Entretenimento

Diego Caetano Brasileiro impressiona plateia europeia

Diário da Manhã

Publicado em 24 de julho de 2018 às 23:47 | Atualizado há 4 meses

O pianista Diego Caetano, 28, não tem fronteiras. Concertista internacio­nal, nos últimos meses ele cole­cionou inúmeras interpretações na Europa que foram festejadas pela crítica especializada. Diego mora nos Estados Unidos, onde virou a página de um doutorado e agora tem lecionado piano.

Bem antes de tudo, na adoles­cência e início da vida adulta, esta­va entre Anápolis e Goiânia – onde cursou piano na Universidade Fe­deral de Goiás (UFG) e frequentou aulas do Lílian Centro de Música, tradicional escola de música.

Em junho deste ano, Diego ini­ciou sua turnê musical com uma vi­tória no Concurso Internacional de Piano da Romênia – um dos mais disputados do mundo.

O que mais chama atenção na performance do pianista goiano é sua clareza, dinâmica, expressivi­dade e, sobretudo, a paixão arreba­tadora com que desenvolve suas cadências. Todos estes predicados fazem de Diego um artista completo na atualidade – possibilidades que o transformou em virtuose sensível e unanimidade por onde toca.

Celeiro de grandes pianistas, Goiás ainda não tem substituto à al­tura de Belkiss Carneiro Mendonça – a dama da música goiana, a prin­cipal responsável por estruturar o ensino e disseminar o modernis­mo musical tanto em Goiás quan­to no Brasil. Todavia, vários pianis­tas completam sua missão. Diego, por exemplo, faz o que Belkiss optou em não fazer: conquistar o mundo. E Diego faz com categoria.

Neste sentido, teve ajuda funda­mental de Lílian Carneiro Mendon­ça, nora de Belkiss e a presidente do Lílian Centro de Música, o Instituto privado de maior reputação musi­cal no País, ao lado do Conservató­rio Souza Lima, de São Paulo.

Foi com Lílian que Diego co­nheceu suas potencialidades e tornou-se maduro suficiente para cruzar as fronteiras. Vencedor de dezenas de prêmios nacionais e in­ternacionais, Diego hoje encara o repertório “dos grandes” e mesmas orquestras que já se apresentaram ao lado de lendas nacionais, como Nelson Freire e Arnaldo Cohen. Sua predileção é a obra dos ro­mânticos e modernos, tendo em seus programas sempre a divulga­ção de compositores brasileiros e dos países que frequenta.

Nesta última turnê europeia, Diego teve o acompanhamento da amiga e professora Lílian, que se en­cantou com o desempenhou do jo­vem nos palcos mais exigentes do mundo. “As apresentações na Itália e Inglaterra foram fantásticas. Hip­notizantes”, resume a professora.

Através das redes sociais e da repercussão na imprensa se vê que o pianista venceu o grande prêmio da Romênia pela obsti­nação. Diego tem objetivos. Cos­tuma cumpri-los com rigor. Até chegarem à esperada naturalida­de, suas execuções são amadure­cidas por interpretações, reinter­pretações e desenvolvimento de uma manifestação única.

Ao mesmo tempo em que é obri­gado a respeitar a criação genial de um Chopin, Rachmaninoff ou Tchai­kovsky, ele tem a liberdade pessoal da interpretação, justamente o que o faz vencedor dos concursos que partici­pa. O pianista goiano tem conquista­do a maioria dos prêmios que enca­ra, como o disputadíssimo Concurso internacional da Steinway, verdadei­rodesafioparaquemalmejaumlugar no rol dos grandes instrumentistas.

O rigor da execução – seja em recitais ou nos estudos – inclui todo o check list de um bom pia­nista: digitar corretamente, pres­sionar a tecla no local em que se fará o som percutir de forma audí­vel, manter a métrica e a dinâmica dos intervalos em perfeito balan­ço, cuidar, enfim, para não defor­mar o desenho melódico. Mais: quase sempre identifica o mais rá­pido possível as características do piano que usará em cada apresen­tação. Não bastasse, tem que com­preender os sentimentos deixados pelo compositor. Tudo isso ele se obriga a fazer: dia e noite.

DIGITAIS

Mas não acabou: em cada pas­sagem que Diego faz nos palcos do mundo, como fez agora na Euro­pa, ele deixa suas impressões digi­tais na música que ecoa no ar. Suas emoções, sonhos, ideais, seu apren­dizado que teve na infância e ado­lescência… ricocheteiam no espa­ço e acabam na memória de quem presenciou tais execuções.

