Arroz, um símbolo de vida
Diário da Manhã
Publicado em 26 de abril de 2018 às 01:28 | Atualizado há 7 anos
Falar de arroz, é falar da cultura alimentar do oriente, pois teve sua origem de cultivo há muitos milênios pela terra do sol nascente. O arroz é o alimento mais importante de mais da metade da humanidade e cultivado há mais de 15 mil anos desde o povoamento do sudoeste da Ásia. Os asiáticos comem arroz duas ou três vezes por dia e em algumas línguas é até sinônimo de refeição. Está em todos os continentes, em todas as mesas e é cultivado em mais de 120 países. Brota tanto em terras desérticas como em zonas alagadas, da China às alturas dos Himalaias. Há milhares de variedades: castanho, vermelho, roxo ou preto e o branco que consumimos. Cada cultura desenvolveu uma maneira de comê-lo. No Japão, faz-se o sushi, os chineses preferem frito. Na Índia é servido com curry e os espanhóis gostam de paella. Os italianos especializaram-se no risoto e na América Latina come-se com feijão.
Reis e imperadores da antiguidade deram-lhe o estatuto de divindade. Na Indonésia ainda é considerado um presente dos deuses hindus ao povo local. Os chineses frequentemente cumprimentam-se com a saudação: “Já tomaste hoje o teu arroz?” Na Tailândia é proibido pisar em seus grãos, e na Malásia e em Java é considerado pecado estragá-lo.
O arroz foi trazido para o ocidente por Alexandre (O Grande) após invadir a Índia, trouxe-o para a Grécia daí para a Europa, e com a descoberta do Novo Mundo e sua colonização os europeus o trouxeram para a América, no século XII. Hoje o arroz é adaptado e plantado em praticamente todas as regiões do planeta, com exceção dos polos, onde predominam os liquens, e dos desertos onde abundam os cactos.
Muitas pessoas não sabem fazer arroz direito, extraindo o melhor dos grãos.A receita básica sempre leva uma proporção: duas de água para uma de arroz. Isso sempre que estejamos falando do grão mais comum, o branco. Outros tipos variam, mas seguem de perto esse preceito.Não tem mais nenhum segredo. Uns fazem com panela semi-tampada, outros com panela tampada, e por aí vai. Escolher o melhor método está muito ligado ao tipo de panela que você usa. Em uma panela comum, melhor fazê-lo semi-tampado ou aberto, mas em uma panela de pedra, ao levantar fervura, pode-se fechá-la e desligar o fogo, pois o calor contido nela já é suficiente para cozinhar os grãos.
MÉTODOS DE PREPARO PARA ESSES GRÃOS
Água fervendo, permite que se cozinhe em grandes quantidades, principalmente o arroz branco e o integral. Lavamos o arroz para remover o excesso de amido, seguindo a proporção necessária, acrescentamos o arroz junto ao sal e cozinhamos até os grãos ficarem macios. Depois escorremos em uma peneira ou escorredor e lavamos em água fervente. Depois colocamos em uma panela óleo ou manteiga e refogamos. É um método trabalhoso, mas garante que os grãos fiquem soltos e o controle exato da maciez.
Já o método de absorção faz o arroz basmati e o tailândes. Usamos uma parte de arroz para duas e meia de água e cozinhamos em fogo baixo com a panela tampada para que os grãos cozinhem no seu próprio vapor. Temperos, podemos usar vários, podemos colocar vegetais e carnes, mudando o nome de simples arroz para o nome próprio, onde ele brilha como base.
Os grãos de arroz podem ser encontrados de muitos modos: longos, curtos, com ou sem casca, polidos, cultivados ou selvagens, de rápido ou lento cozimento, integral, etc. Existem vários tipos de arroz, cada um deles destinado a um tipo de preparo para o consumo.
