela se encantou pela leitura e a diversidade cultural, ela diz que sua paixão pela leitura começou desde a alfabetização e aumentou quando foi morar com o avô, que lhe apresentou grandes nomes da literatura.
"A paixão pela leitura foi desde minha alfabetização. No meio de uma pobreza terrível em eu e minha família vivíamos, descobri um novo mundo: o dos livros. Essa paixão se acentuou quando morei com meu avô, que tinha uma vasta biblioteca. Após me graduar em Letras, fiz uma pós-graduação em Salamanca. Comecei a ver as histórias no meio da diversidade cultural. A entender o quanto é importante respeitar culturas diferentes, conhecê-las através de imersão mesmo".
Sueli lamenta pela falta precariedade da cultura de leitura no Brasil, visto que a literatura brasileira é riquíssima, ressalta. "É muito triste ver como os brasileiros leem (de um modo geral) cada vez menos. O momento atual é crítico", completa a escritora.

Sobre seu livro, Sueli pontua que metáforas e reflexões sobre o cotidiano possam oferecer novas esperanças. "A melhor forma de recomeçar, de receber os novos ciclos da vida é "abrindo mão" daquilo que só traz peso. Às vezes, até nossa opinião, nosso ponto de vista sobre diversos aspectos já ficou ultrapassada. Necessário se faz admitir, renovar. Isso deixa a vida mais leve".
O outono da palavra, segundo Sueli, é uma analogia entre o desnudar nas folhas e das folhas.
"Acredito que no processo da escrita de um projeto existem diferentes fases: a do silêncio, da criação, do corte e revisão, e o momento de colocá-lo no mundo. O outono da palavra, sem dúvida, é a "arte de cortar palavras", bem como ficar livre das máscaras do distanciamento no discurso".
"É possível que o inverno, metaforicamente, se identifique com a fase do silêncio (...). Já pensei em completar essa analogia com as quatro estações, mas vou deixar as demais nas entrelinhas. Gosto muito da contribuição do leitor. Clarice Lispector não exagerou ao dizer: "O melhor ainda não foi escrito, o melhor está nas entrelinhas".
O livro "Nossos outonos: a arte de desnudar a vida e a escrita", será lançado oficialmente no Consulado Brasileiro em Londres, no dia 26 de novembro. , E a partir de 12 de outubro já estará à venda na plataforma da Amazon.
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