Enfim, além da interpretação perfeita, existe o ser humano único e que se relaciona, que vive e revive memórias. Por isso suas interpreta­ções são tão festejadas pela crítica, público iniciado e neófito. Por trás de toda elegância e nitidez das no­tas, pulsa o humano. Por isso ele é tão importante para Goiás e agora para os Estados Unidos, pois leva, por onde passa, as impressões de sua vivência atual e sua terra.

 

Pianista representa musicalidade goiana no mundo

O pianista Diego Caetano ini­ciou seus estudos com Lílian Car­neiro Mendonça no começo da década passada. Cursou Música na Universidade Federal de Goiás (UFG), instituição que ofertou au­las e amizade da pesquisadora Maria Helena Jayme Borges.

Nos Estados Unidos, com­pletou um mestrado e douto­rado em Piano. Lá teve outro importante aliado para dina­mizar sua técnica e torná-lo pianista internacional: David Korevaar, um renomado con­certista com memoráveis gra­vações de J.S Bach.

A partir da Universidade de Boulder, no Colorado, onde teve aulas com Korevaar, o pia­nista goiano adquiriu um re­pertório de qualidade, suficien­te para arrebatar os principais palcos do mundo.

Mais recentemente Diego fi­xou residência em Amarillo, no Texas, onde forma novos pianis­tas na Amarillo College.

Na turnê vitoriosa que partici­pou em junho, Diego se apresen­tou na Rússia, Portugal, França, Inglaterra, Romênia, Itália e Es­panha. O repertório foi amplo. Em alguns países chegou a in­cluir compositores nacionais no programa – como no caso de Por­tugal, onde interpretou obras de Liszt, Chopin e também do por­tuguês Luís Costa – responsável por deixar principalmente uma obra consolidada em música de câmara, vocal e piano solo.

IMPRESSIONANTE

As interpretações que Diego tem realizado em todo mundo demons­tram que algo ainda muito grande está por vir. Ele catalisa toda uma geração de artistas que não admi­te a robotização ou desmitificação da música como arte que transcen­de e vivifica. Daí que sua missão é mais do que de divulgação. É de en­frentamento. Por onde passa deixa uma mensagem clara de que a mú­sica permanece como princípio ci­vilizatório. E que ela permeia outras manifestações responsáveis por dar dignidade ao homem, como a edu­cação, o direito à cultura e a poesia. Aliás, em um dos posts que deixou em uma rede social recentemente, ele traz a citação de Sergei Rachma­ninoff, para o que é música: “O que é música? Como você define isso? A música é uma noite calma ao luar, o farfalhar das folhas no verão. Músi­ca é o repique de sinos ao entarde­cer! A música vem diretamente do coração e fala apenas ao coração: é Amor! A música é a irmã da poesia e sua mãe é a tristeza!”

Em Turim, na Itália, durante a apresentação de “Gnomenreigen”, de Franz Liszt, para a Fundação Franz Liszt, ele demonstrou que Rachmaninoff estava certo, mas não totalmente. A música é tam­bém drama, loucura, desespe­ro, energia, velocidade, fantasia. A mão esquerda martela acordes e baixos enquanto a direita pas­seia por semifusas velozes na es­cala de fá menor/maior. Se começa seca, “stacatto” e ligeira, ele avança para o rapidíssimo (muitas vezes no “sempre presto”) até nós, os ou­vintes, perdermos o fôlego. Apesar das modulações, existe um sentido de ser ora em fá sustenido menor ora maior – exatamente para que­brar toda a ideia de que a música seja em teoria uma coisa, mas na prática torna-se outra. Diego faz muito bem seu papel: impressio­na, instiga, leva o ouvinte a pensar sobre a condição humana.

Sua cadência para esta peça re­vela, em síntese, que a música di­ficilmente se define. Ainda mais o talento de artistas do nível de Die­go, que na pós-modernidade es­tão diante da quebra de vários pa­radigmas e regras que por muito tempo tornaram a música exces­sivamente acadêmica e fechada a pequenos círculos.

Por mais que Diego seja sem­pre o mesmo, cada desempenho é único e polissêmico. Daí que suas apresentações no Brasil, no Lílian Centro de Música, em no­vembro, ou sua apresentação na série “Concertos especiais”, rea­lizada em 2017, no Centro Oscar Niemeyer, em Goiânia, sob a ba­tuta do maestro Neil Thomson, sejam sempre diferentes e únicas. E, verdade seja dita, muitas vezes, devido a grande carga de emo­ção, Diego transborda mais poe­sia do que musicalidade, pois os fás, os dós, os acordes diminutos e as escalas em junção parecem dizer verdadeiras palavras. E, sim, Sergei Rachmaninoff , em grande parte da história da música, pala­vras bastante tristes, como queria a mãe da música.

 

Tags

Leia também

Siga o Diário da Manhã no Google Notícias e fique sempre por dentro

edição
do dia

Impresso do dia

últimas
notícias