O vinho, onde ele começa!
Diário da Manhã
Publicado em 29 de agosto de 2018 às 23:50 | Atualizado há 4 meses
Apesar de todo o mistério e complexidade do vinho, ele nasce de algo totalmente simples: a uva. A polpa é o centro macio e suculento da uva, e a parte que se transformará em vinho, é constituída principalmente de água e também de açúcar, a polpa de uma uva madura contém minúsculas quantidades de ácidos minerais, pectina e ainda um toque de vitaminas. O açúcar da fruta é crucial para a vinificação, pois se converterá em álcool. As cascas das uvas desempenham a parte interessante do processo. Elas são responsáveis pelos aromas e pelo sabor do vinho, a cor e o tanino. O processo tem um longo caminho a percorrer até chegar a ser um vinho. Vários atributos essenciais a considerar: álcool, ácido, tanino, fruta, doçura ou secura.
Vamos começar pelo álcool, que é resultado do contato da levedura com o açúcar natural da polpa da uva. É um elemento básico do vinho porque desempenha na qualidade definitiva do vinho. Quanto mais maduras as uvas, mais açúcar natural contém, e mais elevado será o teor de álcool. Ele afeta o corpo e a textura do vinho. Vinhos de alta alcoolicidade são muito encorpados, redondos e sutis; às vezes são densos. Os vinhos de baixa alcoolicidade são leves, finos (pense nos riesling, secos da Alemanha). Mas cuidado, um vinho com muito álcool, sem uma boa dose de acidez, tem um gosto flácido e amorfo como um café fraco.
O ácido é o elemento mais importante da polpa, além da água e do açúcar, embora, como eu disse antes, nada disso seja muito perceptível. Quando a uva amadurece, o conteúdo de açúcar aumenta e o do ácido diminui. O desafio é colhê-la exatamente quando existe um ótimo equilíbrio entre os dois. A acidez dá vivacidade ao vinho, e até certo sacia a sede. Sem uma quantidade suficiente de acidez, um vinho seco parece lânguido, pesado e chato. Os vinhos sem acidez também são suscetíveis de deteriorar e não envelhecem bem. Por outro lado, um vinho com acidez excessiva tem sabor cortante. O teor exato de acidez: nem mais nem menos. Equilíbrio.
Em certas vinícolas de clima quente, como certas áreas da Califórnia e da Austrália onde as uvas rapidamente perdem a acidez natural, em geral os vinicultores ajustam o ácido porque ajudam o vinho a ter um sabor mais concentrado.
O tanino que provém das cascas e das sementes, é um dos componentes mais integrantes do vinho, em especial do vinho tinto. Dependendo da quantidade e da natureza do tanino, e do fato de ser equilibrado (ou não) pelos outros constituintes, ele pode aumentar a grandeza do vinho ou torná-lo inferior. Um amigo meu enólogo Anderson Silva, profissional de vinhos, certa vez descreveu o tanino com a seguinte: “Faça um chá e esquece o saquinho mergulhado na xícara. O sabor extremamente amargo e adstringente do chá que ficou em infusão durante um bom tempo provém do tanino encontrado nas folhas. O tanino do chá está relacionado com o tanino do vinho. Se for possível imaginar a aspereza da xícara de chá, pode-se imaginar a aspereza que o tanino pode proporcionar ao vinho”.
A questão é a seguinte: o que poderia fazer para melhorar o sabor do chá? Acrescentar água quente, simplesmente produzirá a diluição do amargor, mas depois a aspereza voltará de modo vingativo, assim que o sabor doce desaparecer. A única substância que melhoraria o sabor do chá é o leite. A gordura e a proteína do leite podem efetivamente camuflar o amargor e farão com que o chá adquira um sabor mais suave. A mesma idéia tem sido aplicada durante séculos ao se beber vinho. Porque que na maioria dos eventos que servem queijo tem vinho? Porque depois de centenas de anos de tentativas e erros inconscientes, muitos produtores de vinhos passaram a compreender que de certo modo o queijo melhora o sabor do vinho principalmente vinho tinto barato. O queijo abranda a aspereza do tanino do vinho. Tomem cuidado: alguns banqueteiros espertos sempre souberam que ninguém perceberá os defeitos de um vinho barato, desde que seja servido junto com o queijo.
