Orientações básicas para acertar na combinação entre a bebida e o prato
Diário da Manhã
Publicado em 4 de janeiro de 2018 às 00:35 | Atualizado há 4 meses
Há séculos o vinho é o acompanhante ideal para as refeições. Com a evolução da vinicultura, uma grande diversidade de vinhos se tornou disponível, a partir de diversas variedades de uva cultivadas. O conceito de Enogastronomia envolve a escolha adequada de vinhos, a partir de suas características gustativas procurando harmonizar com os pratos elaborados, ressaltando suas características e criando um conjunto sensorial de grande prazer.
E este é o tema da maioria das perguntas que costumo escutar durantes os jantares que participo. Eu digo sempre que o nosso senso comum afirma que o que é bom pode melhorar e o que é ruim pode piorar. A harmonização é um desses aprendizados que podem fazer o que é bom ficar ainda melhor e o que não é quase passar despercebido.
O mundo da enogastronomia, é combinar os sabores dos alimentos com as características dos vinhos, buscando a melhor parceria possível, para que essa seja uma experiência que inspire e agrade nossos sentidos. Para fazer essas combinações, é necessário guardar alguns conceitos, e o mais importante deles é lembrar do sabor e da intensidade dos vinhos e do que está mais aparente em um prato. Dessa forma, para harmonizar, é essencial saber o que prevalece na comida. Algumas perguntas simples auxiliam: é servido quente ou frio? Leva pimenta fresca ou alho e cebola? Leva ervas frescas ou secas? O molho tem queijos e são fortes? A carne é gorda ou magra? O cozimento é rápido ou lento? Mesmo nas sobremesas, é necessário saber se o açúcar prevalece, se é a fruta, se existe creme na preparação ou se é chocolate ao leite ou amargo.
Por conta desses fatores, que necessitam de uma boa memória tanto olfativa quanto gustativa, é que muita gente acredita que harmonizar é muito difícil. Porém, não é tão complicado assim. É mais uma questão de prática. As pessoas que apreciam os vinhos varietais(são vinhos feitos com um único tipo de uva, ou com predominância de um tipo de uva) em geral sabem do que gostam, da mesma forma, sabem seu prato preferido em cada tipo de restaurante, seja a massa com frutos do mar, a carne grelhada ao ponto ou o sashimi de atum gordo.
Mas, se prestarmos um pouco de atenção, iremos perceber que apreciamos alguns vinhos por suas características únicas: o frutado e final doce dos Malbecs argentinos, a acidez e frescor dos espumantes brut brasileiros e a untuosidade e o corpo dos Chardonnays Chilenos com madeira. O mesmo vai acontecer com os pratos.
Ainda que “harmonizar” seja uma palavra positiva, alguns alimentos parecem não querer participar desse processo tão agradável. O motivo, claro, são suas características únicas. Sardinhas, por exemplo, são ricas em elementos químicos que fazem bem à saúde, como o Ômega 3, mas, se combinadas com um vinho tinto, revelarão um desagradável sabor metálico – ocorrerá o mesmo com alguns alimentos que contêm grandes quantidades de minerais em sua composição, como a couve, os aspargos, a alcachofra e alguns tipos de cogumelos. Esses minerais tendem a se manter presentes em muitas preparações, dificultando a combinação com os vinhos. Ovos também são um problema para a harmonização.
Em Portugal, a combinação de bacalhau com vinho tinto, é a mais adequada, enquanto que o resto do mundo fala o oposto. O que quero dizer com isso, é que o outro pilar da harmonização vinho e comida é a combinação étnica e cultural. Ou seja, mesmo que uma harmonização típica de um local pareça errada para os estrangeiros, ela faz parte da cultura local e deve sim ser respeitada nos conceitos de enogastronomia.
É necessário provar muito, determinar as peças-chave do alimento e do vinho e testar as combinações. E nunca se esquecer de que isso tudo é para ser divertido, uma experiência sensorial e não uma obrigação. A seguir vou adicionar mais alguns conceitos importantes para a escolha de um vinho.
