Harmonização de massas e vinhos
Diário da Manhã
Publicado em 30 de maio de 2018 às 22:29 | Atualizado há 4 meses
Na Itália, país onde o macarrão é tão popular quanto o Papa, a bebida mais consumida não é por acaso o vinho. Esses dois elementos se complementam formando uma das harmonizações mais executadas do mundo. Porém, é preciso observar o molho que acompanha a massa para que a combinação seja perfeita.
Os próprios italianos afirmam que não existe uma regra para esse tipo de harmonização. Porém, a experiência fica muito mais prazerosa se os pratos com molhos à base de carne ou tomate, forem acompanhados de tintos e os elaborados com queijos ou frutos do mar, forem harmonizados com brancos. O mais importante é que esses vinhos sejam leves, tenham boa acidez e não muito álcool
Não existe cozinha moderna sem massas de origem italiana e mediterrâneo. Temos um grande amor por elas por sua preparação simples, seus sabores e a versatilidade de preparações em que podem ser utilizadas. Algumas receitas podem ser mais elaboradas, como o original ragú à bolonhesa, cozido durante muitas horas, mas a maioria das massas são muito fáceis de preparar. Com certeza vocês têm suas preferências. Por isso quero apresentar alguns dos molhos mais clássicos e conhecidos e suas harmonizações com vinhos.
Uma das massas mais frescas são os spaghetti alla napoletana, preparados com tomates picados, azeite de oliva, alho cru e manjericão. É um prato tradicional da região de Campania. Com uns poucos ingredientes de alta qualidade, obtemos um prato delicioso e sofisticado. O tomate e o manjericão frescos formam uma combinação muito compatível. E com o alho e o queijo ralado que deixamos cair sobre a massa, necessitamos de um vinho tinto jovem, de corpo leve, com muitos aromas de frutas vermelhas como o Chileno Casillero del Diablo Merlot.
Os molhos mais comuns para a massa, são à base de tomate. Nesse caso, os vinhos para acompanhar pedem acidez pronunciada. Tintos como os da região de Chianti normalmente fazem bonito. Mas como o prato é simples e versátil, também aceita outras opções, como tintos feitos com a uva Merlot ou ainda rosés um pouco mais encorpados.
Como já sabem, o tomate é uma fruta emblemática para a comida italiana. Por isso várias receitas o inlcuem. Uma das massas mais deliciosas e aromáticas é o linguine com molho puttanesca. Uma versão da Campania contém tomates, azeite de oliva, alho, azeitonas negras, alcaparras e orégano. Para este prato eu gosto de escolher um vinho tinto de corpo médio, com notas picantes como os vinhos chilenos da uva Shiraz. Este vinho protagoniza um bom contraponto para a acidez do prato. Existe também outra versão da puttanesca de Lacio que acrescenta anchôvas. Estes peixinhos são bem salgados e aumentam a percepção dos taninos no vinho tinto, fazendo que se sinta adstringente. É por isso que a minha escolha para este prato é um vinho branco, fresco como o vinho da uva Pinot Grigio. A boa acidez neste estilo de vinho funciona impecavelmente com o toque salgado do prato.
Os amantes de uma boa massa, normalmente não dispensam um molho à bolonhesa. Feito à base de carne moída, fica perfeito com a massa do tipo fettuccine ou tagliatelle. Mas pode se tornar melhor ainda se acompanhado de um tinto elaborado com a variedade Cabernet Sauvignon. Esses vinhos têm acidez presente e são encorpados o suficiente para fazer um bom casamento com o prato.
Um prato muito saboroso é o penne con pesto alla genovese. Com ese molho de linda cor verde esmeralda viajamos para outra parte da Itália, na região de Liguria. É um molho fresco, não cozido e que tem folhas de manjericão, alho, queijo parmesão, pinhões ou nozes, e azeite de oliva. Todos os ingredientes são moídos juntos até formar um molho homogêneo. O manjericão é uma erva muito aromática e delicada, mas os outros ingredientes também incidem em nossa harmonização. Por isso vocês vão desfrutar este prato com um vinho branco de corpo médio, mas com muito caráter, que realmente realça o nosso molho: O chileno Trio Sauvignon Blanc.
Para as massas com molhos cremosos ou de queijos, a dica é experimentar com um branco, que pode ser da uva Chardonnay. Mas tintos delicados como Pinot Noir ou ainda o francês Beaujolais também são bem aceitos.
As massas com frutos do mar e peixes também seguem a mesma filosofia de harmonização dos outros pratos feitos com esses ingredientes: vinhos brancos e rosés para acompanhar.
Um prato simples como uma massa al pesto, que tem manjericão e queijo parmesão como ingredientes principais, vai muito bem com os brancos feitos com a uva Sauvignon Blanc ou Torrontés.
Outro molho muito gostoso e cremoso é o Alfredo com massa de fettuccine. Este molho é preparado com o queijo Parmigiano-Reggiano e manteiga. À medida que o queijo se derrete vamos emulsionando o mesmo até alcançar uma consistência suave e saborosa, e logo deixamos cair sobre a massa. Este molho foi batizado em honra ao restaurador romano Alfredo Di Lelio. Outra variação da receita inclui creme de leite, ovos frescos e alho. Neste caso, dêem uma olhada no Casillero del Diablo Viognier. Seu bouquet fresco, baseado em maças verdes, pêras e nectarinas, se equilibram com os componentes pesados do molho. Mas ao mesmo tempo, o corpo médio desta cepa e sua redondez na boca se encarregarão da cremosidade do molho Alfredo.
