A cultura da paz
Diário da Manhã
Publicado em 26 de dezembro de 2017 às 23:13 | Atualizado há 4 meses
Mudar comportamentos prejudiciais, que antes eram aceitáveis. Contagiar pessoas em causas em prol da consciência ambiental. Lutar contra os altos índices de violência, que tem chegado até nas escolas. Em contrapartida a tantos desastres contemporâneos, estas são demandas que sociedade civil tem cada dia mais se empenhado em resolver com as próprias mãos. Assim, através da criação de campanhas, participação em organizações não governamentais (ONGs), têm-se construindo uma cultura de paz. E, com apoio do meio artístico, algumas lutas têm trazido mudanças sensíveis na mentalidade da sociedade moderna.
Este ano, por exemplo, pode ficar na história por se iniciar uma luta mundial contra o assédio sexual na quase intocável cena cultural. Aqui no Brasil, em abril, atrizes e apresentadoras da Globo lançaram a campanha “Mexeu Com Uma, Mexeu Com Todas”. Nomes como Taís Araújo, Camila Pitanga, Cleo Pires e Leandra Leal foram trabalhar vestindo a camisa com a frase de protesto, em apoio à figurinista Susllem Tonani, que fez uma denúncia de assédio contra o ator José Mayer. Horas após o início da campanha, Mayer soltou uma carta em que admite o erro e pediu desculpas e está até hoje afastado da próxima novela de Aguinaldo Silva, prevista para 2018.
Depois, a questão do assédio no meio artístico recebeu holofotes internacionais e tem criado um efeito dominó, em que nomes aclamados pela crítica e público começaram a perder seus empregos por conta dos assédios. Tudo começou quando Harvey Weinstein foi demitido da produtora que leva seu nome, após acusações virem à tona em matérias da revista New Yorker e do The New York Times.
Ele era um dos nomes mais poderosos de Hollywood, responsável por filmes como Pulp Fiction e Gangues de Nova York. Foram inúmeros os casos de abuso denunciados pelas publicações. Entre as vítimas, atrizes como Angelina Jolie e Gwyneth Paltrow. Desde então, atores premiados, como Kevin Spacey e Jeffrey Tambor, perderam o emprego e reputação. A série de House of Cards, na qual Spacey era ainda o produtor, foi cancelada.
LUTAS AMBIENTAIS E SOCIAIS
A união engajada de artistas foi capaz de possibilitar uma bela canção em prol da demarcação de terras indígenas que foi lançada em abril. A faixa foi composta por Carlos Rennó, musicada por Chico César e intitulada de “Demarcação Já”. A música e o clipe receberam colaboração de dezenas de artistas com destaque na cena musical brasileira como: Arnaldo Antunes, Criolo, Céu, Djuena Tikuna, Dona Odete, Elza Soares, Gilberto Gil, Felipe Cordeiro, Letícia Sabatella, Gilberto Gil, Lenine, Lirinha, Margareth Menezes, Maria Bethânia, Nando Reis, Ney Matogrosso, Russo Passapusso, Tetê Espíndola, Zeca Baleiro, Zeca Pagodinho.
Já o incêndio no Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros em Alto Paraíso também obrigou artistas e anônimos a se engajarem na campanha S.O.S. Chapadas dos Veadeiros, que aconteceu no final de outubro e destruiu mais de 66 mil hectares da reserva. Através de uma plataforma de financiamento coletivo, nomes, a exemplo do ator Matheus Solano, da modelo internacional Gisele Bündchen e do líder espiritual Sri Prem Baba, usaram a fama para arrecadar dinheiro para a campanha que chegou a levantar mais de R$ 300 mil. Assim, mesmo com o estrago histórico, conseguiu-se evitar o pior. E há quase dois meses após a queimada criminosa, todas as trilhas já foram reabertas e os visitantes retornaram para apreciar as belezas naturais da região.
O ator Leonardo DiCaprio, que é um dos ativistas ambientais mais engajados do entretenimento, e recentemente produziu e narrou o documentário sobre o aquecimento global, The 11th Hour, também mostrou para o mundo o que acontecia na Chapada dos Veadeiros. Em seu perfil no Instagram uma foto sobre o incêndio e chamou o fogo de “devastador”.
No cenário internacional, nomes a exemplo do vocalista da banda irlandesa U2, Bono Vox, assim como a atriz Angelina Jolie – que é embaixadora da boa vontade do Alto Comissariado da ONU para Refugiados –, também fazem parte dos nomes mais divulgados e do showbusiness.
VIOLÊNCIA
Agora, falando um pouco sobre a realidade goianiense, este ano por aqui a violência mostrou estar presente também nas escolas. Em agosto, um adolescente de 13 anos foi apreendido suspeito de matar a vizinha e colega de escola, Tamires Paula de Almeida, de 14 anos, no Jardim América, em Goiânia. O caso ocorreu no quinto andar da escadaria do prédio onde moravam.
Já em outubro, outra cena de violência abalou as famílias que acreditavam que os filhos estavam seguros na escola. Um estudante de 14 anos abriu fogo contra os colegas de sala no Colégio Goyazes. Dois estudantes morreram e outros quatro ficaram feridos.
Chocado com a violência nas escolas, o tio de uma das vítimas do Colégio Goyazes, a estudante Marcela Rocha Macedo, 13 anos, o auxiliar pedagógico e estudante de comunicação social Ivan Aragão, resolveu criar uma Campanha Nacional Contra a Criminalidade.
Marcela hoje está bem e conseguiu terminar o ano letivo. Mas para Ivan, apesar do bom estado de saúde da garota, ainda deve-se repensar a segurança nos colégios a fim de pressionar a classe política a tomar medidas que pensam na segurança e harmonia nas salas de aula.
“Acredito muito na importância dos movimentos sociais junto à população. Com essas forças unidas podemos avançar, no intuito de debater os problemas da sociedade e cobrar soluções das autoridades”, comenta.
Apartidária, a campanha já foi ouvida por alguns deputados de variados partidos, veículos da imprensa local e nacional. “Até agora tivemos três audiências públicas, uma estadual e duas municipais, um resultado muito importante foi o apoio do Comitê Estadual de Direitos Humanos Dom Thomas Balduino”, celebra Ivan.
Para mudanças no cenário, ele acredita na obrigatoriedade de um psicólogo nas unidades escolares, para que ajam nas escolas de forma preventiva detectando problemas e, se necessário, direcionando para um tratamento mais adequado. “Sugerimos ainda investimentos na educação em todas as áreas, a valorização do professor e da sua carreira é também fundamental”, explica.