Entretenimento

As lições de um velho novo boêmio

Redação DM

Publicado em 4 de outubro de 2018 às 05:17 | Atualizado há 7 anos

Amigo boêmio, um bom par de tênis, um bloco de notas com folhas sobrando e um fígado de Heming­way. Eis meu lema de cada marato­na alcoólica. O personagem pode estar na esquina, num boteco qual­quer, pronto para contar histórias e molhar a palavra. Em qualquer es­quina e bar, diga-se de passagem. O desta semana não estava num copo-sujo específico, pois há me­ses venho bebendo com ele e já o transformei em personagem neste espaço em várias ocasiões.

Com vocês Carpinteiro Libanês, 25, vulgo Thompson Silva, goiano, vilanovense, jornalista, poeta de bo­tequim e homem raiz. Detentor de anos de sabedoria popular absorvi­da durante papos com mestres da boêmia nos mais diferentes bares da região norte de Goiânia.

É isso aí, viva a lírica bêbada de cada dia, pois a poesia está cada vez mais contaminada pelo óbvio ululante, vamos em fren­te, meus amigos, Carpinteiro com o taco de sinuca em mãos, mira na bola, giz branco sobre a mesa, suave como uma canção de Chrystian e Ralf, caçapa.

“Beck, você precisa aprimorar seus dotes de sinuqueiro, eles são frágeis, não é nada difícil ganhar de você, mestre”, alardeia ele, cujo vo­cativo é uma alusão descarada ao doutor do jornalismo gonzo, Hun­ter Thompson. Fã do depravado­-mor da narrativa jornalística, Car­pinteiro defende veementemente que um Campari cura porre, “mais que tudo”. “É remédio”, esclarece.

É, meu caro escritor das narrati­vas boêmias João Antônio, um cara aprende as táticas de uma partida de sinuca quando se pratica com afinco, fôlego e vontade todos os dias. Um cara aprende sobre as coisas da vida, para citar Raulzito, quando troca uma ideia com len­das. Todavia, é preciso contar com um fígado relativamente resistente para tal epopeia alcoólica.

Nestas horas, também é pruden­te lembrar dos ensinamentos do poeta paranaense Paulo Leminski: “eu e meu fígado temos uma relação respeitosa: ele não me incomoda e eu não o incomodo”.

Carpinteiro mete mais uma bola na caçapa, ajeita o blazer, na estica, mostra-me sua camiseta da pági­na do facebook sobre o futebol dos anos 90 “Cenas Lamentáveis”, com o decreto número 32, gênio, canta “eu vou ficar/guardado no seu co­ração/ na noite fria solidão”.

Ri, ergui o copo e brindamos. A sabedoria etílica, filosofo, é primor­dial durante a vida de uma pessoa minimamente perdida no palácio da desilusão amorosa.

Outro dia, eu estava mais pra lá do que pra cá e ouvi a seguinte fra­se de uma colega: ”Carpinteiro é o típico showman”. Curioso, indaguei: “Por quê?” No que findei a frase, o cara disse que eram por dois moti­vos bem simples, pois “Carpintei­ro namorou uma mina com a per­sonalidade tão forte quanto a dele, enfartou e trabalhou num jornal fa­moso por não arcar com seus com­promissos trabalhistas”.

Como assim, meu rapaz, se oriente, por favor. “Ora, Beck, pen­se comigo: o cara tem todos esses atributos, e ainda por cima torce para o Vila Nova”, sentenciou. Con­cordei, meneando a cabeça, posi­tivamente.

Sim, Carpinteiro é a mistura do texto jornalístico de Hunter, da crô­nica de costumes de Nelson Rodri­gues, que é fã incondicional, e da música sertaneja, à qual não dis­pensa, pois em “Goiás é o tipo de som que reina nos bares, festas e tudo o mais”. Palmas.

Foi mal, nobre leitor, a rasgação de cera, mas era imprescindível. Um abraço. Até a próxima crônica do li­rismo elítico, vagabundo e inciden­te. Tchau, obrigado.


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