O teatro, o deboche e uma força
Diário da Manhã
Publicado em 29 de agosto de 2018 às 01:30 | Atualizado há 4 meses
Dois homens e uma forca. Essa é a primeira imagem de “Enforcados”, espetáculo dos goianos do Grupo Improvisórios. A montagem, que está em breve temporada por centros culturais da Capital, será encenada hoje, às 19h, no Lacena, na Escola de Música e Artes Cênicas da Federal (Emac), no Câmpus Samambaia. Através de uma estética sufocante e debochada, a peça teatral pretende trazer à tona inquietações estéticas, políticas e existenciais do grupo, que cruzam os problemas da sociedade como um todo. Um de seus objetivos do texto é abordar questões, o papel do homem dentro da sociedade moderna fora dos estereótipos machistas.
O projeto, apoiado pela Lei Municipal de Incentivo à Cultura, executado pelo Grupo Improvisórios com produção da Plano V Eventos e Cultura, até o dia 3 de setembro vai realizar nove apresentações em diferentes espaços de Goiânia. Até o final do projeto terá passado pelo por pubs, universidades e pontos de cultura. Em todos os locais, a entrada franca.
A estreia da nova montagem “O Enforcado” aconteceu no dia 22 de agosto, no Ponto de Cultura Vera Cult, e sua temática vem agradando o público. “O público tem recebido bem o espetáculo. Dizem que é divertido e debochado”, conta o diretor de “Enforcados”, Julio Vann, que foi convidado pelo grupo após a direção da montagem que estreou ano passado chamada “Mundo Cão”.
Em cena está um dos criadores do Grupo Improvisórios, Deidian Lucas, que contracena ao lado do ator convidado Thiago Moura. Este último possui vasta experiência no cinema e teatro e é ainda preparador de elenco, curador e palhaço. E no palco os personagens levam também as iniciais de seus intérpretes (são chamados de DD, e TH), reforçando o fato de narrativa tratar-se dos próprios dilemas existenciais dos envolvidos na montagem.
“A peça foi criada coletivamente. Logo, colocamos no palco o que mais nos incomoda enquanto homens. Queremos saber qual o nosso lugar, mas longe da visão que se tem hoje no mundo machista. Mas é preciso dizer que colocamos em cena apenas questões e não soluções. É o público que deve chegar às suas próprias conclusões”, explica o diretor.
E nesta busca por respostas pode-se notar que a cabeça dos homens modernos anda repleta de conflitos. “O desafio é literalmente questionar o espaço, a identidade, os pontos de vista, os modos e as possibilidades… Há chance para a reinvenção? O espetáculo é uma busca por palavras, gestos, conversas nunca tidas. Trata-se de um experimento sobre o riso, a dor, a festa, o velório, o prazer, a pressão, a angústia, o deboche e o amor”, explica o artista.
REFERÊNCIAS
Corporal e energético, os atores se desafiam em cena numa conversa que tem ares de luta. E outra característica evidente de “O Enforcado”, e do próprio grupo – diga-se de passagem – é o deboche vindo da palhaçaria, uma das escola dos atores. Porém, pela mistura de visões é possível avistar na peça variadas linguagens artísticas, além do universo clown. Há referências ao teatro de rua e do teatro de objetos, por exemplo.
Outra influência, o grupo retirou do tarô, já que O Enforcado é carta número 12 do jogo místico. Ela trata dos desafios que um indivíduo pode passar e aconselha que para enfrentá-los é necessário agir usando a sabedoria e não a força.
“A carta 12 representa um recomeço, uma nova visão. Tem a ver com a peça porque defendemos que a masculinidade ideal ainda deve ser descoberta. Muitos homens querem mudar a maneira de comportar e de serem vistos na sociedade, mas estão perdidos. A peça quer ressaltar a igualdade de direito entre os gêneros e questionar o novo lugar do homem moderno”, reflete o diretor.
A referência à carta O Enforcado pode ser sentida ainda na identidade visual do espetáculo, através da obra do artista Flávio Del Lima.
GRUPO
O Grupo Improvisórios desde 2008 se engaja por experimentar efetivamente estéticas que envolvem a máscara, o palhaço, o teatro de rua, o grotesco e o teatro de objetos. A proposta nasceu de inquietações e reencontros, 15 anos depois, de três ex-alunos de Artes Cênicas da turma de 2003: Edimar Pereira, Deidian Lucas e Thiago Moura.
“A memória destes atores-criadores, estudantes, pobres, ‘feios’ e com baixa autoestima dão as primeiras linhas sobre o que é ser homem no mundo contemporâneo. E mais de uma década depois o Grupo Improvisórios propõe um novo espaço de criação e nele encontrou o teatro, o deboche e uma forca”, argumenta Deidian Lucas.
PROGRAMAÇÃO
Hoje
19h – Lacena/UFG
Amanhã
20h – Evoé Café com Livros
Sexta (31)
20h – Oficina Cultural Geppeto
Segunda-feira (3/09)
20h – Centro Cultura Goiânia Ouro