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Mestra Ricarda de Alcântara e Silva

Redação DM

Publicado em 22 de julho de 2018 às 02:08 | Atualizado há 5 meses

Olha que procurei. Pesqui­sei bastante. Infelizmente, nada encontrei em Goiás ou no esta­do-irmão do Tocantins, que fos­se uma rua, mesmo uma viela, muito menos o que seria mais justo, uma escola ou biblioteca que recebesse o nome de Mes­tra Ricarda de Alcântara e Sil­va, essa memorável professora que atuou por décadas, no anti­go Norte Goiano, nas cidades de Santa Maria de Taguatinga e Ar­raias. Educadora na passagem do século XIX para o XX, precisa­mente entre 1883 e 1921, viveu o magistério com intensidade, ser­vindo várias gerações de “meni­nas e meninos”.

Sua contemporânea e de igual importância educacional, Pací­fica Josefina de Castro, a mestra Nhola ou Inhola, residente na Ci­dade de Goiás, então capital da província e, posteriormente, do Estado, por estar urbanamente melhor localizada, recebeu com justiça honrarias em vida e post mortem que contribuíram para o seu não esquecimento, por tudo que fez como educadora. É lem­brada em livros, pesquisas aca­dêmicas e patroneia de estabele­cimentos de ensino. Isso é muito bom, muito justo.

Mestra Ricarda de Alcântara e Silva, certamente por nunca se afastar de seu eito natal, no tão esquecido Norte Goiano, de tal sorte, encontra-se praticamen­te sepultada a sua história edu­cacional.

Descendente da família real brasileira, era filha do coletor estadual, capitão e juiz Munici­pal e de Órfãos de Arraias, Pedro de Alcântara e Silva e de Roso­linda Maria de Moura. Pedro era primo do marechal Braz Abran­tes da Silva, presidente da Pro­víncia de Goiás (1891 a 1892), senador da República (1906 a 1915). Altruísta, Abrantes, deu sustentação econômica para a graduação em Medicina, ao fundador de Goiânia, Pedro Lu­dovico Teixeira.

Mestra Ricarda nasceu em Ar­raias, no ano de 1850, município que atualmente habita o estado do Tocantins. Acima de seu tem­po, era leitora contumaz. Maria Cavalcante Martinelli, neta da mestra, no livro que organizou sobre seu tio João D´Abreu, por sua vez filho da mestra Ricarda, conta o seguinte dela:

[…] Era Ricarda de têmpe­ra incomum. Professora de in­vejável lastro cultural, impri­mia aos alunos o amor à Pátria. Lia muito, o que era raríssimo às mulheres de seu tempo. E lia, so­bretudo, os jornais que à época chegavam à cidade com atraso de seis meses, mas através da lei­tura deles, ficava a par da evolu­ção do mundo […].

Em 16 de outubro de 1882, Mestra Ricarda de Alcântara e Silva, por ato do presidente da Província de Goiás, Theodoro Rodrigues de Morais, foi no­meada professora “da Escola de Sexo Feminino, de Taguatinga”. Posteriormente, foi, também, professora de instrução primá­ria da “Escola de Sexo Mascu­lino”. Exerceu o magistério por exatos 39 anos, quando foi apo­sentada em 1921.

Mestra Ricarda de Alcânta­ra e Silva, casou-se com Josino de Abreu Caldeira, fazendeiro e ocupante de vários cargos pú­blicos. Foram pais de oito re­bentos, cinco mulheres e três homens. Destaque para João D`Abreu, primeiro odontólogo goiano, professor universitário, prefeito de Arraias, por duas ve­zes, deputado estadual e fede­ral, vice-governador de Goiás e governador interino de Goiás. Das filhas, Jesuína de Abreu Ca­valcante seguiu a carreira de magistério da sua genitora. É mãe, também, da professora universitária e escritora, Ma­ria Cavalcante Martinelli, que integrou o Instituto Histórico e Geográfico de Goiás e o Con­selho Estadual de Educação. A outra filha do casal, Maria de Abreu, é avô paterna da arqui­teta, urbanista e escritora Nar­cisa Abreu Cordeiro, profunda conhecedora da historiografia goiana e assídua colaboradora da nossa Coluna.

Ainda é tempo, para as ci­dades de Taguatinga, Arraias, e mesmo para o governo do esta­do do Tocantins, promover a ini­ciativa de homenagear a mes­tra Ricarda de Alcântara e Silva. É oportuno relembrar o provér­bio: “antes tarde do que nunca”


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