Emancipação feminina
Diário da Manhã
Publicado em 29 de abril de 2018 às 01:35 | Atualizado há 5 meses
Na última sexta-feira, dia 27, a cantora e compositora norte-americana Janelle Monáe lançou seu terceiro álbum, Dirty Computer, que encerra um hiato de cinco anos desde seu último disco, The Electric Lady, de 2013. A cantora ganhou visibilidade em 2010, com o álbum The Archandroid, que trouxe elementos de ficção científica e de afrofuturismo para contar a história de um andróide messiânico em busca de amor, autoconhecimento e realização. A cantora, de 32 anos, já recebeu seis indicações ao Grammy, premiação de grande prestígio no mundo da música. Desde fevereiro, cinco videoclipes foram lançados para promover o novo trabalho. O cantor Prince, falecido em 2016, colaborou com várias canções. Os dois já haviam trabalhado juntos em 2013.
Além das músicas, Dirty Computer vem acompanhado por um filme: Dirty Computer: An Emotion Picture by Janelle Monae. Ambientado num futuro distópico e pós tecnológico, trata de assuntos bastante atuais, como a solidão e a busca por experiências vívidas.
No site Rate Your Music, uma comunidade virtual que busca catalogar todo o tipo de música já lançada em todo o mundo, vários usuários já apresentaram uma opinião sobre o album. O internauta CbTheDog, de 32 anos, falou da experiência provocada pelas novas músicas de Janelle. “A franqueza de suas letras tem uma espécie de temperamento punk”, afirma. “Quando misturada com a atmosfera soul, é imbuída de uma experiência desorientadora, polarizadora, e por fim, emocionante”, explica. De acordo com as descrições eleitas pelos usuários do site, o álbum traz as seguintes ideias: LGBT, sexual, político, eclético, futurista, triunfante, entre outros. Dirty Computer figura, desde que foi anunciado, entre os lançamentos mais aguardados de 2018.
“É certamente um álbum ambicioso, e os sentimentos que ele carrega são gritantes. Em alguns momentos Janelle Monáe parece soletrar cada detalhe para o ouvinte”, continua CbTheDog em sua avaliação. “Talvez isso mostre como as pessoas parecem confusas em relação aos tópicos em questão (ou seja, o feminismo), mas para mim, isso retira a urgência do disco. Eu não sinto a necessidade de reservar um tempo com as letras, que abordam temas bastante poderosos, pois elas são tão óbvias, e combinadas com a produção incrível. Reservar esse tempo dificultaria um pouco a sensação de prazer que o álbum causa”, conclui. O trabalho foi recebido com euforia pela crítica. Entre os convidados da cantora estão Brian Wilson (ex Beach Boys), Stevie Wonder e Grimes.
PANSSEXUALIDADE
Na última quinta-feira, um dia antes do lançamento oficial de Dirty Computer, a cantora definiu-se como panssexual, gerando um aumento significativo nas pesquisas sobre o termo na internet. Nos Estados Unidos, as tags ‘Janelle Monae’ e ‘Panssexual’ lideraram as buscas na quinta-feira. Em entrevista à revista Rolling Stone, ela disse que antes acreditava ser bissexual, o que mudou à medida que ela aprofundou seus conhecimentos sobre panssexualidade. “Acreditava ser bi, mas depois li sobre a pansexualidade e foi como ‘Oh, são coisas com as quais eu me identifico também’. Estou aberta a aprender mais sobre quem eu sou”, declarou. Há alguns anos, a cantora Miley Cyrus também se assumiu panssexual, elevando o conhecimento do público sobre o assunto.
Sistematicamente, panssexualidade é “caracterizada pelo desejo sexual ou atração que não se limita a pessoas de gênero particular ou de uma orientação sexual”. Em artigo, o português Nuno Miguel Gonçalves, para o site Escrever, falou sobre o primeiro single de Dirty Computer, Jango Jane, lançado em fevereiro. “É mais tradicional no género do hip hop mas não poupa ninguém: é uma manifesto feminista e negro na linhagem de Formation de Beyoncé, levando o ativismo ainda mais além, sem quaisquer papas na língua”, explica. “Na letra, ela continua a questionar-se sobre o estado atual do da misoginia. E exige aos homens que ouçam. Que não precisam de explicar-lhe algo que só a ela diz respeito”, conclui.