Família judaica, vinhos Kosher
Diário da Manhã
Publicado em 17 de janeiro de 2018 às 23:12 | Atualizado há 4 meses
Em um domingo recebo um telefonema de um amigo judeu ortodoxo de São Paulo, mas está morando em Goiânia a negócios. Roberto queria muito que eu fosse almoçar com sua família que tinha chegado de Israel. Estava meio preguiçosa e me esquivei do convite. Dois minutos depois ele me liga novamente e diz que era deselegante recusar o convite de uma família judaica. Claro que fui almoçar na casa do Roberto.
Assim que cheguei, fui recebida pelo seu pai, alegre, festivo e eu mal conseguia entender o que ele dizia, tentei decifrar algo olhando seus lábios, mas tinha uma longa barba, falava sem parar, estava tocando uma música linda que eu desconhecia. Ele e sua esposa foram dançando comigo até a mesa da varanda onde estavam todos sentados e festivos. Me senti totalmente em casa, e iluminada de amor.
A vida familiar da família judaica, tão importante no judaísmo, gira em torno do Shabat, das festas e refeições familiares. Isto inclui aprender, cantar e conversar. A comida casher e a separação de carne e do leite são traços importantes da maneira judaica de viver.
Segundo Roberto, os princípios do comportamento de uma família judaica incluem: honrar os pais, ajudar aqueles que têm menos possibilidades, respeitar os mais velhos, dar hospitalidade aos estrangeiros, visitar os doentes e não fazer fofoca ou mentir sobre outras pessoas. A educação judaica começa em casa. As crianças aprendem pelo exemplo e são incentivadas a praticar os rituais judaicos desde a infância. Na gastronomia judaica, eles nos treinam a tornar-nos mestres de nossos apetites, nos acostumam a restringir nossos desejos e evitam que comer e beber tornem-se a razão da existência de um homem, fnaliza ele.
Roberto sendo judeu e tendo sido educado sob a lei judaica, partilhou o pão ázimo (sem fermento) e o vinho Kosher, apropriado para o consumo de seu povo. É dessa mesma forma que os judeus até hoje comemoram o Pessach (pronuncia-se pêssar; significa “passagem”), festa na qual eles celebram a libertação dos hebreus da escravidão do Egito.
Esse é o significado mais religioso da festa. A partir daí, podemos tirar muitas referências simbólicas. Dependendo da forma como você usa a internet, o celular, o dinheiro, a vaidade, o cigarro, a comida, os remédios. Tudo isso pode te escravizar. Escravo é aquele que não tem vontade; o livre não, pode optar. A partir daí, você pode impor as suas vontades. É isso o que estamos comemorando”, completou ele.
Seu pai trouxe uma garrafa de vinho Kosher à mesa e começou a falar e eu não entendia nada. Roberto começou a traduzir para mim. Ele serviu vinhos Hagaon, o primeiro vinho Kosher argentino, produzido sob os preceitos judaicos na Província de Mendoza, em Agrelo, na Argentina, nas versões Malbec, Merlot e Cabernet Sauvignon.
A produção dos vinhos Hagaon é feita sob a estrita supervisão do rabino D.Y. Levy, com a certificação Kosher Gran Rabinato de Agudath Israel – Rabi Yosef Libersohn, “Organized Kashrus Laboratories”. Está de acordo com os rigorosos critérios de produção estabelecidos, tornando-se assim adequado para o consumo por judeus ortodoxos. Pode ser identificado pelo símbolo “K” dentro de um círculo impresso em sua embalagem.
