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Filosofia metaleira

Diário da Manhã

Publicado em 24 de abril de 2018 às 00:58 | Atualizado há 5 meses

Os países do norte da Europa tem se revelado uma grande for­ça na evolução da identidade do metal extremo desde o final dos anos 1980, com a cena chamada Black Metal’s Second Wave, bas­tante ativa em países como No­ruega, Suécia e Finlândia. Não obstante, existem vários artis­tas que, através da produção de arte para capa dos discos dessas bandas, ajudaram a definir a es­tética visual dessa vertente extre­ma do rock. O artista – e músi­co – sueco Kristian Wahlin, mais conhecido pelo seu nome artís­tico Necrolord, é um dos princi­pais nomes da confecção de artes que dão continuidade e amplifi­cam o imaginário conceitual de­senvolvido musicalmente pelas bandas. Suas criações passaram a surgir no início da década de 1990, e hoje ele é uma referên­cia nesta área.

Atualmente, suas obras po­dem ser apreciadas nas capas de mais de uma centena de dis­cos. O artista revela que come­çou criando as capas de demos da sua própria banda, o que cha­mou a atenção de outros músi­cos. “Tudo isso começou quando amigos de outras bandas viram minhas imagens e me pergun­taram se eu gostaria de pintar as deles também. Isso conti­nua até hoje”, contou o artista. No site From Wisdom to Hate, o autor Vicsnagg Letooth escre­veu um pouco sobre a impres­são que tem dos trabalhos de Necrolord. “Fantasia e detalhes marcantes caracterizam o tra­balho de Kristian, tanto na pin­tura quanto na ilustração. As ra­zões variam, mas o sentimento é o mesmo: devaneios, melanco­lia e até mesmo dramas explosi­vos. Mitos e filosofia com moti­vações existenciais preenchidas com poderoso simbolismo sobre a vida e a morte”.

INSPIRAÇÕES

As principais influências da arte de Necrolord vêm do pe­ríodo romântico e renascentis­ta. Um dos artistas que trazem elementos que reverberam nos trabalhos de Necrolord é o pin­tor holandês Hieronymus Bosch (1450–1516), um dos pioneiros do estilo gótico flamengo. Suas obras mais conhecidas são apre­sentadas em trípticos, ou seja, conjunto de três pinturas uni­das por uma só moldura. A mais importante, O Jardim das Delí­cias Terrenas, conta a história da criação do universo e traz os con­ceitos de paraíso e inferno. Como sabe-se muito pouco da vida e das intenções de Bosh, os histo­riadores acreditam que a obra re­presenta pode representar tanto condescendência à natureza car­nal humana quanto uma adver­tência quanto aos perigos dos prazeres carnais.

Contemporâneo a Bosh, Al­brecht Dürer (1471–1528), que nasceu na cidade de alemã de Nu­remberg, na época pertencente ao império Romano, é considerado um dos mais importantes pinto­res renascentistas do norte do Im­pério. Sua fixação por elementos melancólicos exerce grande in­fluência em artistas contempo­râneos e nas capas de discos de metal. Suas obras mais famosas são gravuras feitas em madeira. Alguns exemplos são São Jerô­nimo no estúdio (que representa a vida teológica e contemplativa no período medieval), Cavaleiro, a Morte e o Diabo (que faz refe­rência aos valores morais e a vida ativa) e Melancolia I (sobre a es­fera intelectual). Estas três obras são consideradas um conjunto de ideias que se completam.

No período romântico, Ne­crolord bebe da fonte de artistas como Caspar David Friedrich, es­pecialista em paisagens alegóri­cas que contemplam silhuetas em contraste com o céu noturno, árvores estéreis, ruínas góticas e a névoa matinal. Uma das obses­sões de Friedrich era a morte, e o que poderia vir depois dela. É considerado um dos artistas ale­mães mais importantes de sua geração. A pintura Caminhante sobre o mar de névoa, de 1918, é uma obra fundamental para o romantismo. Ela mostra um ho­mem solitário a observar a im­ponência do horizonte do pico de uma montanha. Sua arte fez com que ele se tornasse um re­conhecido pintor. Um de seus co­legas da época, David D’Angers, afirmou ter Friedrich descoberto “a tragédia da paisagem”.

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