O menor circo do mundo
Diário da Manhã
Publicado em 19 de abril de 2018 às 21:21 | Atualizado há 4 meses
A frase “ocupe a cidade”, ultimamente, é um mantra na boca de produtores culturais, artistas e até mesmo políticos próximos da área. Ocupar com cultura, é claro, trazendo pro lugar mais comum entre as pessoas (a rua) um pouco da arte feita nesta região. A repetição constante dessa frase, quase como um mote, se dá pela falta de estrutura e de políticas do Estado para a manutenção dos espaços culturais, ou também pela burocracia que circunda esses espaços e, por fim, o preço para realizar intervenções artísticas, muitas vezes um valor inviável para novos coletivos ou artistas independentes. Sem um local que permita o contato direto entre obra e público, o artista se vê incumbido de carregar seu trabalho, nem que seja debaixo do braço,como diz Milton Nascimento: todo artista tem de ir aonde o povo está.
A cidade de Goiânia é uma região curiosa, quando pensamos a formação e continuidade dos espaços culturais. Ao falar dos locais públicos, percebemos um “vai e vem”, ou seja, momentos de efervescência cultural e depois, pela falta de manutenção, um completo abandono. Na iniciativa privada, as boates e bares dominam, abrindo e fechando suas portas de acordo com o lucro ou o prejuízo. Nessa terra meio desmotivada, que tem intenções de alçar voo, mas nunca tira a roda do chão, existem espaços que vão na contramão dessas afirmações e se mantêm vivos. São esses espaços, quase tradicionais, que demonstram a força da resistência cultural. Na verdade, a resistência que transforma um espaço comum em um local para a arte.
Por esses fatores (e outros mais importantes) a Oficina Cultural Geppetto é um dos locais mais interessantes de Goiânia culturalmente. São mais de duas décadas de história, com as portas sempre abertas para receber novos artistas, espetáculos e ações culturais das mais diversas. Talvez este seja um principal diferencial, além da resistência, o espaço funciona de uma maneira colaborativa e solidária, com eventos gratuitos, colaboração livre ou com preços acessíveis. Inclusive, os produtores que trabalham na Geppetto realizam, em parceria com produtores e artistas de Goiânia, a Galhofada. O evento ocorre nas proximidades da Geppetto, no Setor Pedro Ludovico, desde o ano de 2004.
OFICINA DA ARTE
Recentemente a Geppetto lançou uma campanha de apoio financeiro público via internet. Na página, o grupo afirma ser adepto da Economia Solidária e “graças ao esforço conjunto temos conseguido contribuir para que aconteçam ações que consideramos de extrema importância na busca de nossos objetivos”. Apesar da forte expressão e da resistência cultural na capital do Estado de Goiás, a Geppetto precisa de ajuda financeira do público para continuar mantendo suas atividades. O valor total para reerguer a oficina sem maiores dificuldades é de R$ 7.600,00. Até esta data, o grupo alcançou 9,9% desse valor. Para apoiar a Oficina Cultural Geppetto é só acessar o link https://apoia.se/geppettocultural e fazer sua contribuição.
PIZZA E TEATRO
Apesar da necessidade de um financiamento público, a Geppetto mantém suas portas abertas para apresentações. Nesta sexta-feira (20/4) e sábado (21) dois grupos de teatro da Argentina se apresentam na oficina cultural. A Umami Teatro e a Companhia El Alma en un Hilo trazem para a capital do Estado de Goiás um pouco da magia do circo e da arte de rua. As apresentações dos dois grupos são feitas com bonecos, marionetes e formadas animadas, uma ótima opção cultural e de entretenimento não só para adultos, mas também para crianças. Os ingressos, inclusive, custam R$ 40 para adultos e R$ 10 para o público infantil (até 12 anos) e dá direito à assistir os dois espetáculos com pizza e refrigerante à vontade. A Oficina Cultural Geppetto está localizada na Rua 1.013, Qd. 39, Lt. 11, Setor Pedro Ludovico. O evento começa às 20h e o espetáculos têm início por volta das 21h.
Respeitável Público! Passem e vejam, senhoras e senhores! O Menor Circo do Mundo! O único que, apesar de seu tamanho reduzido, oferece um espetáculo gigante, grandioso. Conheça a equilibrista e seu perigoso número de corda bamba e surpreenda-se com o temível encantador de serpentes e outros mistérios!
A “Umami Teatro” é constituída e dirigida por Leonardo Javier Olivieri, um artista nascido em Buenos Aires, que iniciou seu trabalho em 2003 como titereiro, ou seja, manipulador de marionetes, e que desde então se divide entre as atividades de artista, professor e de produtor de festivais e mostras. Seu trabalho com bonecos, teatro em miniatura, teatro de lambe-lambe tem ganhado cada vez mais atenção do público e da crítica especializada.
As atividades de sua Companhia foram declaradas, em 2014, como sendo “de interesse cultural” pela Legislatura da cidade de Buenos Aires. Em Goiânia, Umami fará o espetáculo Circo em Miniatura, um espetáculo de bonecos (títeres) de mesa, inspirado no vasto universo circense. O mestre de cerimônia conduzirá o público a desfrutar os números que seguem em clima bem-humorado, com personagens divertidos que se verão metidos nas mais diversas dificuldades na hora de realizar suas proezas.
O segundo trabalho a ser exibido ao público será o de Rosana López, artista plástica especializada em design e construção de formas animadas. Com uma experiência de 20 anos na investigação de diversos materiais, design e realização de personagens, Rosana estudou com marionetistas da Argentina, Brasil e da Espanha. Com sua Cia. “A alma em um fio”, dedicou os últimos anos ao teatro de marionetes e teatro lambe-lambe. O espetáculo Olhares promove um encontro entre poesia e música. Dois artistas de rua interpretam um repertório de canções, a partir de um velho acordeão. Bonequeira e marionetista revivem a magia que carregam aqueles que escolheram as ruas como espaço cênico. O espetáculo, em formato de pequeno porte, propõe aprofundar-se na arte do encontro.