Corpo, gastronomia e erotismo
Diário da Manhã
Publicado em 7 de junho de 2018 às 01:30 | Atualizado há 4 meses
Procurando uma maneira original de celebrar o romance neste Dia dos Namorados? Nada melhor que uma excitante noite de culinária, alimentação e diversão interativa! Escrevendo a coluna Prazeres à Mesa, me fez lembrar de um livro do Milan Kundera, Imortalidade, quando ele diz: “O erotismo é como dançar: uma parte do casal está sempre encarregada de administrar o outro”.
Acabei de ler o livro Gastrophysics: the New Science of Eating Gastrofísica: A nova ciência da alimentação, de Charles Spence, ele propõe uma viagem ao mundo do “food porn”, ou pornografia alimentar, à luz da ciência. O autor britânico explica que apesar de o cérebro representar apenas 2% da nossa massa corporal, usa cerca de 25% do total da circulação de sangue. E um dos maiores aumentos da circulação dá-se precisamente quando o cérebro é exposto a imagens de alimentos provocativos como, por exemplo, morango e mel, que se juntam em um momento de sedução. É quando a imaginação faz amor com o corpo.
As cenas são uma sequência de erotismo e sensualidade que se misturam em um excitante e sádico jogo sexual. O pós-moderno reconhece uma forma de controle dos comportamentos, por meio da supremacia dos objetos, das imagens e das informações, sempre embaladas em ideais hedonistas e sugere como um ganho nesse processo, a diversificação dos jogos de sedução do amor, numa alternância de papéis, ao presenciar-se uma nova fase do individualismo ocidental. O Amor dá início a uma fase em que a culinária consegue mostrar o erotismo de uma forma vulgar, sem vergonha, sem uma totalidade.
O projeto da conquista da autonomia individual, mais do que qualquer outro fenômeno, é favorecido pela institucionalização do efêmero, diversificando o leque dos objetos e dos serviços, pela multiplicação das escolhas. O casal precisa viver o sexo com transgressões e acolherem novidades, a afirmar preferências subjetivas. Mesmo levando-se em conta a vida em sociedade, os namorados precisam buscar a felicidade no erotismo, longe das instâncias burocráticas.
Porque alguns casais ainda acham um tabu procurar erotizar cada encontro com surpresas que se tornam gostosas e prazerosas? “Eu faço sua comida. Eu cozinho. Tiro seu vestido todas as noites e o coloco de manhã. Só quero que você esteja aqui todas as noites. É o contrato da noite”. É o controle sobre o momento único da fantasia que se entrega e se desconstrói em noites de sexo aventureiro. O porn food traz cenas picantes, como a comida na cozinha, o gelo descendo pelo corpo dos amantes e o sexo explícito no chão da cozinha.
Uma vez que envolve tantos sentidos (olfato, tato, paladar, visão), a comida é uma adição gloriosa às travessuras do quarto. Porque oferece uma ampla gama de possibilidades – do sutil, como alimentar um ao outro, o tocar, olhos se encontrando num delíro ardente.
Segundo Duque de Levis: “Existe a beleza que excita, a que comove e a que satisfaz: a melhor é a última.” Realmente, tem delícia melhor do que sentir e se permitir sentir sensações que lhe dê prazer?
A comida é uma coisa muito esplendorosa. Tudo que você precisa é de comida. Ou talvez seja amor. É tão fácil confundir os dois, porque quando se trata de palhaçadas no quarto, eles se juntam tão bem. Pequenos pedaços de delícias podem ser sensacionais nas preliminares. Então, se você quiser usar a comida de maneira sutil, em vez de torná-la o foco da sua experiência sexual, aqui estão algumas coisas que você pode tentar.
Sugiro que se alimentem um ao outro com frutas, chocolates, vinho do porto na cama. Fatias de manga fazem opções sensuais e suculentas, como tâmaras e figos. Os fãs de chocolate podem gostar de experimentar trufas ou morangos com cobertura de chocolate ou mel.