TIPOS DE ARROZ
Arroz Branco – É o que normalmente usamos. Podemos encontrá-lo com grãos curtos, médios e longos. Dentro dessa classe encontramos o arroz parborizado, que é um arroz que tem menos tratamento, por isso acaba por preservar mais os nutrientes.
Arroz Arbório – É italiano de grãos arredondados, de textura cremosa, que não deve ser lavado antes do seu uso. A lavagem retira o amido contido nos grãos e é ele que dará a cremosidade nos famosos risotos, mas pode ser usado em doces, como no arroz-doce.
Arroz Integral – A casca não foi retirada, e preserva todo o seu valor nutricional.
Arroz para Sushi – Existem vários tipos de arroz no preparo do sushi (Koshihikari, Sasanishiki e Hatsunishiki). Para preparar, ele deve ser cozido no vapor e depois combinado com uma mistura de açúcar, sal e vinagre de arroz.
Arroz Preto – A antocianina contida nele é que causa essa cor. É um arroz integral com muitos nutrientes e que pode ser encontrado na versão curta (chinesa) e longa (tailandesa). Ele é perfeito para pratos doces, como o arroz-doce. Conhecido como o “arroz proibido” porque na China só imperadores podiam consumi-los.
Arroz Basmati – Vem da Índia e do Paquistão, muito aromático (seu nome significa cheiroso). Pode ser encontrado integral ou branco e tem os grãos longos. Muito usado em pratos indianos, curry e frituras.
Arroz Vermelho – É m grão integral que teve sua casca removida. Existem dois tipos: o grão longo (da Tailândia) e o cultivado no Butão, que é médio. Não esqueça de escorrer antes de servir. Tem muitos nutrientes.
Arroz Jasmine – Vem da Tailândia e é conhecido também como Hom Mali. Precisa ser lavado antes de cozinhar e precisa de menos água do que o arroz branco comum para ficar no ponto. Adoro este arroz com leite de coco.
Quando for preparar um arroz não é necessário apenas usar água. Podemos substituir essa água por um caldo, como o de carne, legumes, galinha ou peixes, conforme esse arroz seja usado, harmonize. Podemos usar leite de coco, mas é necessário cuidado para que a fervura não levante e vaze da panela.
Se for colocar vegetais, tipo um arroz à grega, coloque-os picados, bem lavados e depois de refogar o arroz, para não correr o risco de que esses vegetais se queimem ou que fiquem crus. Cuidado com o corte, vejo pedaços enormes em algumas fotos de arroz à grega, e isso é ruim. Deve haver harmonia sempre, quer seja nos tamanhos dos cortes, quer seja nas texturas.
Se quiser um arroz mais soltinho e saboroso, na hora que ele já estiver pronto, coloque uma colher de manteiga e misture bem.
Muita gente me pergunta a quantidade de arroz necessário para servir a uma pessoa. Normalmente ela varia de 30 a 50 gramas de peso no arroz cru. Não esqueça que ele triplica de peso após cozido. Em resumo, um quilo de arroz dá para 20 a 25 porções individuais. Assim ficará fácil calcular o quanto fazer na próxima reunião que fizer. Apenas não esqueça que quantidades maiores precisam de cuidados melhores. Fazer um bom arroz para duas pessoas exige menos atenção do que para 200, pelo simples fato que não podemos adivinhar o que está acontecendo lá embaixo da panela se não acompanharmos de perto a cocção.
Há um número quase infinito de receitas de arroz. Colocarei as minhas favoritas e aquelas que faço normalmente, assim poderei deixar dicas para que o sucesso seja total.
RECEITAS
Arroz com Damascos – Use o arroz branco, o comum. Uma xícara. Podemos usar o arbório ou o carnarole. Comece lavando muito bem, até que a água saia transparente, indício que ele está limpo. Deixe escorrer e, enquanto isso, pique uma dúzia de damascos secos em pedaços pequenos. Reserve-os. Deixe uns dois a três damascos inteiros, para a finalização. Ferva água em uma panela (quatro xícaras) e adicione o arroz, deixando cozinhar por uns 5 minutos, apenas. (Não estamos fazendo arroz, portanto não se espante com a quantidade de água. Ela serve apenas para amolecer os grãos). Escorra o arroz quando passar esse tempo.
