Entretenimento

Carta a Leonardo

Diário da Manhã

Publicado em 8 de agosto de 2018 às 21:05 | Atualizado há 7 anos

Amigo torcedor, amigo sofre­dor, a pé iremos a qualquer botequim ou bodega para se derreter em lamúria saudosista em função da música do sertanejo Leonardo, o autor dos mais belos hinos que acompanham epopeias etílicas deste cronista chinfrim que vos fala. Até a pé nós iremos, ainda que com o cotovelo vermelho de tanto apoiá-lo nas mesas de plásti­co, como um cancioneiro envolvo em enredos entremeados de amor e sorte. A pé iremos, com ou sem dinheiro, pôr Chuva no Telhado na jukebox daquele estabelecimento que honra a tradição boêmia de raiz, tão em falta nesses tempos irritamente chatos.

Como já lembrei aqui neste jornal, com peso no coração, nosso amor não acaba jamais. E digo mais: “Estou doido para sentir seu cheiro/louco pra bei­jar sua boca/vê se não demora muito”. Eita sofrência da porra. Não nego, sofro mesmo. Tanto por conta do time do coração – sou um corintiano demente – quanto pelos amores perdidos, ou por aqueles que foram em­bora como o último acorde da música Eu Juro. Então, propo­nho um brinde especialíssimo aos homens sensíveis, aos des­graçados que fazem questão de viver intensamente cada segun­do de suas vidas.

Sim, caro Leonardo, uso teu som como divã existencial pós­-fracassos amorosos, e gasto o cotovelo da espera na fórmica dos balcões dos sofredores. In­clusive, a cada pé na bunda te­nho plena convicção de que irás sentar ao meu lado e me darás excelentes conselhos amoro­sos, o que mais parece um de­lírio bêbado provocado pela dor do lado esquerdo do peito em decorrência das desilusões da vida. Mais um brinde, amigo, como te amo, como amo teu som, tua simplicidade, fã de ir­remediável de Copa Mundo, ho­mem que vive esta vida de for­ma tão rápida quanto a virada do Vila Nova em cima do Goiás, em 1999, embora tu sejas esme­raldino, perdoe-me pela piada.

Vamos ver se concordas co­migo: estou tentando seguir em frente, pois não me resta muito a fazer em relação ao amor de minha vida. Ora, ela tem outro cara – um sujeito decente, gen­te boa, companheiro de mara­tonas etílicas. Então, diante des­ta premissa sofredora, não me resgatam muitas alternativas, a não ser levantar a cabeça, en­cher o copo americano de cer­veja e procurar outras mulheres para me apaixonar desenfrea­damente para escrever textos cheios de adjetivos, advérbios e metáforas que parecem ser cópia de tuas músicas.

Por fim, ainda que o bar seja o consultório sentimental dos desgraçados sentimentais, ra­tifico o efeito de cura que tuas músicas, Leonardo, nutrem so­bre um desalmado. Dói, rasga o peito e dilacera a alma, mas cura, deixa vivo os momentos que realmente foram bons de serem sentidos. O verdadeiro prazer da vida, todavia, reside justamente em experimentar sentimentos, mesmo que o ris­co seja alto. Enfim, meu caro, sem mais delongas: obrigado pela tua contribuição às músi­cas de sofrência, porque a ho­nesta e verdadeira boemia re­siste e sobrevive com isso.

Até a próxima crônica do lou­co amor. Forte abraço a quem conseguiu chegar até o final des­te texto. Tchau, obrigado!


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