Mas atenção, uma quantidade adequada e bem equilibrada com os demais elementos não causará um efeito de deixar na boca a sensação de ter sido revestida por um guardanapo. Porque quando em harmonia, o tanino é “sentido” como parte da estrutura e do vinho. Com uma estrutura bem definida, seguramente o vinho adquirirá excelência e beleza. O tanino faz parte da estética e da forma do vinho. Um vinho com maior quantidade de tanino durará mais. Portanto, os varietais tintos que possuem tanino elevado como Cabernet Sauvignon ou o Nebbiolo, são os que podem envelhecer durante muito tempo, pois o tanino e a percepção deste mudam ao longo do tempo, às vezes, drasticamente. Por isso eu amo o vinho porque isso é um enigma da bebida dos deuses.
Na década de 1980, a pesquisa da viticultura sobre os componentes fenólicos começou a delinear um novo quadro. A nova visão sugeriu a existência de dois tipos de taninos: tanino maduro, bom, e tanino imaturo, ruim. O tanino maduro resultava em vinhos estruturados, ricos em sabor rascante e adstringente, mesmo quando esses vinhos eram jovens. O tanino imaturo resultava em vinhos grosseiros, excessivamente ásperos e secos. Mas para mim não é fácil determinar a maturidade do tanino. Diferente da maturidade do açúcar, que pode ser facilmente medida, a do tanino dificulta a quantificação. Só se pode calcular experimentando a uva. Pode-se pensar que é fácil, mas não é. É frustrante para o provador, pois as uvas podem estar plenamente maduras em termos de açúcar e ainda assim possuírem tanino imaturo. Uma loucura o mundo do vinho. Por mais enigmático que seja perceber o tanino maduro, atualmente é o método adotado pelos principais produtores de vinhos e viticultores para decidir quando efetuar a colheita.
A fruta é o que a palavra sugere: a propensão de um vinho em demonstrar aromas e sabores semelhantes e frutas. A fruta é muito marcante nos vinhos jovens e raramente encontrada nos vinhos maduros. Alguns varietais por exemplo, o gewurztraminer, é muito frutado é notável pelo aroma e pelo sabor de lichia. Beber um gamay é como mergulhar num tanque de cerejas pretas.
Doçura e secura parecem conceitos fáceis, mas frequentemente são mal compreendidos. Por exemplo, muitas pessoas dizem que preferem beber vinhos secos, mesmo que os vinhos que bebam comumente, como o chardonnay, possam conter um pouco de doçura. Depois de pronto, o vinho pode conservar ou não um pouco do açúcar q1ue havia na polpa da uva madura. A presença de açúcar não transforma necessariamente o vinho em um vinho doce, de sobremesa. Pode-se deixar, de propósito, uma pequena quantidade de açúcar natural, para equilibrar o acre da acidez ou aumentar a fruta do vinho.
Que confusão deve estar a cabeça de vocês. Passemos às perguntas: Um vinho pode ser frutado e doce? E frutado e seco? Ou doce e seco? As respostas são: sim, e não. Tantas vezes o doce num vinho é confundido com a fruta, que frequentemente os dois termos são usados de modo intercambiável, ainda que signifiquem coisas inteiramente diferentes. Sabe-se o que é fruta: quanto ao doce e ao seco, a questão é diferente, refere-se ao conteúdo original de açúcar das uvas. Se todo, ou praticamente todo o açúcar das uvas maduras for convertido em álcool, o vinho é considerado seco. Se apenas parte do açúcar se converteu em álcool, diz-se que o vinho tem açúcar residual, ou seja, o açúcar restante, que a levedura não fermentou.
Eu gosto muito de uma frase: “sou responsável pelo que eu digo, e não pelo que você entende”. Isso é a mais absoluta verdade e resume perfeitamente essa questão das diferenças, percepções e prisões emocionais que nos fazem ler fatos de maneiras distintas. Talvez um pouco por essa formalidade exagerada que as pessoas tratam o vinho. Sei que muitos dos meus leitores, ainda não conseguem entender o mundo do vinho, e alguns só conseguem diferenciar o vinho tinto do branco, do rosé, do espumante, tem conhecimento da existência de menos de meia-dúzia de uvas, que para confundir ainda mais a nossa cabeça, volta e meia também podem aparecer outras “uvas”. Mas para derrubar algumas dessas barreiras basta desatar alguns nós dentro da nossa própria cabeça, por se tratar de cognições negativas que acabam dificultando a verdadeira leitura dos fatos.
A partir daí,tudo fica mais tranquilo e começamos a nos impressionar ao perceber que para o clima de paz tomar conta da relação leigo e vinho, basta baixar a guarda que tudo fica mais atraente e acessível. Justo porque aquilo que mais detestamos nos outros são fundamentalmente características que também possuímos, entretanto, temos medo de despertá-las por algum tipo de insegurança. Muita coisa se explica agora né?
