Do putsch militar fracassado de 1935 à morte de Marielle Franco, em 2018
Diário da Manhã
Publicado em 29 de março de 2018 às 01:25 | Atualizado há 7 anos
- Dirigente socialista lutou a ultima “Batalha das Utopias”, de 1936 a 1939, a Guerra Civil Espanhola, nova derrota e fica preso em campo de concentração
- Antes da Anistia retornar ao Brasil, diverge de Luiz Carlos Prestes, o Cavaleiro da Esperança, alia-se a Giocondo Dias e morre no ano de 1988
- Filho, nascido no PCB, em 1932, é detido na campanha O Petróleo é Nosso, cai na clandestinidade em 1964, é anistiado e tem, hoje, 85 anos
O seu pai, nascido em 22 de setembro de 1904, era tenente-aviador do Exército Brasileiro. Cooptado para o Partido Comunista do Brasil, fundado em 25 de março de 1922, em Niterói, por nove operários, pelo tenente da Aeronáutica, Ivan Ribeiro, participou do levante frustrado de 1935 contra o presidente da República, Getúlio Vargas. Com o putsch militar fracassado, parou atrás das grades. Saiu, apenas, com a “Macedada”. No ano de 1937. Logo, embarcou para a Espanha. Lutou ao lado dos republicanos. Na última “Batalha das Utopias”. A Guerra Civil Espanhola [1936-1939]. Uma nova derrota. Francisco Franco instala uma ditadura. De 1939 a 1975, na Espanha. Confinado em um campo de concentração, na França, consegue escapar. Ao lado de Davi Capistrano, Assis Brasil e Nelson Vento-Sul. Os quatro se encontram com o resistente Apolônio de Carvalho. A volta ao Brasil ocorreu pela Venezuela. Essa é a saga histórica de Dinarco Reis. Velho adepto das ideias de Karl Marx, Friedrich Engels e Vladimir Ilich Ulianov, codinome Lênin. A sua vida é narrada, em flashbacks, por Dinarco Reis Filho, 85 anos, hoje, atual presidente da Fundação Nacional do PCB Dinarco Reis. Com sede do Rio [RJ].
– Nasci dentro do PCB [risos]. Em 14 de novembro de 1932.
Para manter a tradição da família vermelha, Dinarco Reis Filho ingressa, em 1948, na cidade de Belo Horizonte, capital do Estado de Minas Gerais, na União da Juventude Comunista. A UJC. Com 16 anos. Já no ano de 1959 começa a trabalhar na Petrobras. Na profissão de instrumentista industrial. Função de controle do processo industrial, explica. Com os cabelos grisalhos, o rosto com marcas de cansaço, em luta contra o diabetes, hipertensão e asma, como Ernesto Guevara de Lar Serna, El Che, o médico argentino que fez a revolução cubana de 1959, ao lado de Fidel Castro Ruz, Raúl Castro e Camilo Cinfuegos, o sorriso dos trabalhadores de Havana, ele revela ter sido cassado pela ditadura civil e militar, de 31 de março e 1º de abril de 1964. Sem saída, desempregado, caiu na clandestinidade. O seu genitor refugiou-se, pós-1968, ano de revoltas no Brasil e no mundo e da decretação do AI- 5, em 13 de dezembro, por Arthur da Costa e Silva, general-presidente de plantão, no Velho Mundo. Paris, Praga e Roma. Antes mesmo da Anistia, retorna ao Brasil. Em 1978. Pelas fronteiras do Uruguai. O pai, a mãe, Lygia França Reis, passam a morar com o filho, na Cidade Maravilhosa. A Anistia sai somente depois.
– Em 28 de agosto de 1979. [Sem o retorno dos desaparecidos políticos nem a punição do torturadores, responsáveis por violações dos direitos humanos e crimes de lesa-humanidade].
