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Desenvolver é emancipar o homem

Redação DM

Publicado em 7 de agosto de 2018 às 22:06 | Atualizado há 7 anos

No século XIX, a concepção hegeliana de que a história é a realidade, que a razão, a verdade e os seres humanos são essencial e necessariamente his­tóricos levou à ideia de progresso, ou seja, a de que os seres huma­nos, as sociedades e as ciências, as técnicas e as artes promovem o acúmulo de conhecimentos que por sua vez aumentam o aper­feiçoamento humano. A ideia de que o presente é melhor e supe­rior quando comparado ao passa­do, e o futuro será melhor do que o presente. Essa concepção tam­bém foi compartilhada na França por Augusto Comte que acredi­tava que o progresso é resultante do desenvolvimento das ciências, pois as ciências, segundo Comte, possibilitavam “saber para prever e prever para prover”. Dessa ma­neira o desenvolvimento social re­sultaria do aumento do conheci­mento científico e do controle da sociedade, exercido pela força do conhecimento científico. A ideia de “ordem e progresso” estampa­da na bandeira do Brasil Republi­cano é positivista.

Entretanto, no século XX, hou­ve o advento da ideia de que a his­tória é descontínua e não pro­gressista, de que cada sociedade possui história própria em vez de ser apenas uma etapa numa his­tória universal. A concepção pro­gressista foi usada para legitimar colonialismos e imperialismos, os mais “adiantados” com direi­to a dominar os mais “atrasados”. A ideia de progresso das ciências e das técnicas também passou a ser criticada porque ficou eviden­ciado que em cada época histó­rica e para cada sociedade os co­nhecimentos possuem sentido e valor próprios, e desaparecem ou passam a ser diferentes em outras épocas. Concluiu-se, por­tanto que não há transformação contínua acumulativa e progres­siva da humanidade.

No séc. XIX a filosofia admitia uma ilimitada confiança no sa­ber cientifico e tecnológico para dominar e controlar a nature­za, a sociedade e os indivíduos. Pensava-se que a sociologia pos­suía um saber seguro e definiti­vo sobre o modo funcional das sociedades, e, portanto, os seres humanos irmanados com essa ciência poderiam organizar a so­ciedade de tal modo a evitar desi­gualdades, revoltas e revoluções. Admitia-se também que a Psico­logia possuía a chave final para a compreensão da psiquê huma­na, de tal modo a ser capa de li­bertar o homem de suas angús­tias, medos, ansiedades e todos os tipos de neuroses. Igualmen­te uma pedagoga capaz de “ensi­nar” as crianças a corresponde­rem às exigências da sociedade.

No sec. XX a filosofia já não olhava com “bons olhos” o oti­mismo científico e tecnológi­co do século XIX pois acon­tecimentos como as guerras mundiais, os lançamentos das bombas atômicas sobre Hiroshi­ma e Nagasaki, o totalitarismo Stalinista, o genocídio pratica­do nos campos de concentração nazistas, as guerras do Vietnã, da Coréia, do oriente médio, do Afeganistão, as invasões Russas na Tchecoslováquia e na Hun­gria, as sangrentas ditaduras da América latina e da África, tam­bém a colossal devastação das florestas e dos mares, o aumen­tos de distúrbios mentais, o con­sumo de alimentos e remédios potencialmente cancerígenos, tudo evidenciava que os fatos não correspondiam às ideias.

Na verdade, as grandes po­tências econômicas incorpo­raram nos complexos indus­trial-militares as ciências e as técnicas e certamente passaram a financiar pesquisas e a defini­rem o que deve ser pesquisado e como os resultados devem ser aplicados, sempre em favor das próprias potências que exercem o poder de vida e morte sobre todo o planeta.

Em decorrência dessa toma­da de consciência um grupo de filósofos alemães conheci­do como a Escola de Frankfurt, criou a Teoria Crítica, concep­ção que diferencia a chamada Razão Instrumental, da chama­da Razão Crítica. A primeira é a razão técnico-científica, que argumenta que as ciências e as técnicas não são um instrumen­to para a libertação dos povos, mas de opressão, intimidação, medo, temor e desespero. A Ra­zão Crítica diferentemente, faz uma profunda análise dos peri­gos do pensamento instrumen­tal e propõe que as mudanças sociais, culturais e políticas só fazem sentido caso promovam a emancipação dos seres hu­manos e não corrobora com as ideias de domínio técnico-cien­tífico sobre a biosfera, a socieda­de e as dimensões culturais.


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