Pegue a comida entre os seus lábios, então coma devagar, mantendo contato visual por toda parte. E o mais importante, aproveite! Se você gosta de mudar as coisas um pouco, vendando seu parceiro antes de alimentá-lo é uma maneira sexy de fazê-lo. Você pode até mesmo transformá-lo em um jogo sexy, pedindo ao seu parceiro para identificar o que está comendo e, em seguida, oferecendo uma recompensa, se estiver certo. Há na sensualidade uma espécie de alegria cósmica.
Se você planeja fazer a alimentação na cama, permita tempo para preparar a área com toalhas que você não se importa de corar ou pode ser lavado, isso é algo que a vítima do molho de chocolate Kopenhagen pode alegremente atestar.
Não invente de passar chocolate e chantilly no corpo, fica muito grudento e doce, o que fica no caminho das coisas. Se a ideia é ficar íntimo com a comida, o Dia dos Namorados pode ser o momento perfeito para experimentar. Montesquieu disse: a vantagem do amor sobre a libertinagem é a multiplicação dos prazeres.
Brincar com comida é uma combinação de diversão, experimentação e bom senso. Esteja seguro, torne isso divertido, e seja honesto – não apenas com você mesmo, mas com seu parceiro também. Você ficará surpreso com o que pode acontecer no quarto se você for mais aberto com as coisas. O erotismo é uma das bases do conhecimento de nós próprios, tão indispensável como a poesia. Lembre-se, o que é verdadeiramente imoral, é você desistir de si mesmo.
CAÇAROLAS E VINHOS
Na Europa, as temperaturas são geralmente mais baixas e a tradição favorece o consumo dos tintos mais encorpados e alcóolicos, que “esquentam” e harmonizam com os pratos mais pesados e de maior sustância consumidos no inverno. Muito por conta disso, o Brasil importou a ideia equivocada de que este tipo de vinho é superior aos demais. Prefiro simplificar. Para mim, “vinho bom é aquele que se gosta”. Portanto, se lhe agrada, não vai ser o clima e as regras que vai ditar o que você bebe. Mas é claro que há indicações.
Além de pratos literalmente mais quentes, dias frios pedem vinhos encorpados, na maioria das vezes tintos. Eu indico rótulos como o Luis Cañas Crianzas 2009, que foi avaliado com 92 pontos no guia Robert Parker e tem 14% de álcool. Outra dica de mesma graduação alcoólica, o Clos de Mures 2010, de Languedoc, na França, é maturado em madeira de carvalho. São vinhaços!!
DON DAVID MALBEC 2012
Origem: Cafayate, Argentina
Este belo Malbec passa por um estágio de 12 meses em barricas de carvalho francês e americano. De cor rubi, é um tinto rico em aroma de frutas vermelhas frescas, especialmente ameixas e morangos. Na boca, os taninos são redondos, fáceis. É encorpado, com notas tostadas. Combina especialmente bem com carnes de sabor intenso. Sugestão? Carré de cordeiro.
TALENTI ZIRLO IGT 2012
Origem: Toscana, Itália
Produzido pela vinícola Talenti, na região de Montalcino mas sem Brunello e Sangiovese. É um corte de cepas francesas Cabernet Sauvignon, Merlot e Petit Verdot. O que o torna especial para o frio? O bom corpo e o estilo rústico. Experimente com frios e embutidos. Ótima relação de qualidade e preço.
EMILIANA NOVAS GRAN RESERVA 2012
Origem: Valle de Colchagua, Chile
Feito com as cepas Carmenere e Cabernet Sauvignon, tem três características que o tornam indicado para o frio: é encorpado, tem boa estrutura e teor alcoólico elevado (14,5%). Preste atenção no equilíbrio que oferece entre corpo, acidez, teor alcoólico. De quebra, exibe madeira. Muito bom!
BOUZA TANNAT 2013
Origem: Montevideo, Uruguai
A Tannat, cepa francesa que acabou virando símbolo da vinicultura uruguaia, é a estrela deste tinto elaborado pela Bouza, uma das vinícolas de maior prestígio no país. Este vinho apresenta cor rubi intensa e aromas de frutas vermelhas maduras. O amadurecimento em carvalho deu toques de baunilha, coco, chocolate e café. No paladar, é volumoso e apresenta boa estrutura com um final prolongado. É bastante alcoólico (15,5%). Com tudo isso, parece ter sido elaborado sob medida para acompanhar pratos de carne um ponto menos assada no carvão.