Conhecer um pouco de vinho é muito interessante. Porque você se relaciona diretamente o nível de interesse que terá com o produto, a partir da sua primeira impressão sobre seu rótulo. Ninguém precisa ficar chateado por não saber exatamente sobre a história do vinho e suas uvas. Não é uma fórmula fechada, que nem decorar o nome e a ordem dos planetas na aula de geografia. Mas um pouco de história não faz mal a ninguém.
CAÇAROLAS DA SEMANA E VINHOS
UNIVERSAL BAR – BRASÍLIA
Estive semana passada em Brasília e fui jantar no restaurante Universal. O lugar é muito louco, achei que tinha entrado na casa do chapeleiro maluco. Tem de máquina de costura até um são Jorge, uma árvore de luzes roxa, budas, um shrek de pelúcia, quadros da Marilyn Monroe e de cachorro e uma pá de outras coisas.
E o cardápio? Tem de lagosta até Polenta com Rabada (o melhor da vida). Meus pedidos: panelinhas (filé e de lula), Rabada na colher e Medalhão de Filé com piamontese. Tudo estava maravilhoso!! Saí muito feliz! Voltarei com toda certeza.
GRÁ BISTRÔ
A nova casa do chef Ian Baiocchi é especializada na culinária francesa. É o primeiro restaurante no rooftop de um prédio em Goiânia, aliás, um dos mais altos do país com quase 200 metros de altura. Estive lá e o ambiente é bonito. O restaurante vale pelo conjunto da obra: vista, decoração e ambiente. Pedi uma entrada de requeijão de cabra e pó de goiabada que era realmente diferente, gostosa. O prato principal pedi o camarão com polvo quenãoestava, nadademais. Asobremesa escolhi o caramelo de chocolate com sorvete de gengibre e flor de sal. Osorvetecombinoucomochocolate mas achei que o sal estava sobrando. A carta de vinhos precisa urgente ser melhorada. No geral achei razoável, iria denovo pelavista. O preçoeu achei totalmente fora da realidade. Caríssimo até para São Paulo, imagina pra Goiânia. Endereço: entrada pela Avenida Portugal, nº 2653–Setor Marista
VILLA MARIA TABERNA MEDITERRÂNEA
Novo pedacinho superconvidativo em pleno Centro de Goiânia com direito com pizzas feitas no forno à lenha. No comando da casa, um português pra lá de simpático. A pizza é simplesmente maravilhosa, é para comer rezando. A música é de extremo bom gosto. O atendimento é perfeito, os garçons são bem treinados, e ágeis. A sangria é divina. Experimentei também o chopp artesanal com malte puro. Eu com certeza voltarei muitas vezes ao local. Endereço: Rua 21, 421-341–Setor Central.
TAJI JAPANESE CUISINE
Aos amantes da cozinha oriental, uma nova e badalada casa dedicada ao gênero. A comida é boa, porém as peças são muito grandes e o visual do prato não fica interessante. O ambiente é de extremo bom gosto. Adorei a seleção musical. Só precisa melhorar o atendimento. Endereço: R. T-37, 2823 Setor Bueno.
MATTURADO BBQ
O pequeno e convidativo bistrô de carnes da Rua 9 no Setor Marista, em pouco tempo já conquistou o paladar dos amantes da carne. Esqueça as frescuras com talheres e outras formalidades. O ambiente é mais simples, contudo muito limpo e organizado. Não se deixe levar pelas aparências do local. Certamente uma das melhores steakhouses do Brasil. A carne é perfeitamente executada na parrilla situada na frente do restaurante. A qualidade da carne impressiona e vem servida no ponto exato que eu amo, mal passada. As fritas com molho de alho e o inesquecível mac & cheese, são de comer lendo poesia. O pão é delicioso (levemente tostado antes) e o queijo é de qualidade. Tem uma carta de cervejas especiais mas acho que mereciam uma atenção especial nos copos para servi-las. Endereço: Rua 9, nº 2439 – Setor Marista – Goiânia
RIO BAHIA
Como o próprio nome revela, é uma mistura das culturas carioca e baiana, com destaque para o cardápio especializado em frutos do mar. Fui em um dia que a casa estava cheia, animada. O local é bacana. Assim que cheguei, experimentei o acarajé que estava delicioso e depois pedi o prato principal, risoto de camarão que estava muito bom e bem executado. Os garçons muito educados e sempre com um sorriso no rosto. Único ponto negativo que eu apontaria é a demora na execução dos pratos, mas não deixaria de voltar por isso. Para quem tem cães, tem uma área externa que aceita raças de pequeno porte. Endereço: Rua 15, 712 – Setor Marista.