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Liga da justiça

Redação DM

Publicado em 17 de novembro de 2017 às 22:13 | Atualizado há 7 meses

Antes de existir Vingadores – e digo isso nos quadrinhos – já existia Liga da Justiça. Para o público geral, o grupo formado por Batman, Superman, Mulher-Maravilha, Flash e Lanterna Verde vem de anos e traz um legado memorável na televisão com desenhos que fizeram parte da infância de muita gente. Hoje as atenções são divididas com a Marvel, mas anos antes era só DC que marcava presença tanto no cinema quanto na TV. Portanto, as expectativas para um filme da Liga não são recentes, mas germinadas desde muito tempo.

Vamos direto ao assunto: Liga da Justiça é bom? Sim. Particularmente, considero melhor que Batman VS Superman. No entanto, não é um filme memorável e isto para o grupo de super-heróis mais antigo do planeta é grave. É um desperdício de oportunidades em solidificar o grupo na telona, e quando as chances são dissipadas pela DC, a concorrente Marvel lá em 2012 conseguiu apresentar a dinâmica perfeita com seu Vingadores.

Sobre a discussão em torno das duas empresas, será que problema da DC tem sido falta de humor? Nunca foi. E Liga da Justiça prova isso. O filme tem humor e muitos momentos divertidos. A interação dos personagens é boa. O problema da DC é querer ser a Marvel, e menos a DC. O legado da empresa não é de hoje, mas de décadas atrás. Fez o clássico Superman em 1978, Batman em 1989 e anos depois, em 2008, a obra-prima do gênero Batman – O Cavaleiro das Trevas. A DC nunca precisou ser a Marvel, e o que se vê hoje é uma instabilidade criativa movida por incertezas e inseguranças dos realizadores em ver sua concorrente faturar bilhões e ótimas críticas.

Mas não posso deixar de admitir que, ao menos, a DC é ousada. E deveria se orgulhar disso. O final de O Homem de Aço e algumas escolhas em Batman VS Superman entram na lista de polêmicas – o que considero algo positivo. Ser ousado pode não ser sinônimo de bom, mas no mínimo, abre discussão e se mostra uma atitude louvável. Liga da Justiça recicla os clichês habituais do gênero e traz um roteiro raso como de um episódio dos desenhos. Porém, este não é o problema, afinal, a Marvel recicla sempre mas consegue lapidar melhor seus clichês. Aqui, não há originalidade nas cenas de ação. Elas são fracas em sua desenvoltura e não possuem a beleza de outros momentos em que o próprio Snyder reproduziu em outros filmes da DC, e que Patty Jenkins fez em Mulher-Maravilha. O problema não é fazer o feijão com arroz ou ter uma trama clichê, o problema é não dar tempero, sabor, beleza à cena. Liga sofre muito disso. A ação é banal.

O filme promete criar momentos apoteóticos e desperdiça esses momentos. Sugere tocar a trilha do Batman de 1989 ou o inesquecível tema do Superman criado por John Williams em 1978, mas nunca entrega ao fã, e espectador, o ouro. Simplesmente broxante. Acredito que se Joss Whedon – que dirigiu Vingadores e foi chamado para substituir Snyder após este ter se afastado em decorrência da morte da filha – tivesse assumido o longa desde o início, teria feito como fez na concorrência e criado cenas da equipe onde explorasse, com maior nuance e cuidado, os poderes de cada um em interação. E com um visual mais limpo e aberto, sem excesso de cores escuras e sem vida. A ação é mal filmada, sem ritmo ou glamour. É o tradicional visto em centenas de outros filmes de pancadaria e que dias depois você esquece.

Liga da Justiça não é um filme ruim. Diverte e vale como passatempo, mas deixa um sabor amargo por não ser no nível que estes personagens merecem. É o básico do básico feito sem brilho ou emoção. Falta senso de heroísmo e triunfo em Liga. Cadê a música subindo quando o Superman volta? Cadê os heróis lado a lado se preparando para enfrentar o vilão e fazendo poses marcantes? Super-herói é isso. Vingadores entendeu o conceito e continua ávido na memória até hoje. Já Liga é o típico filme bom de ver, mas que logo, logo se esvai da cabeça. Infelizmente.

 

(Matthew Vilela, jornalista e comentarista de cinema e série aqui no Diário da Manhã e no blog “Blog do Matthew Vilela”)

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