Em outra panela, coloque 500 ml de leite (meio litro do leite integral. Isso não é uma receita light). Junte 30 gramas de açúcar (duas colheres de sopa), baunilha (seria bom usar a fava, mas na falta, use a pasta ou extrato de baunilha ou usar o açúcar baunilhado) e uma pitada de sal (ele não salga, apenas vai potencializar os sabores). Quando levantar fervura, coloque o arroz que foi amaciado e os damascos. Deixe cozinhando em fogo baixo por uns 35 a 40 minutos. Experimente. O arroz deve estar macio, mas com uma textura firme, sem estar desmanchando, aveludado. Incorpore duas gemas, mexendo vigorosamente. Deixe esfriar. Isso demora, por volta, de umas três horas, no mínimo. Não coloque na geladeira. Deixe em temperatura ambiente. Bata creme de leite fresco, com açúcar, em ponto de chantilly e misture delicadamente ao arroz de damasco. Uma excelente guarnição que pode acompanhar chocolates meio amargo, frutas frescas ou cristalizadas, etc. Sirva gelado.
Pilaf de Arroz ao Curry com Tâmaras – Retire os caroços das tâmaras e corte-as em cubinhos. Existe uma pasta picante, de cor avermelhada, chamada Harrisa. Tente encontrá-la, se não, use páprica picante e envolva os cubinhos de tâmaras. Reserve. Descasque uma cebola e corte-a bem fininha. Refogue até começar a dourar em óleo. Acrescente o arroz basmati e mexa bem. Preparação do risoto: adiciona uma concha de caldo de legumes por vez, mexa até que seja absorvido pelos grãos. Repita isso várias vezes e ao fim de 15 minutos o arroz estará pronto. Junte uma colher de curry (a seu gosto) e pimenta do reino e misture com as tâmaras. Podemos acrescentar uma caixinha de creme de leite a esse preparo, fugindo ao tradicional. Se for colocar o creme, pode usar até banana no lugar das tâmaras se estiver caro.
Arroz Chinês (Cantonês)
Use arroz de véspera. Retire da geladeira uma hora antes e com um garfo solte os grãos. Em uma frigideira grande coloque uma colher de óleo e refogue cebola, pimentão verde e vermelho bem picadinhos. Coloque um caldo de legumes (uma xícara de arroz pronto, use três colheres de sopa de caldo. Quebre um ovo e assim que ele começar a cozinhar, com uma espátula vá mexendo para que ele se quebre e forme uns fiapos de ovos. Acrescente cebolinha fatiada, mexa bem, em fogo baixo. Retire e salpique salsinha picadinha por cima.
RISOTOS
Risoto deve ser soltinho, fluido, cremoso e não ficar duro, enfornado em aros, como vejo em centenas de fotos. Risoto bom é uma papinha, macia, mas com textura consistente à mordida que escorre pelo prato, mas tem textura “al dente”. A base de um bom risoto é formada por quatro ingredientes: manteiga, cebola, arroz arbório, carnaroli ou Vialone Nano e caldo, que pode ser de muitos tipos, dependendo dos ingredientes que usaremos, mas em sua grande maioria, o caldo de legumes, caseiro e bem feito, é usado e dá bons resultados. Caldo mal feito, e vinho branco barato, prato ruim. Saiba escolher um bom parmesão.