VINHO KOSHER
Quando seu pai me apresentou o vinho eu de imediato quis tocá-lo, ele disse: “Non non” e começou a falar sobre o vinho mais peculiar que existe. Trata-se do vinho Kosher, um vinho produzido exclusivamente por judeus. Tem mais particularidades: uma vez a uva vertida em vinho, nenhuma máquina pode entrar em contato com o líquido e também ninguém que não seja judeu. Inusitado, não é mesmo? O sistema Kosher é definido pelo Torá, a bíblia judaica, e estabelece toda a íntima ligação entre a alimentação e a religião judaica, que é muito instigante de conhecer. Para os judeus, comer e beber alimentos não-kosher diminui sua sensibilidade espiritual e reduz sua capacidade de absorver os conceitos do Torá e Mitzvot (mandamentos). A crença é que, quando a observância kosher é forte, a identidade espiritual de uma pessoa judaica também é.
E, ao contrário do que algumas pessoas acreditam, os vinhos Kosher não são produzidos com uvas específicas ou diferentes, tampouco são produzidos com práticas ou rituais estranhos. O processo de fabricação dos vinhos Kosher acontecem de forma semelhante aos demais vinhos. Entretanto, os critérios são realmente bem rígidos. Algumas das condições a serem obedecidas são que o vinhedo deve ter a idade mínima de quatro anos; a vindima tem que ser manual, seletiva e escrupulosa, aceitando somente uvas saudáveis, inteiras e em estado ótimo de maturação; somente o rabino pode realizar a manipulação e o prensado, a vinificação somente pode ser realizada em tanques de aço inoxidável. As garrafas têm que ser novas e de fabricação supervisionada, que o rabino marcará com o carimbo Kosher que certifica sua elaboração.
A questão fundamental é que a partir do momento que as uvas são entregues para a vinificação, a manipulação de todos os ingredientes e ferramentas só pode ser feita por judeus. Apenas eles podem tocar, experimentar e acima de tudo, comandar os processos. Mesmo depois de pronto para o engarrafamento não é permitido o contato de um não-judeu com o vinho. Após o término do engarrafamento, o vinho é selado e autenticado como um vinho Kosher e qualquer um poderá tocá-lo, porém somente será aberto e servido por um judeu. Mesmo com toda essa rigidez, acredita-se que o vinho Kosher alegra a alma das pessoas e por isso ele é consumido nas principais celebrações judaicas. O sistema Kosher é uma parte dessa determinação, onde Kosher significa aquilo que é bom, ou de confiança. Devido a isso, é através do sistema Kosher, estabelecido pelo Torah, que os alimentos que são permitidos para consumo são determinados, estabelecendo um altíssimo padrão de qualidade.
Percebi que por mais distantes que estejam de seus lugares de origem, ambos também teimam em não abandonar velhos costumes, tradições e comidas típicas. Tudo isso para se manterem perto de onde nunca deveriam ter saído ou para onde pretendem constantemente retornar: suas respectivas terras no Estado de Israel, a Terra Prometida dos judeus. O que os une, mesmo apesar de poucos, é o mesmo sentimento que os faz um único povo onde quer que estejam. Para além de uma religião, o judaísmo é uma cultura que deixa traços indeléveis em cada um que por ela passa.
GASTRONOMIA JUDAICA
Naquele almoço de domingo, a casa judaica encheu-se de iguarias, como, por exemplo, sonhos fritos com doce de leite, receita típica judaica que espalhou-se pelo mundo. Dentre outros pratos típicos, estavam bolos com fritas, pães, Latkes de batata (bolinho frito) e muitas frutas cristalizadas. “E, é claro, um bom vinho para a alegria do anfitrião e eu, a visitante.”
O que mais achei bacana foi que as louças e limpezas são compartilhadas e lá a visita e homens não ficam inertes e agraciados com opressão das empregadas ou das mulheres. A liberdade iluminada insiste na igualdade de gênero e distribuição dos deveres domésticos. Achei o máximo!
O meu domingo começou alegre, ficou delicioso, fiz novos amigos e me apeguei àquela família. O amor foi contagioso! É no prazer da amizade, que fazemos da vida uma canção simples de ser tocada e aprendida facilmente pelos acordes dos dias! A dança dos rabinos me conduzindo pela sala, foram momentos inesquecíveis que juntos pintamos na tela da vida e o tempo emoldurou na minha m e n te, a certeza da sinceridade daquela família judaica.
