Em memória da Justiça
Diário da Manhã
Publicado em 5 de fevereiro de 2018 às 22:47 | Atualizado há 4 meses
Um trabalho de pesquisa que envolve reunião, recuperação de documentos e relíquias centenárias, ou seja, de boa parte de ítens que remetem ao estabelecimento do Poder Judiciário em Goiás, tem sido executado na primeira “casa das leis” do território goiano: a cidade de Goiás. Pois, o Tribunal de Justiça do Estado de Goiás (TJ-GO) está concretizando o sonho antigo de transformar o prédio do Fórum Desembargador Emílio Francisco Póvoa, onde atualmente funciona a Comarca de Goiás, no Centro de Memórias do Poder Judiciário de Goiás.
A construção deste espaço era uma ideia antiga e diversas vezes ensaiada nas exposições comemorativas do TJ-GO. Contudo, foi depois que ficou decretado a transferência do Fórum da cidade de Goiás – antiga capital do estado e que atualmente é tombado como Patrimônio Mundial da Humanidade pela Unesco –, para outro espaço, em maio deste ano, que o presidente do TJ-GO, o desembargador Gilberto Marques Filho começou a dar vida à iniciativa.
E esta adaptação do prédio do Fórum em Centro de Memória já foi anunciada pelo presidente do TJ-GO durante a solenidade de transferência da capital para a cidade de Goiás, em julho do ano passado. “O Forúm, trata-se de um prédio histórico, que tem toda uma tradição. É um local super adequado para o ser o Centro de Memórias do Poder Judiciário, porque o próprio local já é uma referência histórica. Tudo se encaminha para um belo trabalho”, argumenta o desembargador Itaney Francisco Campos, o coordenador do projeto.
Orçado em 3 milhões, o centro de memórias prevê ainda reformas e adaptações. E sua inauguração deve acontecer até final do ano. De acordo com o desembargador Itaney Francisco Campos, o objetivo é de transformar o espaço em um acervo volumoso, interativo e tecnológico. “Queremos ainda que seja um organismo vivo, de atualização constante, que atráia comunidade, turistas e pesquisadores”, disse o desembargador Itaney Francisco Campos, que como cidadão vilaboense, revelou estar empolgado com o projeto. “Goiás e berço cultural do Estado e uma jóia da arquitetura”, destaca.
PARCERIA
Para que o local se torne uma referência da história do Poder Judiciário em Goiás, está em tramitação um termo de cooperação com a Universidade Federal de Goiás (UFG). A intenção de tal união é que seja formada uma equipe com docentes e técnicos das áreas de museologia, arquivologia e história da universidade, com o TJ. Isso para consolidar procedimentos indispensáveis à execução das ações, tais como: pesquisa, classificação, descrição, e claro, a garantia da proteção e integridade dos bens que vão integrar o acervo histórico-cultural da Justiça em Goiás.
Em uma reunião no final do mês passado, a Comissão do Centro de Memória do Poder Judiciário de Goiás também firmou parceria com integrantes da Fundação Educacional da Cidade de Goiás e com a Organização Vilaboense de Artes. A perspectiva do TJ é que após a inauguração, seja escolhida uma OS para administrar o Centro de Memórias.
A preocupação pelos detalhes, pesquisa, interação e atualização do acervo, conforme o desembargador, explica o porquê de o projeto ter sido intitulado como Centro de Memórias e, não apenas um museu. Tanto os propósitos como a nomenclatura da iniciativa seguem ainda um modelo já executado por Tribunais de outros estados do Brasil, a exemplo dos TJs de Pernambuco e São Paulo. E a proposta cumpre ainda a Recomendação n° 37, de 15 de agosto de 2011, “que orienta os Tribunais a observância das normas de funcionamento do Programa Nacional de Gestão Documental e Memória do Poder Judiciário”.
MÃO NA MASSA
Em visita a cidade de Goiás, o DMRevista, acompanhou um dia de trabalho, da assessora do gabinete dos juízes auxiliares da Presidência do TJ-GO, Rose Marie Curado, que faz parte da comissão Gestora de Implantação do Centro de Memórias do Poder Judiciário de Goiás, no “garimpo” de documentos, fotos, móveis antigos, que invocam os primórdios da justiça no Estado.