Comece por derreter a manteiga e refogar a cebola picadinha, coloque uma xícara de chá de vinho branco e deixe reduzir, tome cuidado para que ela não doure. Acrescente o arroz e mexa, dando uma fritadinha nela. Comece a colocar o caldo de concha em concha. O arroz jamais deve ficar recoberto por ele. O caldo tem que ser absorvido aos poucos. Essa operação será repetida por várias vezes. Não saia da frente da panela. Risoto se faz presente perto da panela o tempo todo. Use 100 gramas de queijo parmesão (evite usar os ralados em saquinhos, prefira os inteiros para ralar na hora).
Apague o fogo e transfira para uma travessa pré-aquecida. Deixe descansar por uns 3 minutos e sirva. Com essa receita, podemos fazer praticamente todos os tipos de risotos, bastando acrescer o ingrediente que quiser, como vegetais (aspargos é muito bom), queijos (uma mistura de roquefort, brie e gorgonzola fica muito bom).
Risoto de frutos do mar
Os ingredientes são lagostins (não se espante, para quem não sabe não tem preço muito maior que bons camarões), lulas (limpas e cortadas em anéis ou fatias), camarões cozidos e descascados, de preferência grandes, se possível, vieiras (coquille Saint Jacques) e lascas de parmesão, além dos ingredientes tradicionais.
O primeiro passo é fazer um caldo de frutos do mar bem feito. Para isso, aqueça o azeite em uma panela, refogue, em fogo alto, as cascas dos lagostins, as cabeças dos camarões (antes de colocar, dê uma esmagadinha nelas, assim soltará melhor o seus sabor). Acrescente um mirepoix (cebola, cenoura e alho-poró), um litro de caldo de peixe (feito com cabeças e espinhas de peixes), uma dose de conhaque, buquê-garni (um enroladinho com ervas, como salsa, cebolinha, tomilho, etc, envoltos em uma gaze ou contidos dentro de uma folha de alho-poró), sal e pimenta-do-reino, um dente de alho amassado e um tomate concassé (tomate picado, sem pele e sem sementes).Deixe fervendo por 30 minutos e depois coe. Quando ferver, retire as espumas que se formam na superfície com a escumadeira e descarte-a. Esse caldo é diferente do “fumet”, um caldo mais ralo, embora bem temperado e feito com espinhas de peixes ou até aves de caça, que serve para dar sabor a líquidos insossos e é muito usado em receitas da culinária francesa.
Após coar esse caldo (o sabor é fantástico), junte as lulas e as vieiras e deixe fervendo por uns 3 a 4 minutos e retire-os com a escumadeira e reserve. Continue a deixar o caldo no fogo baixo até que ele se reduza à metade (paciência). Quando chegar o ponto, junte todos os ingredientes (lagostins, camarões, lulas e vierias). Coloque o risoto em um prato, e salpique as lascas de par
CAÇAROLAS E VINHOS DA SEMANA
Os ingredientes utilizados no risoto vão determinar qual o melhor vinho para harmonização. Os brancos e rosés costumam acompanhar bem a maioria dos risotos. Mas as receitas com carne, linguiça, cordeiro ou carne de caça aceitam tintos leves, como Pinot Noir ou Merlot.
O risoto é um prato que combina com encontros e ocasiões especiais. Seja em uma reunião com os amigos, naquele jantar romântico ou até mesmo no almoço da família aos domingos.
Para acompanhar o risoto de frutos do mar, a pedida é um vinho branco leve. O vinho chileno Santa Ema Amplus Sauvignon Branc é um excelente acompanhamento para uma combinação refrescante e suave.
Risoto de aspargos com presunto parma. Esta combinação é perfeita para aquela comemoração especial, é sofisticado e tem um sabor marcante. Harmoniza muito bem com o espumante francês branco Laurent Breban Blanc de Blanc.
HARMONIZAÇÕES
Chardonnay: risoto de queijos ou de legumes
Sauvignon Blanc: risoto de limão, de salmão, de queijos azuis ou de frutos do mar
Pinot Noir: risoto de carne, linguiça, charque, cordeiro ou cogumelos
Merlot: risoto de bacalhau
Rosé: combina com a maioria dos risotos