Desenvolver é emancipar o homem, equilibrando o direito com o dever
Diário da Manhã
Publicado em 29 de agosto de 2018 às 01:41 | Atualizado há 7 anos
No século XIX, a concepção hegeliana de que a história é a realidade, que a razão, a verdade e os seres humanos são essencial e necessariamente históricos levou à ideia de progresso, ou seja, a de que os seres humanos, as sociedades e as ciências, as técnicas e as artes promovem o acúmulo de conhecimentos que por sua vez aumentam o aperfeiçoamento humano. A ideia de que o presente é melhor e superior quando comparado ao passado, e o futuro será melhor do que o presente. Essa concepção também foi compartilhada na França por Augusto Comte que acreditava que o progresso é resultante do desenvolvimento das ciências, pois as ciências, segundo Comte, possibilitavam “saber para prever e prever para prover”. Dessa maneira o desenvolvimento social resultaria do aumento do conhecimento científico e do controle da sociedade, exercido pela força do conhecimento científico. A ideia de “ordem e progresso” estampada na bandeira do Brasil Republicano é positivista.
Entretanto, no século XX, houve o advento da ideia de que a história é descontínua e não progressista, de que cada sociedade possui história própria em vez de ser apenas uma etapa numa história universal. A concepção progressista foi usada para legitimar colonialismos e imperialismos, os mais “adiantados” com direito a dominar os mais “atrasados”. A ideia de progresso das ciências e das técnicas também passou a ser criticada porque ficou evidenciado que em cada época histórica e para cada sociedade os conhecimentos possuem sentido e valor próprios, e desaparecem ou passam a ser diferentes em outras épocas. Concluiu-se, portanto que não há transformação contínua acumulativa e progressiva da humanidade.
No séc. XIX a filosofia admitia uma ilimitada confiança no saber cientifico e tecnológico para dominar e controlar a natureza, a sociedade e os indivíduos. Pensava-se que a sociologia possuía um saber seguro e definitivo sobre o modo funcional das sociedades, e, portanto, os seres humanos irmanados com essa ciência poderiam organizar a sociedade de tal modo a evitar desigualdades, revoltas e revoluções. Admitia-se também que a Psicologia possuía a chave final para a compreensão da psiquê humana, de tal modo a ser capaz de libertar o homem de suas angústias, medos, ansiedades e todos os tipos de neuroses. Igualmente uma pedagogia capaz de “ensinar” as crianças a corresponderem às exigências da sociedade.
No sec. XX a filosofia já não olhava com “bons olhos” o otimismo científico e tecnológico do século XIX pois acontecimentos como as guerras mundiais, os lançamentos das bombas atômicas sobre Hiroshima e Nagasaki, o totalitarismo Stalinista, o genocídio praticado nos campos de concentração nazista, as guerras do Vietnã, da Coréia, do oriente médio, do Afeganistão, as invasões Russas na Tchecoslováquia e na Hungria, as sangrentas ditaduras da América latina e da África, também a colossal devastação das florestas e dos mares, o aumentos de distúrbios mentais, o consumo de alimentos e remédios potencialmente cancerígenos, tudo evidenciava que os fatos não correspondiam às ideias.
Na verdade, as grandes potências econômicas incorporaram nos complexos industrial-militares as ciências e as técnicas e certamente passaram a financiar pesquisas e a definirem o que deve ser pesquisado e como os resultados devem ser aplicados, sempre em favor das próprias potências que exercem o poder de vida e morte sobre todo o planeta.
Em decorrência dessa tomada de consciência um grupo de filósofos alemães conhecido como a Escola de Frankfurt, criou a Teoria Crítica, concepção que diferencia a chamada Razão Instrumental, da chamada Razão Crítica. A primeira é a razão técnico-científica, que argumenta que as ciências e as técnicas não são um instrumento para a libertação dos povos, mas de opressão, intimidação, medo, temor e desespero. A Razão Crítica diferentemente, faz uma profunda análise dos perigos do pensamento instrumental e propõe que as mudanças sociais, culturais e políticas só fazem sentido caso promovam a emancipação dos seres humanos e não corrobora com as ideias de domínio técnico-científico sobre a biosfera, a sociedade e as dimensões culturais.