O samba da discordia
Diário da Manhã
Publicado em 2 de junho de 2018 às 00:17 | Atualizado há 4 meses
Os goianos terão a chance de conhecer neste fim de semana, os mistérios que envolvem a vida e morte do Drácula de Madureira. Ou como mais conhecido o Boca de Ouro, um bicheiro misterioso e intrigante saído da obra de Nelson Rodrigues. Sob direção de Gabriel Vilela, encarna este personagem o ator Malvino Salvador em uma trama repleta de contextos atuais, sobretudo na abordagem da mídia. O espetáculo Boca de Ouro fica em cartaz hoje, às 21 horas, e amanhã, às 20 horas, no Teatro Madre Esperança Garrido.
Estão ainda no elenco Mel Lisboa e Claudio Fontana, como o casal Celeste e Leleco; Lavínia Pannunzio, que vive a transtornada Guigui, ao lado de Leonardo Ventura, que dá vida a seu fiel e apaixonado marido Agenor. Chico Carvalho é Caveirinha, o rodriguiano repórter que carrega em si o olhar afiado e crítico Nelson Rodrigues, jornalista que durante anos trabalhou em redações e conheceu ele próprio os vícios e contradições da imprensa.
Cacá Toledo e Guilherme Bueno completam o elenco junto a Jonatan Harold, ao piano, e Mariana Elisabetsky, interpretando as 14 canções do espetáculo. As canções são dignas de nota, já que Vilela, que assina ainda a cenografia e figurinos, preparou para “Boca de Ouro” um clima de carnavalesco embalado por sucessos de Dalva de Oliveira, Heriberto Martins, Ary Barroso, entre outros.
Escrita em 1959, a peça é ambientada entre a gafieira, com mesas e cadeiras, uma redação de jornal e as casas dos personagens. Dentro das iconografias do subúrbio carioca, Gabriel se utiliza da simbologia do Candomblé e das mascaradas astecas no espetáculo. A casa de Celeste e Leleco traz muitas representações de Orixás sincretizados. A figura de Iansã (Guilherme Bueno) aparece toda vez que uma cena de morte acontece–ela faz a contra-regragem das mortes.
A HISTÓRIA
A movimentação da peça gira em torno da morte de Boca e um repórter decide ‘vasculhar” o passado o defunto. O jornalista em questão é Caveirinha (Chico Carvalho), que vai até a casa da ex-amante Guigui (Lavínia Pannunzio), que traz versões contraditórias sobre o falecido, ora é uma figura desprezível, ora amorosa.
“A Guigui é insuperável – com três expedientes emocionais e psíquicos, ela conta três vezes a mesma história, embaralhando com maestria para que tudo seja incrivelmente verdadeiro”, analisa o diretor.
E foram as diferentes versões de Guigui para a morte de Boca de Ouro, que levaram Gabriel Villela a fazer conexões da peça com uma pesquisa recente da universidade de Harvard, sobre um fenômeno contemporâneo chamado “pós-verdade”, que cabe muito bem à nossa era atual de fakenews.
“Pós-verdade é um produto da modernidade tecnológica: você inventa uma história, realinha ideias, publica, arruma vários seguidores e isso se amplia, viraliza na internet e ninguém mais sabe sobre o que se está falando. Somos todos vítimas disso”, reflete o diretor.
Assim, o público vai poder ver um retrato do Brasil atual, em uma peça escrita no final dos anos de 1950: política, as narrativas contraditórias, a libido, a festa da gafieira, o jogo do bicho, a fé e a música.
SUCESSO
Os assuntos intrigantes tão comuns nas obras rodriguianas, parecem fazer Vilela se identificar especialmente. Pois esta é a terceira obra adaptada por Gabriel Villela. Em 1994 montou “A Falecida”, com Maria Padilha no papel título, e em 2009 “Vestido de Noiva”, protagonizado por Leandra Leal, Marcello Antony e Vera Zimmerman.
“Boca de Ouro”, ele montou ano passado e tem sido bem recebido pela crítica e pelo público. Recebeu duas indicações ao Prêmio Shell de Teatro e passou por temporadas em São Paulo (SP), Rio de Janeiro (RJ), Belo Horizonte (MG), Curitiba (PR), Campo Grande (MT) e Porto Alegre (RS).
“Essa peça foi muito importante na minha carreira pelo aprendizado que eu adquiri, por ter dividido o palco com grandes atores, por conhecer o universo do Gabriel Villela, que é um dos nossos maiores diretores, que tem uma personalidade vibrante, impressa nas suas montagens. A peça tem o potencial de chegar em Goiânia de uma maneira muito bonita, é isso que eu espero”, disse Malvino Salvador.
AS MÚSICAS DO ESPETÁCULO
Cidade Maravilhosa (Andre Filho)
Vingança (Lupicínio Rodrigues)
Ave Maria do Morro (Herivelto Martins)
Lencinho Branco (Dalva de Oliveira)
A Noite do Meu Bem (Dolores Duran)
Na Cadência do Samba (Ataulfo Alves)
Ne Me Quittes Pas (Jacques Brel)
Última Estrofe (Orlando Silva)
Eu Dei (Ary Barroso)
O Ouro e A Madeira (Ederaldo Gentil)
Hino ao Amor (Edith Piaf / M. Monnot)
Não Deixe o Samba Morrer (Edson Conceição e Aloísio Silva)
Bang Bang – My Baby Shot Me Down (Sonny Bono)
De Frente Pro Crime (João Bosco)
BOCA DE OURO
Quando: Hoje, às 21h e amanhã, às 20h
Onde: Teatro Madre Esperança Garrido
Ingresso: Plateia Inferior: R$ 100 (inteira) / R$ 50 (meia-entrada)
Plateia superior: R$ 70 (inteira) / R$ 35 (meia-entrada)
Informações: (62) 3212-3531
Classificação: 14 anos