CARNE
Quando vamos a uma churrascaria ou a um restaurante com especialidade de carnes nobres, e pedimos um espesso bife grelhado tem um paladar delicioso quando acompanhado de um poderoso Cabernet Sauvignon. Uma bisteca malpassada, pedaço enorme de carne grelhada, mais espesso, é sempre acompanhada de um vinho feito principalmente da uva Sangiovese, em especial, um destacado Chianti Clássico Reserva, ou um Brunello Di Montalcino. A Sangiovese, com a brilhante acidez subjacente e um toque de sal, é surpreendente quando o contraste com a riqueza e a gordura do bife. Uma carne grelhada pode ir muito bem ao lado de um Malbec ou um Cabernet, mas se tiver molho branco, podemos pensar até em um Chardonnay.
LAGOSTA
Eu gosto muito de frutos do mar e quando estou na praia meu maior prazer é ir bem cedinho ao encontro dos pescadores, comprar lagosta e camarão fresco. Eu gosto muito de cozinhar quando estou de férias, coloco meu avental, abro um bom vinho, ligo a pick-up e recebo meus amigos. Sou apaixonada pelos prazeres à mesa. Em uma destas aventuras como chef de cozinha eu consegui uma das combinações mais sensacionais de comida e vinho, sem dúvida, um Borgonha Premier Cru, especialmente um opulento Puligny-Montrachet com lagosta salpicada na manteiga. Quando o creme doce e rico do vinho se encontra com a carne doce e rica da lagosta, a pessoa morrerá de prazer. Um vinho que gosto muito e tem um casamento bom com a lagosta é um Riesling da Alsácia são também companhias surpreendentes.
QUEIJOS
Gosto muito de queijos, principalmente os minúsculos chèvres(feitos com leite de cabra). Mas o que seria o melhor vinho para fazer um bom casamento? Talvez pela intensa cor ou pela maneira de evocar a terra, a maioria dos Châteauneuf-du-Pape, pede um bom queijo que tenha sensualidade. Embora muitos de nós pensemos em vinho tinto quando pensamos em queijo, os sabores picantes, cremosos, gredosos, salgados, e gordurosos da maioria dos quijos de cabra podem neutralizar o sabor de muitos vinhos tintos. Por outro lado, os vinhos brancos: Sancerre e o Pouilly-Fumé são companheiros perfeitos, em parte porque eles próprios são picantes. Combina bem com pratos a base de frutos do mar.
ASPARGOS
Não existe nada melhor do que Aspargos frescos. Os vinhos da Alsácia são verdadeiros companheiros para este legume. Nada melhor para acompanhar os aspargos com molho Holandês do que abrir uma garrafa de Muscat seco. A sensação na boca é incrível.
MASSAS
Amo preparar um jantarzinho com uma massa fresca e um bom vinho para acompanhar. Tenho preferência pelo Tagliatelle, são finas tiras de massa caseira feita com ovos, depois misturo com manteiga derretida e sálvia. E Pronto! Abra um Barolo para acompanhar. Os sabores escuros do vinho, bem como o tanino, deslizam pela opulência da massa causando uma sensação incrível na boca. As massas italianas regadas a molho de tomate pedem naturalmente um vinho italiano de boa acidez, como um Chianti ou Valpolicella. Assim, quando a inspiração para buscar algo inusitado estiver escassa, a solução pode estar na própria origem do prato.
O vinho viveu uma revolução. Mas as mudanças no mapa culinário do mundo não foram menos significativas. Felizmente, ainda há cozinhas regionais que se mantém inflexíveis quanto a ingredientes e modos de preparo tradicionais, mas de modo geral por toda parte, a cozinha libertou-se de suas bases domésticas. Como o vinho ela viajou e misturou-se com vários outros países. Por isso, deixa de lado as explanações teóricas em favor de uma abordagem leve, clara e eminentemente prática. É difícil ser definitivo, mais difícil ainda quando se assume que o paladar é indefinível, é subjetivo. Um conselho, arrisque-se! No passado havia regras: vinho branco com peixe e carne branca; vinho tinto com carne vermelha; e vinhos locais com pratos regionais. Hoje esta regra foi quebrada. Mas ainda hoje é complicado harmonizar peixe de alga salgada com vinho tinto, conferindo um sabor metálico na boca. Mas com um bom Pinot Noir dependendo de como é o cozimento do peixe, vai muito bem. O Importante é o seu paladar. Divirta-se e curta este prazer do casamento da comida com o vinho. Tim-tim!
