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Round 6: a série sul coreana que entrega, nas entrelinhas, uma crítica ao capitalismo

Há duas semanas surgia no catálogo da Netflix a série "Round 6", produção sul-coreana dirigida por Hwang Dong-hyuk, que acabou despertando a atenção de muitos assinantes do streaming. Dias após sua estreia, a série se tornou sucesso e está em primeiro lugar dos Top 10 da plataforma.

Na série, 456 pessoas que passam por problemas financeiros são convidadas a participar de uma série de jogos, e o vencedor levará uma fortuna de R$ 200 milhões. A princípio, os jogos parecem inocentes, com regras das brincadeiras de infância, porém, quem perder, é literalmente eliminado.

A forma cruel como os jogadores travam uma batalha entre si em busca de dinheiro, é uma alusão a uma sociedade capitalista que incessantemente corre atrás de mais dinheiro, como investir no mercado financeiro e em criptomoedas.

A submissão dos jogadores em relação ao idealizador dos jogos, um mascarado autoritário, também nos remete a uma realidade cruel, o autoritarismo dos governos perante a população, que, assim como as personagens, são submetidas a situações insalubres para sobreviver em um mundo desigual, a realidade até parece mesmo um jogo à parte, e, infelizmente, muitos são eliminados.

Porém, o auge da crueldade é quando, em determinado jogo, aparecem os apostadores, aqueles que apostam em qual jogador vai ganhar, o que é semelhante à aposta em corrida de cavalos, e é aí que se encaixa perfeitamente a fórmula da desigualdade social, na qual a elite econômica se vale de seus luxos e entretenimento às custas dos mais vulneráveis, que correm desesperadamente atrás de dinheiro.

Por vezes, a ficção de Hwang parece indiscutível fora das telas, mas há ressalvas, inúmeros programas de televisão submetem pessoas em condição social precária a jogos estrambólicos e, caso o jogador vença tal jogo, ele leva um prêmio, ganha uma reforma em sua casa, ganha um carro 0 km. Uma espécie de "topa tudo por dinheiro".

Jogos infantis em meio a pressão do tempo e o medo da morte. (Foto: YpungKyu Park/Netflix)

Isso chegou a ser discutido entre os internautas e nos levanta um questionamento: seriam as pessoas capazes de irem além e participarem de competições sangrentas por milhões de reais?

Nos últimos anos, a ascensão de governos autoritários não deixou outra escola à população a não ser ter que lutar para sobreviver e, até mesmo, fugir do próprio país em busca de uma vida mais confortável no exterior, mas, assim como no jogo, muitos morrem no percurso. É o caso de uma brasileira que, ao cruzar clandestinamente a fronteira do México com os Estados Unidos, foi deixada para trás pelo grupo com quem estava junto e acabou morrendo de fome e sede no meio do deserto.

Devemos nos lembrar da quantidade de imigrantes que saem de países da África subsaariana com regime autoritário rumo à Europa, mas que não conseguem chegar ao seu destino ao morrerem afogadas no meio do mar que divide o continente africano e a Europa.

Tais situações se assemelham, e muito, com a ficção de Hwang, indivíduos das mais diferentes partes do mundo em busca não de um prêmio, mas sim de um lugar em que possam comer e viver livre de guerras e ditaduras, e acabam não resistindo no meio do caminho, é uma consequência do autoritarismo capitalista que põe em xeque a vida de milhões na vida real e de centenas na ficção.

Round 6 traz a tensão e a torcida para que determinadas personagens cheguem ao final do jogo, mas em suas entrelinhas há críticas profundas sobre a crueldade do ser humano e sua capacidade de brincar com vidas, literalmente, e tudo com um propósito: o dinheiro.

"Round 6" no Brasil e "Squid Game" no mundo

Controvérsias foram geradas entre os internautas sobre o título da série no Brasil, visto que nos demais países ela possui o título de "Squid Game", traduzindo para o português: "Jogo da lula", um jogo comum na Coreia do Sul. O título original se refere a uma brincadeira de infância que nos é apresentado logo no início.

De fato, o primeiro nome dado à obra foi "Round 6", sendo o "working little", um termo utilizado pela indústria cinematográfica e televisiva para intitular provisoriamente um projeto que está em andamento. Portanto, antes de ganhar o nome de "Squid Game", a série já era conhecida como "Round 6".

A Netflix afirma que a decisão de não se agarrar ao título estrangeiro se deve a motivos regionais, sabendo que "Round 6" seria mais facilmente lembrado pelo público, por memorar a cultura gamer, já que por aqui não existe uma brincadeira semelhante ao jogo da lula na Coreia do Sul.

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