O QUE VESTIR PARA UM ENCONTRO COM A FAMÍLIA JUDAICA?
O meu lado é fashionista e o que vestir em almoço com uma família judaica? Eu já sabia que algumas judias vestiam camadas coloridas de roupas (coletes, blusas, jaquetinhas etc.), saias super longas e o famoso “turbante”. Eu a-do-ro o jeito dati de se vestir e gosto muito. Resolvi usar uma saia lápis, uma camisa de manga longa e um turbante preto. Me lembrei de meu pai que adorava me ver de lenços coloridos e chapéus na cabeça. Quando cheguei, no almoço, fui muito elogiada pelas mulheres judias que disseram estar vestida adequadamente e elegante. Resolvi cobrir a clavícula, cotovelos e joelhos, porém fiquei sabendo que é uma regra opcional. Perguntei para as mulheres sobre as cores. Elas me disseram que depende do grupo judaico ao qual pertença. Alguns permitem cores vivas, outras cores neutras e outros dão preferência a cores escuras. Estampas? Mesma regra das cores. Ainda bem que levou uns anos para eu construir minha própria identidade fashion e parar de simplesmente copiar os visuais que eu via nas outras mulheres.
ETIQUETA À MESA
E apesar de toda informalidade a etiqueta num almoço judaico, é essencial. Nada de colocar a mesa de qualquer jeito! Eles têm um super cuidado com a decoração. Isso não é frescura e tampouco deve deixar seu convidado inibido ou a mesa sofisticada a ponto dele se sentir deslocado. Segundo a etiqueta devemos sempre ter toalha branca na mesa. Mas o que encontrei uma mesa bem informal, valorizaram a mesa linda e rústica que tinha tudo a ver com a proposta, e dispensar a toalha, já que o sousplat foi a grande estrela da mesa.
Dessa forma, quebraram um pouco a regrinha de etiqueta e decoraram a mesa com uma proposta de tale decor incrível, que atendeu completamente o perfil da recepção.
Vinhos
As vinícolas têm bons motivos para olhar com atenção para o mercado de produtos Kosher, que movimenta anualmente 600 milhões de dólares em todo mundo, e são consumidos em países como Estados Unidos, Brasil, Reino Unido, Canadá, Alemanha, Áustria, Argentina, Israel, Itália, Noruega e Polônia. O certificado Kosher é um documento emitido para atestar se os produtos fabricados por uma determinada empresa obedecem às normas específicas que regem a dieta judaica ortodoxa. Ele é mundialmente reconhecido e considerado sinônimo de controle máximo de qualidade.
Uma dica de um vinho que provei e gostei, foram os da vinícola Psagot Kosher receberam Aclamação Internacional na França. Todos os seus oito vinhos finos receberam estrelas douradas numa competição anual de vinhos realizada recentemente na França.
Criada em 2003 por Yaakov e Naama Berg, a Vinícola Psagot está localizada nos montes Binyamin, perto de Jerusalém, que serviram de berço do cultivo de vinhedos nos tempos bíblicos. Os vinhedos da vinícola estão plantados em antigos terraços de rochas calcárias a uma altura de 900 metros acima do nível do mar, ao lado da pequena comunidade de Psagot.
De acordo com a história do local, a Vinícola Psagot envelhece seus vinhos numa antiga gruta subterrânea que foi utilizada na elaboração de vinhos no período do Segundo Templo. A gruta foi descoberta na época do estabelecimento da vinícola numa área onde ainda existem remanescentes de vinhedos antigos. Sou fã desse vinho, ganhei algumas garrafas do Roberto e já tomei o 2007, 2008 e o 2010 e ainda tenho Edon 2008, 2010. Tonalidade : Vermelho-granada. Aromas: ameixa. Corpo: médio corpo. Um vinho bem interessante. País: Israel. Região: Judeia