O destino de uma nação
Redação DM
Publicado em 15 de janeiro de 2018 às 22:25 | Atualizado há 5 meses
Muitos irão reclamar que O Destino de Uma Nação é um filme sem ação. Mas o que seria ação quando se trata de cinema? Criou-se no imaginário popular que ação é somente aquilo que caracteriza um conjunto de explosões, lutas, fugas e perseguições. O que é um grande pecado. Ação significada agir. Manifestar uma força agente. É um comportamento. Um acontecimento. E o novo filme de Joe Wright é um conjunto de momentos de ação onde a palavra é o principal agente. A oratória é a força que faz de seu protagonista o grande herói da trama, e torna cada acontecimento uma implacável luta – não física – pelo bem comum de uma nação.
São poucos os personagens reais que sobrevivem ao tempo e conseguem ser reproduzidos com frequência mesmo após anos desde sua morte. Muito, deve-se, ao papel fundamental obtido em sua trajetória em vida, e sua fundamental importância ao contexto da época. Winston Churchill é um desses personagens. Gordo, baixo, fumante assíduo e alcoólatra assumido, Churchill tinha todas as características físicas que poderiam lhe tornar uma figura repugnante. Seu comportamento também não era dos mais palatáveis. Sujeito ansioso, tempestuoso, imprevisível e voraz, podemos dizer que ele era aquela típica pessoa de “personalidade forte”. Mas Churchill também era sentimental. Patriota. Um estrategista talentoso. Um orador exímio. Foi ele quem guiou a Inglaterra contra Hitler e bateu de frente contra todos os parlamentares que desejavam negociar a paz com o tirano. Para ele não existia acordo. Hitler era um mau. Um mau que precisava ser execrado com violência. Luta. E impedido de crescer.
Em O Destino de Uma Nação o roteiro de Anthony McCarten se passa durante este momento onde a Segunda Guerra não havia sido anunciada, mas cujas engrenagens já estavam girando rumo ao estopim. O ano é 1940 e Churchill é designado ao cargo de Primeiro Ministro da Inglaterra. O país estava indeciso, Neville Chamberlain, até então Primeiro Ministro, estava sendo constantemente acusado de não conseguir dirigir a nação em tempos de guerra, e por fim, foi forçado a renunciar. Churchill não era a primeira opção, aliás, mal tinha apoio do seu partido.
O roteiro constrói essa trajetória difícil de Churchill ao poder, enquanto este precisa lidar com a ascensão do nazismo na Europa e combater a ameaça. A situação complica quando os alemães encurralam mais de 300.000 soldados ingleses, franceses e de outras nacionalidades em Dunkirk, França. Sem poderio para enfrentar o exército inimigo, a solução era fugir. Evacuar a cidade. Mas como, se de um lado estava os alemães e do outro o mar?
Churchill precisava lidar não apenas com os problemas relacionados à política interna de seu país, como também com o início da grande guerra. O diretor Joe Wright, de clássicos como Orgulho e Preconceito e Desejo e Reparação, filma com maestria e beleza cada segmento. A fotografia de Bruno Delbonnel é um deleite aos olhos e o filme, com bastante diálogo e reflexão, é dinâmico em sua construção narrativa e na maneira como retrata Churchill.
Há algumas omissões na trama que deixam certas explicações vagas. Se Churchill tinha a reprovação do seu próprio partido, o roteiro não explora qual era, de fato, a força política de Churchill antes de chegar ao cargo de Primeiro Ministro. O que o levou até ali? Qual era o seu poder de influência? São detalhes, mas detalhes importantes para mostrar o influente político que Churchill era antes de assumir o grande cargo inglês.
Mas o resultado final de O Destino de Uma Nação não é prejudicado. O elenco é uma das forças que faz do filme tão poderoso. Se os coadjuvantes conseguem resultados elevados como Kristin Scott Thomas, Lily James, Ben Mendelsohn, Ronald Pickup e outros, é Gary Oldman como Winston Churchill quem assombra com tamanha naturalidade, vivacidade e entrega ao papel. Mesmo com uma pesada, e incrível maquiagem, Oldman excede com um desempenho voraz e minucioso em cada detalhe do ex-Primeiro Ministro. Já pode separar lugar na estante, porque o Oscar de Melhor Ator deste ano é de Gary Oldman!
O Destino de Uma Nação, apesar das pequenas omissões que o fariam mais completo, continua sendo um ótimo filme histórico que reconta os bastidores de um período conturbado da política britânica. Apoiado por uma direção, produção e atuações impecáveis, o longa é uma obra que vale, e muito, a pena ser assistida. Recomendado!
(Matthew Vilela, comentarista de cinema do DM e do blog “Blog do Matthew Vilela