“A arte precisa estar sempre em crise”
Redação DM
Publicado em 15 de fevereiro de 2018 às 23:27 | Atualizado há 6 meses
Como diretora, idealizadora do Paralelo 16, Vera Bicalho, em entrevista ao DMRevista, se mostrou contente por uma de suas “crias” ter conquistado respeito e espaço do público da cidade. “Temos espetáculos disputados e esperados pelo público, que entendeu nosso perfil inovador e criativo. Este ano, que temos como uma das novidades a entrada gratuita, pretendemos lotar todas sessões”, disse na conversa. No entanto, quando o assunto é a Quasar Cia de Dança, companhia da qual Vera também é uma das idealizadoras e diretora, ela não deixa de demonstrar ansiedade e preocupação pela saída de um edital prometido pelo Governo Estadual, no qual o Estado prometeu o grupo reconhecido internacionalmente no Estado. A espera de um ano e meio é inquietante para o um grupo como Quasar, que, apesar de não estar presente na programação deste ano, está cheia de ideias e projetos. “Estamos ansiosos para voltar aos palcos de Goiânia, ao Paralelo 16 e por fazer a alegria do Estado”, disse Vera.
ENTREVISTA VERA BICALHO
DMRevista– A arte é sempre um espelho de seu tempo. E podemos ver que a atual situação de crise política no Brasil chegou até ao esfuziante carnaval. Este engajamento e sede de liberdade contagiou esta edição da Paralelo 16? O que norteou a curadoria desta edição?
Vera Bicalho– Arte é um espelho do tempo. Estamos em uma fase bem complicada, porém a arte sempre esteve em crise. Sempre temos que ter inovações e criatividade para executar nossos projetos, independente da crise. Porém, esse ano, a curadoria foi praticamente focada nos trabalhos de grupo. Demos prioridade aos grupos locais, que vem desenvolvendo um trabalho expressivo na cidade e ganhando projeção nacional e internacional. Buscamos este perfil para que, tantoo público, como outros artistas tenham outras referências de criação, de concepção, dramaturgia, da cena da dança. São trabalhos com qualidade técnica e artística muito bem elaborados, bem concebidos e com uma estética cênica alinhada à dramaturgia, com temáticas mais provocativas e atuais, como: diversidade, sexualidade e violência. E temos espetáculos lúdicos também que vão fazer a diversão de todo público.
DMRevista– A principal novidade da mostra são os espetáculos na rua e para maiores de 18 anos. Qual é a intenção?
Vera Bicalho– Ao pensar a estrutura do projeto pensamos em como tem sido a criação dos espetáculos. OS espetáculos que têm sido oferecidos, são diversos e saem da estrutura teatros, ocupando as ruas, ocupando a arquitetura da cidade. Ocupando espaços alternativos. E isso é interessante porque leva a dança à outra dimensão. Você tem ali um público, às vezes passante, que não está esperando aquela intervenção. Então tem um elemento surpresa associado à dança e isso enriquece porque a gente faz com que aquela pessoa, em um momento do seu dia, pare para olhar. E estamos trabalhando também a formação do público. A cena em espaços alternativos são espetáculos que fazem uma outra linha de criação mais provocativa, que usam o corpo para abordagens mais polêmicas. Então são espetáculos com classificação indicativa acima de 18 anos. Não é aconselhável mesmo crianças assistirem. Mas temos os espetáculos da cena livre e aberta voltadas a todos os públicos. A proposta dessa cena noturna é isso: sair do espaço tradicional e levar para outros espaços onde já tem um público e, fazer que essa cena aconteça ali e aí você ter essa ampliação de possibilidade de espetáculos.
DMRevista– A formação de público sempre foi um dos pilares do Paralelo 16. Nestes anos de existência, vocês têm percebido melhoras neste sentido?
Vera Bicalho– Sim! Muito. É uma variável, mas está sempre aumentando. Já temos um perfil que são grupos, que são trabalhos profissionais, de qualidade. Então o público que já assistiu sabe que vai ao teatro ver uma linha de espetáculos profissionais e inovadores. E estamos percebendo nas edições, um aumento de público. E esta edição temos a preocupação da lotação seja esgotada, por termos entrada franca. Esperamos sim formar público constante de dança em Goiânia.
DMRevista– Qual é a atual situação da Quasar Cia. de Dança? Quais são os outros projetos da companhia?
