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Diário da Manhã

Publicado em 22 de maio de 2018 às 00:25 | Atualizado há 4 meses

Uma visão panorâmica de séculos da história do Bra­sil será apresentada hoje e amanhã, às 20 horas, no Teatro do Centro Cultura UFG (CCUFG), a partir de uma obra premiada de Chico Buarque. Trata-se de “Leite Derramado”, um livro lançado em 2009, que recebeu o principais prê­mios de literatura em língua portu­guesa. Em 2016, seu texto foi adap­tado por Roberto Alvim para o teatro onde também foi bem recebida e, emocionou até o seu criador, Chico. Atual, intrigante e crítica é este espe­táculo que nesta noite chega a Capi­tal para questionar o passado, com intuito de transformar o presente.

Fazendo um paralelo entre tempos, através do personagem delirante Eulálio D’Assumpção, a exemplificação de tudo que deu errado no Brasil, a montagem vem mexendo com os brasileiros por onde passa, proporcionando uma espécie de autocrítica e, quem sabe, até de reação a um mundo em crise. Pelo menos é isso o que tem nota­do Roberto Alvim, que também as­sumiu a direção da peça, durante e depois as sessões do espetáculo.

“É como se a peça funcionasse como uma força ao público, para que após este momento de crise política, essa polarização entre es­querda e direita, o público perce­besse que a solução é se unir. O texto aponta para a necessidade urgente de reconstruirmos nossos procedimentos éticos em direção à novas possibilidades de ação polí­tica, não só no Brasil, que vive um caos, mas no quadro mundial”, ar­gumenta o diretor.

Estas questões são abordadas a partir de Eulálio, que incorpora cer­ca de duas décadas de história do Brasil suja pelo racismo e pela cor­rupção. Ele é herdeiro de uma tra­dicional família que chegou ao país com a corte portuguesa: antepassa­dos aristocratas, avô latifundiário escravagista, pai senador corrupto, neto guerrilheiro, bisneto trafican­te. No entanto, falido, ele acaba ten­do o destino da maioria, sem “san­gue azul”: em um corredor do SUS, na busca por atendimento digno.

Mas são os momentos em que agoniza no hospital, que ele tem epifanias, e se descobre vítima da própria trajetória criada, ao longo de anos, por ele e sua própria clas­se social, a elite. Se vê então vítima e causador do sucateamento dos ser­viços públicos, por exemplo. A via­gem histórica é repleta de delírios que possibilita a mistura tempos, passando assim por eventos cru­ciais da história do Brasil.

CRIADORES

A revisão histórica que a peça propõe, segundo o Roberto Alvim, chocou ainda com um dos momen­tos políticos mais complicados da história do Brasil e de forma não pro­posital. Ele conta que depois da peça adaptada o país vivia o auge da crise política, que culminou no impeach­ment da ex-presidenta Dilma.

Tudo isso, o diretor conta que modificou bastante a peça, até mes­mo após do aval de Chico Buarque, que conforme o diretor, quando en­trou em contato com uma das pri­meiras versões do espetáculo, cho­rou. Porém, vendo a situação que o país passava, Alvim transformou mais seis vezes o texto. Atitude que não desagradou Chico, que foi as­sistir o espetáculo na estreia e, no­vamente se emocionou.

Um dos trunfos do espetáculo–e uma da razão da emoção de Chico) foi a interpretação que Juliana deu a Eulálio, que conforme Alvim, Chico disse ter ficado igualzinho ao que tinha imaginado. “Chico me per­guntava sempre quem iria viver o protagonista e eu só mostrei no fi­nal, com a caracterização. Quando mostrei, ele falou que o persona­gem era igual ao que tinha imagi­nado e nem se deu conta de que era uma mulher (risos)”, relembra.

É claro que quando percebeu que seu Eulálio era vivido por uma mulher, o autor que deu vida tão bem às dores femininas, em faixas a exemplo de “Olhos nos Ohos” e “Gota D’água”, adorou a proposta e, consequentemente, Juliana foi muito elogiada pela crítica. “Quan­do pensei em alguém, para protago­nizar esta peça pensei que tinha que ser um dos maiores atores do país,ttt então, não podia ser outra pessoa além da Juliana Galdino”.

Estão no elenco também: Luiz Otvavio Vizzon, Filipe Ribeiro, Taynã Marquezone, Caio D’agui­lar, Lenon Sebastian, Luis Fernan­do Pasquarelli e Nathalia Manoc­chio. Vale lembrar que quem fez a trilha sonora original para o espe­táculo foi Vladimir Safatle.

 

LEITE DERRAMADO

Quando: Hoje e amanhã, 20h

Local: Teatro CCUFG (Praça Universitária)

Ingressos: Entrada Gratuita

Protagonista é Juliana Galdino, que vive um senhor de 100 anos que, à beira da morte, começa a relembrar um passado inglório

 

 

 LEITE DERRAMADO: ANDANÇAS E PRÊMIOS

Estreou na 4ª edição do Mi­rada–Festival Ibero-America­no de Artes Cênicas de Santos.

Depois passou ficou em cartaz por vários locais em São Paulo (Sesc Consolação e Cen­tro Cultural São Paulo), Rio de Janeiro (Sesc Ginástico).

Passou por diversos festi­vais como: Festival Internacio­nal de Curitiba, Festival Tra­ma de Recife, Festival POA em Cena, Festival Internacional de Londrina, entre outros.

Foi vencedor do Prêmio Zé Renato de fomento ao teatro, onde realizou uma circulação popular por São Paulo

 

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