“Arte sempre vai se sobressair”, crava cantora Vanessa da Mata
DM Redação
Publicado em 14 de outubro de 2025 às 16:14 | Atualizado há 1 hora
Marcus Vinícius Beck
Em seu novo show, a cantora Vanessa da Mata, 49, percorre uma jornada barroca da Santa à Maria Sem Vergonha. A artista transita, conforme diz ao DM, por dezenas de canções que a ajudam a cantar a saga de uma mulher em busca do amor “ou no enfrentamento dele, seja no amor romântico ou no amor próprio”. Nascida em Alto Garças (MT), Vanessa leva nesta sexta-feira, 17, sua turnê “Todas Elas” ao Centro de Convenções da PUC, a partir das 21h30. No bate-papo que se segue, a mato-grossense fala de seu último trabalho, aborda os desafios dos artistas em tempos digitais e critica o machismo. Confira os melhores trechos:
Diário da Manhã – Você acena para o pop radiofônico e reggae em seu último disco. Qual é a receita para se criar canções numa época em que ninguém ouve uma música por mais de dois minutos?
Vanessa da Mata – Sou uma cantora de MPB, mas acredito que o trabalho de um músico não pode ser algo engessado e isso me estimula na criação musical. Eu sempre tive muito respeito e amor pela música brasileira. Nasci em Alto Garças, no Mato Grosso, então sempre estive em contato com ritmos que vão além dos que chegam no Sudeste. Eu acho que a geografia ajuda muito nessa coisa polirrítmica. Essa modalidade polirrítmica é muito minha desde sempre e me sustenta muito nessa variedade do canto, que me faz muito bem. Eu busco parceiros que me acrescentem. Acho que essa mistura me inspira a fazer algumas músicas alegres, dançantes, outras mais intimistas, que atraem e dialogam com diferentes públicos. Pra mim esse é o papel da música, ser ouvida por todos.
DM – Como tornar a música viável numa era de algoritmização da arte?
Da Mata – É um desafio, mas com muito trabalho conseguimos driblar os obstáculos e levar um trabalho de qualidade para o público. Quando há verdade naquilo que é feito, a música rompe barreiras e o público consome. A arte sempre vai se sobressair na algoritmização.
DM – Chama atenção sua coragem em expor temas que perpassam o pós-feminismo, a maternidade, as paixões, a negritude e luta pela igualdade. Qual é a função da arte?
Da Mata – Todos esses assuntos estão muito presentes na minha vida e na minha obra musical desde sempre. [“Todas Elas”] É um disco que poderia contar a história de várias mulheres. Ele traz situações amplas e diversas que podem acontecer com várias pessoas. Eu apresento um olhar sobre a vida, a mulher e o amor. E é também um trabalho que mostra as mulheres que formam a minha pessoa. Eu exponho nas músicas as minhas facetas e os meus momentos. Pra mim, é um projeto muito potente porque ele debate temas que são importantes e que precisam ser discutidos na nossa sociedade, como a intolerância religiosa. Ele traz muitos manifestos, muitas observações e histórias. Essa é uma das funções da arte, debater temas que são importantes para a construção de uma sociedade melhor.
DM – Na primeira faixa, “Maria Sem Vergonha”, diz que “ficar no primeiro encontro não causa boa impressão”. Por que essa visão obtusa insiste em perpetuar em nossa sociedade?
Da Mata – “Maria Sem Vergonha” é uma música que fala sobre o aprisionamento feminino. Quanto ao machismo, ele é algo extremamente prejudicial para a nossa sociedade. É uma crítica sobre uma visão ultrapassada que algumas pessoas ainda têm sobre o que é ser mulher.

DM – Na toada da última pergunta, o que leva mulheres, em pleno século 21, a matar a libido?
Da Mata – Essa é uma música que contesta o lugar que a sociedade tenta colocar as mulheres, que precisamos seguir algumas regras, ter um comportamento padrão para sermos aceitas, questiona esse aprisionamento. Falo de coisas que a gente vê na sociedade e que precisam mudar. São assuntos políticos e sociais importantes que são retratados nesse álbum.
DM – O próprio espetáculo que apresenta em Goiânia, “Todas Elas”, é uma celebração da força feminina. Como nasceu a concepção artística desse espetáculo?
Da Mata – O “Todas Elas” é um show com direção do Jorge Farjalla, figurino do Gustavo Silvestre e acessórios de Gustavo Krelling. O meu diretor, o Farjalla, define que o show é uma jornada barroca da Santa à Maria Sem Vergonha, transitando por várias canções para contar a saga dessa fêmea em busca do amar ou no enfrentamento dele, seja no amor romântico ou no amor próprio, permeando o Brasil profundo e a cultura popular das músicas celebradas durante a apresentação. O show é estruturado em três atos. O primeiro eu diria que é um lado com uma musicalidade que lembra a minha infância, já o segundo ato concentra os sucessos da minha carreira e no terceiro é um momento mais dançante.
DM – O que o público deve esperar do show na capital goiana?
Da Mata – Acredito que o “Todas Elas” mostra o meu amadurecimento, é o disco mais autoral que já escrevi até o momento. O público pode esperar um show com os sucessos da minha carreira e músicas novas. Espero que todos os que escutarem o álbum ou assistirem ao show consigam refletir sobre os assuntos que estão presentes neste projeto. O meu desejo é que as músicas de “Todas Elas” sejam compreendidas e que o público entre nas histórias, divirtam-se, cantem e dancem muito no meu show.