O Teste do Pezinho é um direito da criança
Diário da Manhã
Publicado em 16 de junho de 2018 às 22:35 | Atualizado há 4 meses
- Seis doenças que interferem no desenvolvimento da criança podem ser diagnosticadas com este exame
Dos cuidados com os recém-nascidos, que são primordiais, o Teste do Pezinho é um direito da criança e um dever dos pais e do sistema de saúde. Um exame de extrema simplicidade que pode detectar algumas doenças que interferem no desenvolvimento do bebê. Desde o ano de 2001, o Teste do Pezinho é obrigatório e gratuito em todo território brasileiro.
O exame é realizado a partir da coleta de gotinhas de sangue do calcanhar do bebê, de forma rápida e quase indolor, o exame é fundamental na prevenção da deficiência intelectual e na melhoria da qualidade de vida das crianças. Para que a prevenção seja possível, o exame deve ser realizado após as primeiras 48 horas do nascimento e até o 5º dia de vida do bebê. Assim, se for diagnosticada alguma doença prevista no Teste do Pezinho, é possível intervir de forma segura e eficaz, evitando complicações graves para a saúde dos recém-nascidos.
Atualmente, é disponibilizado pelo SUS este exame básico, que consegue detectar seis doenças: fenilcetonúria, hipotireoidismo congênito, Anemia Falciforme e demais Hemoglobinopatias, Fibrose Cística, Hiperplasia Adrenal Congênita e Deficiência de Biotinidase. Há também outras versões do Teste do Pezinho para o mercado privado, que podem chegar à detecção de até 50 doenças raras.
Para conscientizar sobre a importância do exame, a Apae e a Unisert (União Nacional dos Serviços de Referência em Triagem Neonatal) promovem a Campanha Junho Lilás. Para entender melhor o assunto, Flavia Piazzon, médica geneticista e consultora científica da Apae, explica mais sobre as doenças que o Teste do Pezinho Básico diagnostica.
O DIAGNÓSTICO POSSIBILITA TRATAMENTOS
Uma das doenças reveladas no exame é a Fenilcetonúria, uma condição genética,que causa deficiência de uma enzima muito importante para o organismo, chamada fenilalanina hidroxilase. “A pessoa não consegue converter a fenilalanina em tirosina e, com isso, há um acúmulo do aminoácido fenilalanina, que em excesso é tóxico e pode causar sérios problemas neurológicos, entre eles a deficiência intelectual”, conta Flavia. A fenilcetonúria não tem cura, mas tem tratamento, que consiste em uma dieta restrita em fenilalanina. Entre alguns dos alimentos proibidos estão: todos os tipos de carne, leite de vaca e ovos.
O hipotireoidismo congênito, que afeta o desenvolvimento do bebê, também pode ser revelado no Teste do Pezinho. Esta doença é causada pela ausência ou mal funcionamento da glândula da tireoide, localizada no pescoço. A doença não tem cura, mas tem tratamento que é feito à base de reposição hormonal por medicamento via oral. Quanto mais cedo é feito o diagnóstico, melhor para a saúde do bebê, que poderá desenvolver-se de forma adequada e saudável. Se não for tratada logo e de forma correta, a doença pode atrasar o desenvolvimento do bebê e leva-lo à deficiência intelectual.
A anemia falciforme, condição genética, causa quadros abruptos de anemia e inchaço. A anemia falciforme é causada por uma alteração na forma dos glóbulos vermelhos, que ficam deformados e se rompem precocemente. “Nas crises agudas da doença, o tratamento imediato em pronto-socorro pode ser necessário, no qual o paciente receberá soro e, em alguns casos, haverá necessidade de transfusão de sangue. No entanto o papel do teste do pezinho é o diagnóstico precoce na tentativa de evitar estas crises”, explica Flavia. Quem tem anemia falciforme é mais suscetível a infecções. A doença não tem cura, mas o acompanhamento garante melhoria na qualidade de vida.
OUTRAS CONDIÇÕES DA SAÚDE DO BEBÊ QUE PODEM SER DIAGNOSTICADAS ATRAVÉS DO TESTE DO PEZINHO:
FIBROSE CÍSTICA
A fibrose cística também de origem genética afeta a regulação de sódio e cloro nas células. Quem tem a doença, apresenta secreções mais espessas, principalmente nos pulmões, o que pode facilitar infecções pulmonares. A doença também causa problemas nas enzimas digestivas do pâncreas, que em bebês pode dificultar o ganho de peso. “A pessoa que possui fibrose cística não consegue digerir bem as gorduras, o que pode levar a uma desnutrição se o paciente não for diagnosticado e tratado, pois não há absorção adequada dos alimentos”, destaca a médica.
HIPERPLASIA ADRENAL CONGÊNITA
A Hiperplasia Adrenal Congênita se não tratada a tempo, leva a desidratação fatal
“Caracterizada pela deficiência genética da enzima 21-hidroxilase, a hiperplasia adrenal congênita altera a produção de hormônios nas glândulas adrenais, que ficam localizadas sobres aos rins. Com isto, pode levar a uma desidratação potencialmente fatal nas formas perdedoras de sal”, alerta a geneticista. A doença pode também levar a um distúrbio de diferenciação sexual. O tratamento envolve medicamentos e, em alguns casos, cirurgia reconstrutiva.
DEFICIÊNCIA DE BIOTINIDASE
Trata-se da ausência dessa vitamina, que pode causar surdez. Considerada um erro inato do metabolismo, a pessoa que apresenta a deficiência de biotinidase não é capaz de reciclar a vitamina biotina, presente no leite materno, carnes e leguminosas. “O bebê pode apresentar lesões de pele avermelhadas (rash cutâneo), queda de cabelos, atraso do desenvolvimento levando a deficiência intelectual e problemas auditivos, como a surdez”, explica Flavia. O tratamento é feito com comprimidos de vitamina B7 em grande quantidade.