Entre o Gabinete Literário Goyano, o Arquivo São Simão e o Forum, Rose – que sempre ressalta suas raízes com a cidade de Goiás, pois passou grande parte da vida no município – está fazendo uma verdadeira caça ao “tesouro”. E acompanhar parte deste trabalho foi certamente uma viagem ao tempo. Pois, foi possível entrar em contato com documentos da época em que a República Federativa do Brasil era conhecida como Estados Unidos do Brasil, por exemplo. Ainda vimos processos mais antigos escritos à mão, datados em meados do ano 1870.
A historiadora e especialista em arquivologia e gestão de patrimônio cultural, Maria de Fátima, que administra o Arquivo São Simão, explicou á nossa equipe que, devido a falta de um projeto como o Centro de Memórias do TJ-GO em Goiás, muita coisa, provavelmente foi perdida. “Uma vez teve um incêndio em um cartório da cidade e me falaram que queimaram o testamento do Veiga Valle. Segundo me falaram”, enfatiza.
E para evitar outras perdas, Rose está empenhada. “Vamos ainda realizar campanhas de incentivo junto à população local para doação de documentos, peças raras que remontam ao judiciário goiano, como as também visitaremos históricas comarcas de Corumbá, Luziânia e Pirenópolis. Temos o intuito de conseguir o maior acervo possivel”, promete.
HISTÓRIA VIVA
Entrar no Fórum da cidade de Goiás é ter aos olhos o contato com o moderno e o tradicional. Ao mesmo tempo. Para adentrar a grandiosa construção, localizada ao Largo do Rosário, por exemplo, como todo em prédio público, os visitantes devem passar primeiro por um detector de metais. Mas em seguida, pode-se deparar com uma enorme e imponente escadaria de madeira, com e corrimãos e degraus muito brilhantes. Porém, apesar da beleza, o segurança do Forum alerta sempre que ela não é lá muito segura. “Cuidado é muito íngreme”, disse
No plenário das sessões, mais história – um quadro de Dom Pedro II, uma maquina de escrever, hoje vintage, condecorações e homenagens (algumas com descrições, revelam uma tentativa anterior de se fazer um museu).
Tudo isso, são, sem dúvidas, marcos de uma época, muito linda de se ver. Porém, um tanto quanto obscura, já que a justiça naquela época ainda engatinhava.
Segundo o desembargador Itaney Campos, na Goiás enquanto província, havia a velha mistura entre administração e judiciário. A partir de 1730 começou a surgir povoados e houve a necessidade da justiça.
“Em 1874, se instalou o primeiro Tribunal de Goiás. Era um tribunal de relação, porque, na verdade, até o período da Revolução Francesa e a Revolução Americana, sobretudo, a partir de Montesquieu, com a teoria da tripartição dos poderes, é que se definiu melhor as definições do Estado: o estado como administração, o estado como jurisdição e o estado legislativo” explica
Ainda segundo ele, a Justiça se formalizou melhor, a partir do século XVIII, em que houve a criação de vários tribunais, do Segundo Império e, depois, com a República, ouve autonomia e pôde-se legislar. “Isso tudo é história que precisa ser preservada para conhecimento do nosso passado, para a gente projetar no nosso futuro e não voltarmos aos erros do passado. Isso representa o reconhecimento de nós mesmos, nossa identidade como povo as nossas tradições e como chegamos onde estamos”, ressalta o desembargador, se referindo a importância do centro de memórias.
DADOS HISTÓRICOS DO FÓRUM
1874 – A instalação solene do Tribunal da Relação de Goiás se deu no dia 1º de maio de 1874. Por sorteio, assumiu a presidência o desembargador José Ascenço. O primeiro julgamento foi realizado na sessão de 19 de maio de 1874, tratando do Habeas-Corpus nº 1, da Vila de Santa Cruz.
1890 – foi empossado o primeiro presidente eleito, o desembargador Francisco Manoel Paraíso Cavalcante, empossado. Promulgada a primeira Constituição republicana, que outorgou aos Estados a autonomia administrativa e o poder de legislar sobre o direito judiciário, o governo local nomeou novos juízes.
1893 – A Justiça foi reorganizada o órgão máximo de 2ª instância passou a ser denominado Superior Tribunal e a instalação do novo Tribunal.
Em março de 1937, foi transferido para Goiânia definitivamente.