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O vale da longevidade

Diário da Manhã

Publicado em 16 de abril de 2018 às 23:58 | Atualizado há 5 meses

Nos anos 1970, um pesqui­sador de Harvard, dr. Ale­xander Leaf, introduziu o mundo ao vilarejo de Vilcabam­ba, distrito da cidade de Loja, no Equador. Ele acreditava ser um local de grande concentração de centenários, e chegou a fazer várias pesquisas para descobrir se algum elemento presente na água ou na vegetação da cidade era respon­sável por esse feito. Depois de di­vulgar ao mundo todo o lugar que chamou de Vale da Longevidade, o vilarejo passou a receber turistas de várias partes do planeta. Depois de algum tempo, o próprio dr. Ale­xander passou a desconfiar das idades afirmadas pelos moradores – que chegavam a 120, 130 anos de idade. Uma pesquisa mais apura­da revelou que não existia, de fato, nenhum centenário no lugar.

Apesar de os moradores de Vilcabamba não serem realmen­te centenários, pesquisas apon­taram que o estilo de vida na ci­dade, que inclui trabalho pesado em grandes altitudes combinadas com uma dieta de baixo consumo de carboidratos e gordura animal, ajuda a população a se manter vi­gorosa na idade avançada.

Antes de descobrir a farsa dos moradores, dr. Alexander Leaf tam­bém descobriu algumas proprie­dades especiais na água e nas plan­tas da região de Vilcabamba, que fica em um local de difícil acesso em uma região de vales do Equa­dor. Ele escreveu sobre essas pes­quisas no livro The Secret of a You­thful Long Life. Nele, afirma que a fonte da juventude e da saúde dos habitantes está na água da região, que é rica em minerais.

Consequentemente, como afirma o autor Brad Smithfield para o site The Vintage News, a água, levada para análise labo­ratorial, continha várias particu­laridades. “Foi descoberto que a água continha um balanço único de minerais coloidais enriqueci­dos, ideais para otimizar a saúde humana. Mesmo com essa des­coberta, algumas suspeitas foram levantadas por outros pesquisa­dores, o que culminou na desco­berta de que existia um costume hereditário na vila de exagerar a idade.

SUSPEITAS

“Centenários de Taubaté” – As­sim que a fama internacional de Vilcabamba cresceu, cientistas continuaram a investigar o segre­do da longevidade do vilarejo. Al­guns deles passaram a expressar certo ceticismo quanto à veraci­dade da idade dos moradores. Dr. Alexander Leat, pesquisador da Escola de Medicina de Harvard (EUA), um dos primeiros a con­duzir uma pesquisa científica no local, passou a expressar algumas dúvidas. Suas suspeitas cresceram quando ele percebeu que os mo­radores locais eram inconsistentes ao reportar suas idades. Um exem­plo famoso é de um homem que em 1971 afirmou ao dr. Alexan­der ter 122 anos. Em 1974, o mes­mo morador aumentou 12 anos em sua idade, afirmando ter 134.

De acordo com o historiador britânico Peter Laslett, no livro The Bewildering History of the History of Longevity, a incidência de longevidade em pontos geo­gráficos específicos é indubita­velmente algo possível, e que ca­sos assim já foram registrados ao longo da história. Por outro lado, afirma que “apenas uma grande sobrevida geral não demonstra de fato probabilidade de uma longevidade sistemática. Análi­ses críticas e céticas têm conde­nado informações infundadas”, explica o autor.

Dr. Alexander Leaf convi­dou o dr. Richard Mazess, da Universidade de Winsconsin, e a dra. Sylvia Forman, da Uni­versidade da Califórnia (am­bas nos EUA), para determinar a idade correta da população idosa de Vilcabamba. Eles chegaram à conclusão de que não havia um único centená­rio vivendo no vilarejo. A pes­soa mais velha encontrada em Vilcabamba tinha 96 anos. A média de idade, que acredita­va-se ser acima dos 100 anos, era na verdade de 86. As pes­quisas apresentaram tais re­sultados em 27 de fevereiro de 1978, em um workshop do Ins­tituto Nacional de Saúde na ci­dade de Bethesda.

FARSA

Longe de ser Vilcabamba, de fato, o Vale da Longevidade que se acre­ditava, as pesquisas concluíram que a “longevidade individual em Vilca­bamba é pequena ou mesmo irre­levante daquela que é encontrada no restante do mundo”. Concluíram ainda que a expectativa de vida no vilarejo, corrigida depois de desmas­carado o exagero das afirmações, era menor do que a dos Estados Unidos.

As pesquisas especularam que os moradores mentiram suas ida­des para poder ganhar prestígio na comunidade. Essa prática ocorreu por várias gerações, bem antes das pesquisas acadêmicas chegarem no local. Mais tarde, o doutor Leaf especulou que a pu­blicidade internacional e o au­mento do turismo na região aca­bou encorajando o aumento dos exageros dos moradores.

 


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