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Monstros da maionese

Diário da Manhã

Publicado em 14 de março de 2018 às 00:08 | Atualizado há 4 meses

Em meados dos anos 1970, uma empresa de alimentos do Japão decidiu lançar um baralho promocional de cartas para a campanha de marketing de sua marca de maionese. Na­quela época, a cultura japonesa vivia um momento de idolatria aos kaiju – termo utilizado para se referir a criaturas monstruosas como o Godzilla. A maioria dos 54 monstros que ocupam a face de todas as cartas deste baralho são visivelmente plágios de kaijus bastante famosos no Japão. O que os marqueteiros do maionese não esperavam era que aquelas cria­turas se tornariam cultuadas por colecionadores e transformadas em símbolos de uma época. Em publicação de 2011, o blog Pink Tentacle trouxe novamente à tona essas criaturas peculiares chama­das de Pachimons.

IMPACTO

O site Gojipedia – uma espé­cie de Wikipédia dos monstros desenvolvida por fãs dos kaijus – disponibiliza informação adicio­nal sobre este emblemático ba­ralho. “O baralho Pachimon foi criado pela Yokoporo nos anos 1970, tempo de muita populari­dade dos kaiju no Japão. O jogo de cartas é composto por vários monstros ‘pachimon’ – baseados em séries populares como God­zilla, Gamera e Ultraman – que geralmente aparecem atacando cidades e locais famosos”, descre­ve o site. Além do nome e de uma ilustração de cada criatura, algu­mas outras informações foram incluídas nas cartas. “As cartas do jogo apresentam informações so­bre cada monstro, incluindo sua altura, peso, tipo e local de ori­gem”, explicam os autores.

Ainda de acordo com o site, vá­rios fãs passaram a produzir seus próprios pachimon. “Apesar de bastante obscuros, os pachimon kaiju acabaram criando um seg­mento de fãs que passaram a cul­tuá-los, como colecionadores e otakus. Esse culto resultou em bonecos de vinil (tanto produzi­dos oficialmente pela marca de maionese como confeccionados de forma independente por fãs), além de video games e filmes”. O software de criação de jogos de luta 2D MUGEN, bastante popu­lar no início dos anos 2000, foi usado pelos fãs dos pachimon na criação de vários jogos. No You­tube existem algumas prévias de alguns dos jogos mais populares desse segmento, como Pachimon Kaiju Dainessen e Pachimon Final Wars, que contam com riqueza de detalhes e poderes.

INFLUÊNCIAS

Seguindo a lógica de recicla­gem estética bastante comum na cultura pop, os criadores desta série de monstros ‘Lado B’ con­seguiram sintetizar, de forma ge­nérica, o frisson do momento cultural daquela geração de ja­poneses. Acredita-se que além das grandes séries de monstros populares da época, várias outras fontes de material tenham sido usadas como inspiração para a criação dos pachimon. “Algumas das cartas Pachimon tiveram fon­tes visuais de fora do gênero dos kaiju, incluindo livros de ciência com base em animais pré-histó­ricos, além de fotografias de ani­mais da fauna global atual. Jiato­rima, Triceratops e o Dragão de Komodo são alguns exemplos de criaturas reais transformadas em kaiju pela marca”.

Outra fonte bastante provável para a criação dos Pachimon, de acordo com o site Gojipedia, foi a explosão de revistas de ficção científica que ocorreu no Japão naquele período. Os ilustrado­res agregaram aos monstros ele­mentos do cyberpunk, futuris­mo e retrofuturismo. “Existe uma minoria de criaturas das cartas Pachimon que parecem ter sido criações completamente origi­nais. Mas mesmo esses podem ter sido reproduzidos / roubados de fontes mais obscuras, como revistas de ficção científica ou li­vros de ilustração com kaijus”. Na galeria do site Gojipedia dedica­da aos Pachimon, o leitor pode conferir outros exemplos de bo­necos de vinil e ilustrações cria­das com base nos monstros lan­çados de forma despretensiosa como uma forma de marketing.

MAIONESE

A história da marca de maio­nese tem início logo após a Pri­meira Guerra Mundial. Toichiro Nakashima, que servia no Depar­tamento Interno de Comércio e Agricultura do Japão, foi enviado para a Europa e Estados Unidos. Na volta de uma dessas viagens, fundou uma companhia de ali­mentos, e teve a ideia de introdu­zir o maionese na alimentação da população. O produto, até então, era bastante incomum no Japão. À fórmula tradicional foi adicio­nada uma maior quantidade de ovos, em adaptação ao paladar japonês, e desde que foi lança­da, a marca revolucionou a culi­nária do país. A estratégia inicial de marketing de seu criador, se­gundo o site Pogogi, foi utilizar a imagem e o nome das bonecas Kewpie, bastante populares nos Estados Unidos, porém desco­nhecidas na Ásia.


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