Entretenimento

Dia da mulher: nenhum direito a menos

Redação DM

Publicado em 8 de março de 2018 às 00:09 | Atualizado há 5 meses

O dia da mulher não foi ori­ginado de uma vontade da humanidade em homena­gear a ternura maternal feminina, é referente a um processo de luta operária. Um marco da história da mulher, que foi jogada ao mundo do trabalho, não por seus anseios de liberdade, mas por uma neces­sidade do capital e teve que entrar sendo mais explorada e em condi­ções mais degradantes do que já eram as dos homens.

A galera da Rede Estudantil Classista Combativa (RECC) fala sobre a situação da mulher no mer­cado de trabalho, dura como de outros trabalhadores, agregando ainda as duplas jornadas e desvalo­rização: “O capitalismo concedeu às mulheres trabalhadoras a du­pla-exploração e a superexplora­ção. Ao passo que aumenta a parti­cipação das mulheres no mercado, cresce a informalidade e precariza­ção entre elas. As mulheres consti­tuem grande parte do proletariado e sendo parte da classe trabalha­dora e oprimida, se indigna e luta.”

O fato é que só existe trabalho ex­clusivamente masculino até que se necessite que uma mulher o faça. O professor Nicolas Bernardo partici­pa da organização de um evento, no Colégio Estadual do Crimeia Oeste, que pretende mostrar que as mu­lheres são capazes de executar qual­quer função: “Estamos com uma proposta de desmistificar que o dia da mulher é um dia bonitinho, de só mandar flores. Queremos mostrar de fato o porquê esse dia ficou con­siderado o dia mundial da mulher. E como parte dos eventos, queremos mulheres que desempenham fun­ções que, culturalmente, são trata­das como funções de homens.”

DIA 8 DE MARÇO, DIA DE LUTA

Vamos começar pela história do primeiro dia da mulher celebrado no mundo, que aconteceu nos Es­tados Unidos. Comecinho do sé­culo XX, 1500 mulheres se juntam a um protesto por igualdade eco­nômica e política. No ano seguin­te ressurge um ato que reúne mais 3000, só que no dia 28 de fevereiro. Esses protestos chegaram a fechar 500 fábricas nos EUA.

Mas o 8 de março mesmo apon­tou só lá na primeira guerra. Quase 100 mil operárias russas entraram em luta no ano de 1917. A luta des­sas trabalhadoras era contra a fome, as condições de trabalho e a partici­pação da Rússia na guerra. Mas ofi­cial mesmo a data só se tornou em 1921 e para ONU reconhecer, vixe, só no final da década de 70.

Então é isso, não é dia de ga­nhar rosas, é um dia que marca episódios de luta. “O 8 de mar­ço deve ser visto como momento de mobilização para a conquis­ta de direitos e para discutir as discriminações e violências mo­rais, físicas e sexuais ainda sofri­das pelas mulheres, impedindo que retrocessos ameacem o que já foi alcançado em diversos paí­ses”, explica a professora Maria Célia Orlato Selem, mestre em Es­tudos Feministas pela UnB.

A MULHER NA CENA CULTURAL GOIANA

Juliana Pimentel é uma raridade da cena cultural goiana, ela é produtora e realiza festivais na capital, que esbarram em algumas dificuldades como ela con­ta: “Trabalho com produção cultural há 5 anos, sou formada em Produção Cêni­ca, e sou a única produtora cultural em Goiânia que faz festivais musicais de mé­dio porte, o engraçado é que ninguém sabe disso,sempre que faço a divulgação dos meus eventos noto que são raras as pessoas que compartilham os flyer ou fa­çam o mínimo de interação com o even­to, a pior parte é que os poucos que con­tribuem com a divulgação são homens, posso contar nos dedos quantas vezes uma mulher que me conhece divulgou algum evento que realizei”.

“Isso reflete no meu anonimato, mi­nha produtora (Muvuca Produções) ou o meu nome (Juliana Pimentel) não são tão fortes quanto aos que homens são produtores, e em diversas situações profissionais contratados por mim não tiveram respeito por mim, atrasam pra­zos de entregas, não entregaram regis­tros audiovisual, me abandonaram na assessoria de imprensa sem comuni­car, me furtaram, passaram por cima das minhas ordens, me caluniaram e isso sem falar no assédio sexual que já é de praxe, e até projeto copiado eu tive, realizei um projeto intitulado ‘’Novos Goianos’’ em abril de 2017 e em junho de 2017 foi realizado o ‘’Novos Pequis’’, com a mesma abordagem e conceito, o que me deixou mais triste nessa situa­ção foi que quem fez isso foi uma mu­lher, uma cantora que havia participa­do de vários projetos meus e inclusive do ‘’Novos Goianos’’. Então, infelizmen­te o machismo está tão enraizado que até quem é vítima acaba sendo agres­sora”, desabafa a produtora.