Vera Bicalho– Não podemos deixar de falar da Quasar. Ela que sempre foi propulsora e anfitriã do Paralelo 16. Em todas edições era anfitriã, porque sempre participamos de festivais e sempre fomos muito bem recebidos e gostaríamos de fazer o mesmo com os grupos de fora na nossa cidade. Recebê-los com todo carinho e toda qualificação técnica os espetáculos de outros estados e países. E assim fizemos. E agora estamos aí à deriva, esperando o compromisso do governo de Goiás em apoiar a companhia. Este apoio viria através de um edital de chamamento público, para gestão da companhia do Estado. E é isso que posso falar. Estamos ansiosos, já tem mais de um ano e meio de espera e, esperamos que saia este edital em breve. E, esperamos que sejamos os vencedores deste edital. Para que a gente possa dar continuidade e a Quasar volte a ocupar os palcos de Goiânia e volte ao Paralelo 16 e volte a fazer a alegria do Estado. Estamos com muitos projetos e ideias. O coreógrafo Henrique Rodovalho já está com várias ideias. E estamos como vocês.. Na espera do edital que não tem previsão ainda de ser lançado. Esperamos juntos cobrar isso do Governo.
CONFIRA ALGUNS ESPETÁCULOS DA PROGRAMAÇÃO DESTA EDIÇÃO DA PARALELO 16
ROSA GRENÁ
A mostra começa hoje com com aula pública sobre técnicas de dança aérea com a Virtual Cia. de Dança (SP) e espetáculo, das 16h às 18h, no Gelb Zirkus (Clube de Engenharia). Outro destaque é a apresentação, do espetáculo Rosa Grená, que acontece às 22h30, no Hermeto Bar. Esta montagem que tem performance cômico-erótica dos artistas Daniel Calvet, Flora Maria e Gleysson Moreira, criadores-intérpretes foi elaborada para acontecer em espaços da noite relacionando o espetáculo com a vida noturna da cidade e seus eventos e envolve dança, música, vídeo, além do resgate a estilos de danças, como o jazz dance.
ESTREIA DE DANÇA BOBA
Amanhã, o festival recebe uma estreia, que também traz os bailarinos Daniel Calvet e Gleysson Moreira. Trata-se de “Dança Boba”, cujo espetáculo se funda na construção de danças a partir de jogos de improviso nos corpos de dois intérpretes. Ora um corpo é suporte para o outro, ora os dois c protagonistas, ora os dois como um. Assim constróem um jogo de metáforas verdadeiras ou falsas. A direção geral é de Daniel Calvet e a produção é do grupo Ateliê dos Gestos.
RUBEDO (SP)
Esta montagem, que será encenada no dia 24, no Teatro Goiânia, é a mais nova criação coreográfica da Companhia de Dança Siameses, sob a direção de Mauricio de Oliveira. O espetáculo, que representa a conciliação do corpo com a redescoberta do seu espaço interior, encerra a trilogia alquímica sobre transformação da matéria em forma de dança iniciada pela companhia com o espetáculo “Nigredo” (2012), seguido por “Albedo” (2014) e se baseou na pesquisa dos escritos de James Hillman (1926-2011), o criador da psicologia arquetípica.
LUB DUB (BA)
Pela primeira vez, em seus 36 anos, o Balé Teatro Castro Alves (BTCA) faz um link artístico entre o Ocidente e o Oriente, e acrescenta ao seu repertório uma montagem inédita criada pelo dançarino, coreógrafo, compositor e ex-rapper sul-coreano Jae Duk Kim, diretor da Modern Table Dance Company, com sede em Seul. O espetáculo será encenado na sexta-feira.
LA WAGNER (ARGENTINA)
Responsável por fechar a programação do Parelo 16, no domingo (25), este espetáculo, que estreou em 2013 já foi muito aplaudido mundo afora: foi vencedor do Prêmio Teatro del Mundo e rodou mais de 20 festivais nacionais e internacionais. Tem como base a música de Richard Wagner e apresenta quatro mulheres nuas, com a difícil tarefa de desarmar estereótipos e denunciar os preconceitos relacionados à feminilidade, violência, sexualidade, erotismo e pornografia. Todos esses estereótipos e preconceitos estão incorporados no corpo da mulher e eles o intoxicam. A partir deste cruzamento é uma cerimônia obscura, iluminada por flashes de ironia e excessos