Entretenimento

Fernanda Takai canta na Fliripi

Marcus Vinícius Beck

Publicado em 1 de novembro de 2022 às 00:22 | Atualizado há 3 anos

Fernanda Takai caiu nos braços da música popular brasileira ao manifestar discurso poético, musicalidade sensível e beleza artística. É aquela máxima: depois de anos dedicada a versos sobre pegação gostosa e paqueras quentes, Takai assumiu, antes de o mundo ficar trancado em casa, que está num relacionamento sério. E não desses bobos, nada disso, ela namora a bossa nova, ritmo consagrado por Tom Jobim, Vinícius de Moraes e João Gilberto. 


Seu texto, nota-se ao sabor do primeiro verso, é aprimorado. Talvez porque, entre 2005 e 2011, Takai assinou uma coluna semanal nos jornais “Correio Braziliense” e “O Estado de Minas”, ambos editados pelos Diários Associados. Ela gosta da palavra, como sabemos. O que faz o repórter olhar para a janela e, a cada queda de energia, lembra da canção “O Ritmo da Chuva”, na qual a cantora e compositora diz que olha para a chuva que não quer cessar (no caso do escriba, impede-o de trabalhar) e nela observa as gotas do amor. 


Anote na agenda: Takai abre hoje a Festa Literária de Pirenópolis (Flipiri), às 19h, com um bate-papo que sucede apresentação em tenda localizada na Praça da Matriz, um dos cartões-postais do histórico município goiano. Mas a expectativa, com toda certeza, recai sob canções (uma forma de poesia, diga-se) que a vocalista da banda Pato Fu domina tão bem. 


Destaque no cenário musical brasileiro na década de 1990 com o Pato Fu, Takai criou obras interessantes, como o “Rotomusic de Liquidificapum” (1993), em que faz experimentações eletrônicas. As letras, espinha dorsal da banda mineira, são divertidas e irreverentes, caminhando pelo universo de animações, referências musicais e paródias que habitam o cancioneiro do rock e do pop. No entanto, com o disco seguinte, os ventos artísticos da diva nascida em Serra do Navio (AP) em 1971, bem como da banda, foram a rumos inesperados. 


Mais pop e melódicos, para ser mais exato. E na companhia de cuja estética, aliás, ela passou a ser conhecida pelos ouvidos brasileiros. Não demorou até que a crítica encontrasse semelhanças com a banda Os Mutantes, de quem gravaram, em “Gol de Quem” (1995), a faixa “Ando Meio Desligado”: Takai exibe um voz delicada, suave, sutil e bela. Assim como ela própria, portanto, os adjetivos são válidos. Difícil escutar o Pato Fu e não se apaixonar.  


Amor pela bossa


É fato: Takai demonstrou versatilidade musical, tocando instrumentos distintos uns dos outros. Sua voz, delicada como as lives que faz na pandemia ao lado do marido John Ulhoa, parceiro dela no Pato Fu, serve como contraponto sonoro às experimentações feitas pela banda. Até que, nos anos 2000, no disco “Onde Brilhem Teus Olhos” (2007), passou a adotar conceitos tropicalistas ao recriar parte do repertório da cantora Nara Leão. 


Nesta fase, uma espécie de antecessora daquilo que Takai viria a fazer anos depois, revelou um lado intimista, num estilo mais gestual, em músicas poderosas do repertório bossa novista, como “Insensataz”, clássico de Tom e Vinícius. Em “Com Açúcar, Com Afeto”, canção de Chico Buarque cancelada pelo público por ser considerada machista, priorizou interações humoradas. Era uma nova possibilidade criativa que se vislumbrava à artista. 


Em “O Tom da Takai” (2018), no qual anunciou o namoro com a bossa nova, a líder do Pato Fu escancarou que o maestro Antonio Carlos Brasileiro de Almeida Jobim lhe influenciava por demais da conta, para usar uma expressão tipicamente mineira. Tudo isso sob a produção de Roberto Menescal, nome que esteve no tal apartamento de Nara e viu, conforme narrado na obra “Chega de Saudade”, do imortal Ruy Castro, o gênero nascer.


Nada disso, contudo, é surpresa: Takai ama bossa nova. E nós, ouvintes, amamos seu disco: “Fotografia”, “Outra Vez” e “Bonita”, todas elas escritas por Tom Jobim a partir de encontro com a ex-modelo Candice Bergen, ganham um impactante tom de delicadeza. “Fernanda Takai não é apenas uma pessoa que tem o que dizer. Ela sabe como fazer isso. E de várias maneiras”, observa o jornalista João Paulo, no prefácio “A Mulher que Não Queria Acreditar”, reunião de crônicas, com “estilo musical”, publicadas em “O Estado de Minas”.


São palavras que, transportadas aos discos da cantora, continuam apropriadas. Explico melhor: seu último trabalho, “Será que Você Vai Acreditar”, é um mosaico de sentimentos delicados. O melhor de tudo é a releitura de “Love Is a Losing Game”, de Amy Winehouse. A inédita “O Amor em Tempos de Cólera”,  referência ao livro de Gabriel García Márquez, evoca a delicadeza da discografia de Takai, que, após 12 discos, quatro deles solos, dois livros infantis e outros dois de contos e crônicas, se mostra uma das vozes mais importantes do meio cultural brasileiro. Sorte a nossa de tê-la por aí, seja cantando ou escrevendo. 


Anote aí

Fernanda Takai abre Flipiri

Hoje

Às 19h

Praça da Matriz

Centro Histórico, Pirenópolis

Entrada franca


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