Receita da Semana
SUFLÊ DE QUEIJO GRUYÈRE
Clássico dos clássicos, o suflê de queijo é uma entrada pra lá de elegante. E ele é também o acompanhamento certo para transformar uma carne grelhada num prato sofisticado.
INGREDIENTES
1 ½ xícara (chá) de queijo gruyère ralado fino (180 g)
2 colheres (sopa) de manteiga
5 claras de ovos
3 gemas
1 colher (sopa) de farinha de trigo
½ xícara (chá) de leite
1 ½ colher (sopa) de fubá
noz-moscada a gosto
MODO DE PREPARO
- Preaqueça o forno a 200 ºC (temperatura média). Separe as gemas das claras, reservando 2 gemas para outra preparação. (Que tal uma gemada para o café da manhã do dia seguinte?)
- Com um pincel (ou papel-toalha), unte com cerca de 1 colher (sopa) de manteiga a lateral interna de três ramequins individuais (ou outra tigela refratária de borda alta) e polvilhe com ½ colher (sopa) de fubá em cada e vá girando para forrar as bordas. Se preferir, use apenas um refratário grande de borda alta e coloque 2 colheres (sopa) de fubá.
- Numa panelinha, aqueça em fogo médio 1 colher (sopa) de manteiga. Quando derreter, junte a farinha e cozinhe por 2 minutos, mexendo sem parar. Retire a panela do fogo e junte o leite de uma vez. Mexa vigorosamente com um batedor de arame para não empelotar. Volte a panela ao fogo e continue mexendo por mais 1 minuto.
- Desligue o fogo e tempere o molho branco com sal, pimenta-do-reino e noz-moscada. Junte as gemas e misture vigorosamente com o batedor. Transfira para uma tigela grande. A mistura fica bem líquida, é assim mesmo.
- Leve um pouco de água para ferver, pois o suflê será assado em banho-maria. Ou seja, os ramequins vão para uma fôrma com água quente, e a fôrma, para o forno.
- Na batedeira, bata as claras em neve, com uma pitada de sal. Atenção para o ponto: se as claras ficarem muito firmes, o suflê vai ressecar. Comece batendo em velocidade baixa e, quando espumar, aumente para média. Assim que as bolhas de ar próximas da parede da tigela sumirem e as claras ficarem marcadas pelo batedor, está pronto.
- Na tigela com o creme de gemas, misture, com o batedor de arame, apenas ⅓ das claras em neve. Em seguida, com uma espátula ou colher bem grande, junte o restante, misturando em movimentos circulares, de baixo para cima. Aos poucos, vá juntando o queijo ralado e continue misturando delicadamente até ficar homogêneo.
- Preencha o ramequim com a massa de suflê até escorrer. Nivele passando uma faca (com o corte para cima) para retirar o excesso. Passe a ponta do dedo polegar por toda a borda interna para retirar um pouquinho mais de massa – isso ajuda o suflê a crescer retinho. Repita com os outros ramequins.
- Coloque os ramequins na assadeira, leve ao forno preaquecido, e regue a assadeira com a água fervente, sem deixar respingar na massa de suflê. A água deve, no máximo, preencher a assadeira até a metade. Feche o forno, não abra mais, e deixe assar por cerca de 20 minutos, até dourar e firmar. Caso esteja usando um único ramequim grande, deixe assar por 35 a 40 minutos. Retire com muito cuidado para não se queimar com a água fervente. Sirva a seguir.