GREVE INTERNACIONAL DE MULHERES

Data: 8 de março

Horário/local: às 16h, na Praça do Bandeirante, em Goiânia-GO

PROGRAMAÇÃO

Ato Ancestrais pelo fim da violência contra as mulheres

16h – Concentração Praça do Bandeirante

Oficina de Confecção de Cartazes e Pinturas de Corpos

18h – Caminhada sentido Av. Anhanguera – Alameda Botafogo

19h – Caminhada sentido Alameda Botafogo – Praça Universitária

19h30 – Apresentações Culturais – Praça Universitária

Cartaz coloca a questão da desigualdade de gênero e trabalhista lado a lado

 

CONVOCAÇÃO PARA GREVE INTERNACIONAL DAS MULHERES

 

FRENTE FEMINISTA AUTÔNOMA

Esta triste herança patriarcal, arcaica, ultra­passada, mancha nossa história, e segue em­placando ano a ano manchetes vergonhosas que destacam a realidade brutal de violência contra as mulheres em Goiás e no Brasil. O mês de março chega neste contexto para relembrar a luta das mulheres contra a opressão/explo­ração machista, racista, lesbofóbica, transfóbi­ca e burguesa dos Estados–e qualquer um de seus governos–sobre as mesmas.

Em Goiás, a Frente Feminista Autônoma convoca mulheres a se juntarem nesta quinta (8 de março), às 16h, na Praça do Bandeiran­te, em defesa dos seus direitos e dizerem jun­tas, em alto e bom som, dizer: Basta! Nenhuma a menos! Juntas somos fortes! E levantar esta reflexão sobre o papel de cada uma e cada um na construção de uma sociedade que respeite a diversidade de gênero e promova a equida­de e a justiça social.

Assim como a mulheres do mundo intei­ro, as mulheres de Goiás lutam para resistir à ofensiva do capitalismo que apresenta “falsas soluções”, baseadas na expansão do mercado, como: mais exploração dos recursos naturais; novas tecnologias de controle, da natureza, do conhecimento, dos nossos corpos.

No Brasil, com a reforma trabalhista, esta realidade grita com a exploração do traba­lho, principalmente sobre as mulheres, e com maior intensidade nas mulheres negras, indí­genas e moradoras das periferias. Receber sa­lários menores que dos homens, estar alijadas dos espaços de representação pública, ocupar cargos precarizados e, ainda, se ver diante da precariedade também dos serviços públicos, faz parte desta realidade excludente.

Creches públicas desestruturadas e insufi­cientes, fazendo com que mães, quando têm seus empregos, não tenham onde deixar seus filhos; serviço de saúde que não atende às de­mandas do povo, onde mulheres não tem aces­so à informação sobre educação sexual, repro­dutiva e contraceptiva, sem contar as filas de espera para realizar exames, quando conse­guem; transporte público coletivo caro e es­casso onde são submetidas à superlotação que dificulta seu acesso ao trabalho e estudo, onde por inúmeras vezes são vítimas de assé­dio… É impossível negar que quem mais arca com este peso social são as mulheres.

Mulheres que têm seus corpos e suas men­tes sempre postos em jogo e em processo de adoecimento, quando não submetidas à exaus­tão como mão de obra nos ambientes de traba­lho, seja em casa ou na rua, onde também são vítimas de assédio sexual e moral, são tratadas como mercadoria. Como as que vivem em si­tuação de prostituição, em que se encontram a maioria das mulheres trans e travestis, que têm seu acesso a empregos formais negados; mulheres que estão expostas de maneira mais intensificada às violências sexuais e morais.

Mulheres indígenas que veem seu povo e sua cultura ser massacrada e sua terra rouba­da, camponesas que resistem às ameaças diá­rias a terra e seus recursos de vida no campo. São ataques por todos os lados, inclusive de homens do povo que reproduzindo as opres­sões nos inferiorizam e violentam, traindo a quem deviam dar apoio!

Neste 8 de março de 2018 renovamos nosso compromisso na luta por condições materiais de sobrevivência, para romper com os as opressões sofrimentos vividas. Um ato sensível, poético, libertário… Para mulheres negras, indígenas, não brancas, brancas, lésbicas, trans, travestis ou héte­ro, da cidade e do campo, sobretudo, para as mulheres trabalhadoras.

Uma história de resistência e luta que honra todas que perderam suas vidas e seguem der­ramando lágrimas e sangue pela justiça, pelo direito e pela dignidade. Uma guerra que al­meja nada menos que o direito de desfrutar­mos nossa própria cultura, nossa sexualidade e nossas potencialidades individuais transfor­madoras e de expressão de um mundo solidá­rio e verdadeiramente humano!

Abaixo a violência do estado e seus gover­nos contra as mulheres!

Nenhum direito a menos!

Nenhuma a menos!

A mulher move o mundo!

 

 

 

 

Tags

Leia também

Siga o Diário da Manhã no Google Notícias e fique sempre por dentro

edição
do dia

Impresso do dia

últimas
notícias