Para harmonizar bem as massas com vinhos, um não pode sobrepor o outro. O peso de ambos e as características precisam ser similares para que haja equilíbrio. Os molhos que levam carne, pedem tintos mais encorpados como aqueles elaborados com uvas Nero D´Avola ou Primitivo, por exemplo. As massas ao pesto vão bem com brancos leves, como os vinhos produzidos com a Sauvignon Blanc. Para as pastas que levam molhos brancos, os vinhos devem ser uvas brancas, mas se o molho tem muita manteiga e creme de leite, a pedida são versões mais encorpados como um bom vinho Chardonnay chileno.
É importante ressaltar, que vinhos rosés e alguns espumantes podem virar coadjuvantes e não parceiros, caso o molho tenha muitas especiarias ou aromas e gostos pronunciados. Não sei você, mas me deu uma baita vontade de mangiare una buona pasta questa fattoria com um bom vinho Italiano.
Receita da semana
Esta receita é muito rápida e fácil de preparar: Spaghetti con Pomodoro Secchi (tomates secos). É um prato gourmet, com muitos aromas e sabores. Os tomates têm um perfil aromático mais profundo que os frescos e, junto com as ervas frescas e um delicioso azeite de oliva, oferecem uma festa na boca. Recomento este prato com um Cabernet Sauvgnon reserva chileno, um vinho complexo, mas também frutal e elegante, que harmoniza com o peso do prato.
INGREDIENTES PARA 4 PESSOAS
- 400 gr de massa tipo spaghetti
- 16 tomates secos
- 4 dentes de alho cru, picados
- Azeite de oliva
- Sal, pimenta-do-reino recém moída
- ½ xícara de ervas frescas picadas (salsinha e orégano)
MODO DE FAZER
Preparar a massa segundo as instruções no pacote.
Os tomates secos podem ser: secos no sol e conservados em azeite de oliva (tirar do vidro e cortá-los em pedaços mais finos), secos e desidratados (deixar de molho na água por alguns minutos e depois cortar), caseiros, secos no forno (pré-aquecer o forno a 150º C, untar levemente uma fôrma com azeite de oliva. Organizar os tomates, a parte cortada para cima. Colocar algumas gotas de azeite de oliva sobre os tomates. Polvilhar sal e pimenta. Assar até que os tomates estejam levemente enrugados e marrons nas bordas mais ou menos para cima. Deixar um hora e meia ou mais (dependendo do seu gosto).
Em uma frigideira, esquente o azeite de oliva, alho e refogue até ficar ligeiramente dourado.
Acrescente os tomates e um pouco de água. Cozinhe no fogo moderado até que a água se evapore.
Tempere à gosto com sal e pimenta.
Acrescente a massa cozida e mexa bem, e deixe em fogo baixo por alguns minutos.
Sirva imediatamente, decorando com ervas frescas.
CAÇAROLAS E VINHOS
GABBIANO RESTAURANTE
Excelente restaurante dentro do shopping Barra Garden-Rio de Janeiro, cardápio italiano , aconchegante e com comida deliciosa!! Entrada petit gateau de grana padano Divinooo!!! As massas são leves e saborosas!! Indico o nhoque com camarão. Sem palavras para descrever os sabores dessa culinária! Massas que me surpreenderam pelo sabor, são bem servidas e uma experiência única da alta gastronomia. A cozinha é assinada pelo chef Romano e com um trabalho surpreendente do maitre Helder, impecável como sempre nas sugestões. Levei um brunello di montalcino da Itália que ganhei de um amigo para apreciar e não tive a cobrança de rolha, uma gentileza que só o Gabbiano para proporcionar e fazer com que volte mais vezes e mais feliz ainda. Recomendo de olhos fechados e não só para massas mas também carnes e frutos do mar. Tudo é perfeito.
Vinhos:
LES BRETÈCHES
O vinho libanês é, muito diferente do padrão de vinhos aos quais os brasileiros estão acostumados, mas que combina perfeitamente com pratos perfumados, como os da culinária árabe. O aroma é de chá preto, camomila e especiarias. No paladar sugere boa acidez e taninos finos. Vinhos de estilo mais delicado, como esse, são os melhores para combinar com pratos aromáticos. O rótulo pode ser encontrado na importadora Zahil.
TORUS MADIRAN
Este vinho é composto por 3 uvas,(50% Tannat, 30% Cabernet Sauvignon, 20% Cabernet Franc) e é original da região sudoeste da França. O Torus tem notas de café, cereja no álcool e é extremamente aromático. Na boca, ele é rico, com taninos intensos, mas finos. Eu aconselho a degustá-lo com um bom queijo tipo brie. Eles se fundem, deixa o queijo com gosto de vinho, e vice e versa. O Torus Madiran é importado para o Brasil pela Decanter.