Confira abaixo a seleção de Rodrigo Leitão de 10 rótulos nacionais que todo brasileiro deve provar, saborear e se orgulhar!
TINTOS
Dal Pizzol Tannat 2012
Este vinho amadurece por um período de 15 meses em pipas de madeira e permanece três meses descansando, antes de ser liberado para comercialização.
Temperatura de serviço: 15 a 20 °C.
Harmonização: bacalhau, aves de caça, vitela, strogonoff, carnes assadas, costela, picanha, queijos tipo gorgonzola, brie, cheddar.
Vinho Luiz Valduga
Vinho mais expressivo da história da Casa Valduga. Eles não revelam quais as uvas utilizadas, é um vinho secreto. Homenagem ao patriarca da família.
Para servir entre 16º e 20ºC.
Harmonização: carne vermelha, cordeiro, molhos fortes, queijos maduros.
Monte Paschoal Dedicato Cabernet Sauvignon 2012
Vinho tinto encorpado com bom potencial de guarda.
Grau alcoólico: 12,5%.
Passou 6 meses maturando em barris de carvalho francês
Harmonização: risotos, pizzas, carnes e queijos.
Vinho Rio Sol Cabernet Sauvignon 2013
É um vinho vigoroso, equilibrado no paladar e de cor brilhante. Frutado, sem madeira, possui aroma profundo de frutas vermelhas.
Teor Alcoólico: 13%
Produzido no Vale do São Francisco, em Pernambuco.
Tal como foi classificado por Jancis Robinson, a maior crítica de vinhos do mundo: “Este vinho não é do ‘Novo Mundo’, mas sim de uma nova categoria chamada ‘Nova Latitude’”.
Intrépido 2010
Vinho de Goiás.
Produzido pela Vinícola Pireneus, de Cocalzinho.
Cotado entre os 100 melhores vinhos do mundo em 2015, pela Revista Prazeres da Mesa.
Elaborado com 87% de uva Syrah e 13% de Tempranillo
Passagem de 70% do vinho por barricas de carvalho francês e americano por 11 meses. Graduação alcoólica: 14,5% por litro
Harmonização: carnes gordas, churrasco, cordeiro, molhos encorpados, queijos fortes e maduros.
Don Laurindo Gran Reserva 2005
Elabora-se este vinho somente em safras especiais.
Uvas: Tannat e Ancellotta
Temperatura de serviço: 16 a 20º C.
Graduação alcoólica: 13,5% Vol.
Harmonização: carnes vermelhas, cabritos, caças, pratos bastante condimentados e queijos fortes.
Alma Única Pinot Noir 2014
Elaborado apenas quando a safra propicia uma excelente elaboração de vinhos.
Uva: 100% Pinot Noir
Graduação alcoólica: 13% Vol.
Temperatura de serviço: 15º a 16º C
Harmonização: carnes vermelhas grelhadas, carnes de aves, galetos, massas com molhos mais leves, pizzas e tortas salgadas.
BRANCOS
Dunamis Elementos – wSer 2011
É um corte inusitado com 50 % de uva Chardonnay e 50 % de Sauvignon
Blanc.
Graduação alcoólica: 11,5 %
Temperatura de serviço: 5 a 8°C.
Harmonização: aves, peixes assados e grelhados, queijos leves, saladas ou simplesmente num happy hour.
Luiz Argenta Sauvignon Blanc 2016
Graduação Alcoólica: 12,5%
Maturação por 5 meses em tanques de inox.
Temperatura de serviço: 10ºC.
Harmonização: carpaccio, queijo de cabra, peixes com molhos cítricos e culinária japonesa.
ESPUMANTE
Giuseppe Garibaldi Extra Brut
Espumante elaborado 80% com uva Chardonnay e 20% com Pinot Noir. Feito pelo método Charmat Longo (2ª fermentação em tanques de Inox, com maior período de contato com as borras finas).
Excelente acidez. Apenas 6 gramas de açúcar por litro.
Álcool – 12 %
Temperatura de Serviço: 6 a 8°C
Harmonização: do churrasco ao camarão.