A pobreza dos Anhangueras que incomodou o governador da Província de Goiás
Redação
Publicado em 8 de setembro de 2018 às 23:23 | Atualizado há 7 anos
A Picada dos Goyazes ou a Estrada dos Goyazes, responsável pela entrada de aventureiros e saída de riquezas das minas coloniais goianas e que provocou ao longo do seu leito, o surgimento de várias cidades paulistas, mineiras e goianas, cuja paternidade maior é atribuída ao Anhanguera, Filho, foi palco revelador da pobreza que se abateu sobre a descendência do Bandeirante, que pobre também morreu em 1740, em Vila Boa, Cidade de Goiás, por volta dos seus 85 anos de idade.
José Martins Pereira de Alencastre, Governador da Província de Goiás, no período de 21.04.1861 a 26.06.1862, publicou em 1863, o livro ‘’Anais da Província de Goiás”, cujas páginas registram, entre outros assuntos importantes da historiografia goiana, um acontecimento acidental, e nem por isso menos significativo para os estudiosos desses torrões.
Quando Alencastre em sua viagem de retorno a São Paulo, ocorrida, provavelmente, no mês de julho de 1862, num dos pontos de pouso da Estrada dos Goyazes, que acredito ser o de Jundiaí (SP), teve lá o fortuito encontro com uma família, cuja miserabilidade humana, envolvia-os sem piedade.
As crianças do casal, em número de três, relatou o Alencastre, eram belíssimas, contrastando com a pérfida miséria dos seus trajes e parcos pertences, arrastados por três animais. Arranchados neste pouso, onde o “luxo” não permitia degredos sociais, acabou por propiciar diálogo entre Alencastre e o pai dos rebentos. O miserável chefe de família a cada meia palavra blasfemava contra a sua sorte. Entre uma e outra pedrada no destino, contou que eles estavam se dirigindo para Araraquara (SP), tentar uma melhor vida.
Dessa conversa, uma revelação estarrecedora fez se ouvir do miserável homem: ele era nada mais, nada menos, do que filho legítimo de Bartolomeu Bueno de Campos Leme e Gusmão, descendente direto da quinta geração de Bartolomeu Bueno da Silva.
Na verdade, ele não era filho legítimo, era sim um filho natural. Uma vez que ele tivera três filhos que resultaram do consórcio com Ana Teixeira da Mota, falecida em 1809, no Porto do Corumbá. São seus filhos legítimos: Maria Pulcina Bueno, nascida em 1798. Mariana Fausta Bueno, nascida em 1804 e Bartolomeu Bueno da Câmara, nascido em 1806. Esse seu único filho, acometido de impaludismo, morreu em 1833.
Quanto ao filho que narra Alencastre, só pode ter sido ele um rebento natural. Sendo que o Coronel Bueno, logo após a morte da sua mulher em 1809, mudou-se para a Capitania de São Paulo, onde permaneceu até a sua morte, por volta de 1825. Nada de causar espanto a possibilidade dele ter constituído uma nova família.
Acentuada indignação nesse encontro percebe-se na narrativa do autor. Porém, não se sabe se por humildade ou por desprendimento, ele não menciona qualquer ajuda prestada à indigente família do possível tetraneto do Anhangüera, Filho.
140 ANOS
É irreverente pensar ou quem sabe constrangedor para os confrontantes desse encontro, principalmente, para o possível descendente do Bueno, depois de passados 140 anos, nessa estrada que fora pisoteada pela pelas botas do seu tetravô, de onde soergueriam pousos, arraiais, vilas e cidades, reservaria este encontro inusitado, com o nobre representante do Imperador Pedro II.
O lado ruim da história pessoal do jovem Alencastre e do conceituadíssimo intelectual fica por conta da sua saída do Governo de Goiás, quando ele teria colocado debaixo dos braços, importantes documentos da história de Goiás que estavam sob o cuidado do Arquivo Histórico do Estado, e os levou consigo, para nunca mais voltarem.
O sequestro talvez tenha se dado por falta de tempo para escrever o livro Anais da Província de Goiás, devido a sua curta permanência frente ao governo goiano. Ainda bem que ele escreveu o livro.