Conselho de Cultura critica decisão da Netflix de gravar série em São Paulo
DM Redação
Publicado em 14 de setembro de 2025 às 18:53 | Atualizado há 52 minutos
O Conselho Municipal de Cultura de Goiânia divulgou uma carta aberta em que cobra a Netflix e a equipe responsável pela produção da minissérie “Emergência Radioativa”. No texto, o Conselho expressa insatisfação com a decisão de gravar, em São Paulo, a obra que retrata o acidente com o Césio-137 — o maior do tipo já ocorrido no Brasil.
O Conselho argumenta que filmar fora de Goiânia representa não apenas uma distorção histórica, mas também uma negação da memória coletiva da cidade, que foi afetada pela tragédia em 1987. Ao longo dos anos, o desastre radioativo se tornou objetivo de estudos acadêmicos, virou tema de banda e música punk e chegou ao cinema.
Sob direção do cineasta Roberto Pires, com os atores Nelson Xavier e Paulo Betti no elenco, o filme “O Pesadelo de Goiânia” retrata o acidente radioativo. A produção se baseou em depoimento das vítimas. Dois catadores de lixo encontraram uma peça de chumbo em um prédio abandonado, sem saber que ela continha Césio-137, um material radioativo.
“Foi aqui, em nossas ruas e casas, que famílias inteiras sofreram, choraram e resistiram”, diz o texto, destacando que a dor provocada pelo acidente ainda faz parte do cotidiano goianienses. A entidade também diz que Goiânia reúne condições para sediar a produção.
Lembra que tem profissionais qualificados, infraestrutura adequada, locações autênticas e, sobretudo, uma ligação emocional insubstituível com a história. Além da importância simbólica, a realização da minissérie na capital goiana poderia gerar empregos, aquecer a economia local e valorizar a cultura regional com mais verdade e representatividade.
Diretor do Digo, o cineasta Cristiano Sousa diz que é necessário criar “nossa Film Commission”. “Precisamos de uma film commission para tornar essas produções possíveis e regulamentar o processo”, afirma o realizador, em comentário nas redes sociais.
A carta ainda afirma que o acidente com o Césio-137, classificado pela Agência Internacional de Energia Atômica como o maior do tipo fora de instalações nucleares, não pode ser retratado de forma genérica ou dissociada de seu território original.
Cicatrizes
“Ele pertence a Goiânia, ao seu povo, às suas cicatrizes”, sentencia o texto, trazendo um apelo à Netflix para que a produção reveja sua decisão e leve as filmagens para Goiânia. “Contem essa história aqui, onde ela nasceu e onde ainda pulsa. A história do Césio-137 é nossa, e precisa ser mostrada ao mundo com a verdade de quem a viveu”, indica.
Criada por Gustavo Lipsztein, dirigida por Fernando Coimbra e produzida pela Gullane, “Emergência Radioativa” acompanha a atuação de físicos e médicos na corrida contra o tempo para salvar vidas. A minissérie será protagonizada pelo ator Johnny Massaro. (Com Folhapress)