Para ironizar e provar que comunista não come criancinhas, Dinarco Reis Filho lembra que Elson Costa, preso político desaparecido, teria lhe dado o primeiro cálice de cachaça na vida. Para espantar o frio, recorda-se. Meu segundo pai, emociona-se. Era casado com Eglaé Costa, de Goiás, relata. Morei com Davi Capistrano – assassinado pela ditadura civil e militar e que teria tido o corpo esquartejado, informa. O velho Apolônio de Carvalho me chamava de Dinarquinho, confidencia. Também conheci o historiador Jacob Gorender, frisa. Que, em 1968, fundaria com Mário Alves o Partido Comunista Brasileiro Revolucionário [PCBR], aponta. O homem morara na mesma casa com Carlos Marighella. Trata-se do carbonário baiano, filho de um italiano com uma negra da etnia Haussá, deputado federal constituinte em 1946, cassado em 1947, preso à época do Estado Novo e em 1964, após a queda do nacional-estatista, em sua versão trabalhista, João Belchior Marques Goulart, e executado, a sangue frio, em 4 de novembro do ano turbulento de 1969, à Alameda Casa Branca, São Paulo, Capital. Em operação sob o comando do delegado de Polícia Sérgio Paranhos Fleury, que morreria em 1979.
– Luiz Carlos Prestes, o Cavaleiro da Esperança, retorna, em 1979, lança, em 1980, a “Carta aos Brasileiros”, rompe com o Comitê Central e propõe a construção de um ‘Partido Revolucionário’.
RUPTURAS
Dinarco Reis, pai, e Dinarco Reis Filho rompem com o velho secretário-geral, Luiz Carlos Prestes, que deixara a sigla. Os dois se aliam a Giocondo Dias. Eles permanecem no PCB, o Partidão. A legenda da foice e do martelo, como o PC do B, que surge em 18 de fevereiro de 1962, e o MR-8, uma dissidência que surgiu na Guanabara, fez ‘entrismo’ no MDB e, depois, no PMDB, com a reformulação partidária patrocinada por Golbery do Couto e Silva. Sob o mandato do presidente da República, João Baptista de Oliveira Figueiredo. O general que preferia o cheiro de cavalo ao odor dos trabalhadores, que se recusou a entregar a faixa presidencial a José Sarney, na transição para a Nova República, em 15 de março de 1985, e que saiu do Palácio do Planalto pelas portas dos fundos. Velho, cansado, Dinarco Reis morre, no ano de 1988, aos 84 anos. Lágrimas escorrem pelas faces dos camaradas. Quem disse que comunista não chora? Prantos e punhos levantados. Em memória de um revolucionário. Um ano depois, cairia o Muro de Berlim. Em 9 de novembro de 1989. Após, no mesmo ano, a Revolução de Veludo, na Tchecoslováquia. A dinastia dos Ceausescu acaba com fuzilamentos.
– Roberto Freire funda, em 1992, o PPS, Partido Popular Socialista.
Indignado, em defesa das tradições, em particular, do marxismo-leninismo, Dinarco Reis reage. No Teatro Zácaro. Depois para o Colégio Rooser. Ao lado de Ivan Pinheiro, Ana Montenegro, Horácio Macedo, Antônio Carlos Mazzeo, João Carlos de Araújo Santos, Zuleide Faria de Mello, Carlos Telles, Edmilson Costa. O PCB é refundado. Crítico, ele classifica o impeachment de Dilma Rousseff, presidente da República reeleita, em 2014, com 54,5 milhões de votos válidos, como golpe. Do capital – agronegócio, industrial e financeiro –, com o suporte dos aparatos policial [PF] e jurídico do Estado [Com o Supremo e tudo…], além do apoio ostensivo dos grandes conglomerados de comunicação no Brasil. O comunista do século 21 define as reformas de Michel Temer [MDB-SP] como ultraliberais. Para o desmonte do Estado, destruir conquistas sociais como a Carteira de Trabalho, o vínculo trabalhista formal, com FGTS, fim de semana remunerado, férias, 1/3 a mais no salário, 13º, multa por rescisão, a CLT, entregar o Pré-Sal aos Estados Unidos, o Tio Sam, vender a Eletrobrás, privatizar o Banco do Brasil [BB], a Caixa Econômica Federal [CEF], os Correios, e implantar o Estado Mínimo, de corte neoliberal, diz.
– Qual a saída em tempos de morte de ativistas, como a de Marielle Franco, em 2018, mulher, negra, feminista, socialista? É o Poder Popular. A construção do socialismo. No Brasil!
Cronologia
1883 Morre Karl Marx
1917 Revolução russa
1922 Fundação do PCB
1935 Putsch fracassado
1946 Legalização do PCB
1964 Golpe no Brasil
1979 Lei da Anistia
1985 PCB é legalizado
1989 PCB disputa eleição
1992 PPS é fundado
2016 Golpe parlamentar
2018 Marielle Franco morta