Os Caldeira Brant em Goiás e outras notícias da família em Minas Gerais
Redação
Publicado em 30 de setembro de 2018 às 02:03 | Atualizado há 7 anos
Numa das prazerosas reuniões que são realizadas a cada mês, na residência da urbanista, arquiteta, confreira no Instituto Histórico e Geográfico de Goiás, Narcisa Abreu Cordeiro, para tratar do andamento das pesquisas e produção de textos para contar a história de edificação humana dos primeiros moradores da Rua 7, Centro, Goiânia, ela me proporcionou a emocionante leitura de um discurso escrito a mão pelo seu tio Tijoca.
Trata-se do histórico João D`Abreu (Tijoca), como era conhecido entre os mais próximos (1888/1976), construtor de uma brilhante trajetória existencial, foi o primeiro goiano a se formar em Odontologia, professor-fundador do ensino superior de Farmácia e Odontologia em Goiás, parlamentar (deputado estadual e federal (por três vezes), prefeito de Arraias, em duas oportunidades, vice-governador e governador interino de Goiás.
Na sua segunda gestão como prefeito de Arraias (TO), ainda, Norte de Goiás, ao receber o então governador de Goiás, Otávio Lage de Siqueira, que estava no município para inauguração de obras, João D`Abreu promoveu a leitura do mencionado discurso portador de revelações sobre seu antepassado Felisberto Caldeira Brant, mineiro de São João Del Rei, que em 1735, na companhia de seus irmãos: Sebastião, Conrado e Joaquim, estava em terras goianas participando do melhor momento da exploração do ouro e de diamantes, enquanto Anhanguera Filho, protagonista-mor da concorrida riqueza mineral goiana, amargava seu degredo, provocado por intrigas de interesse econômico plantadas por representantes da corte portuguesa, regentes da Capitania de São Paulo, então gestora das terras dos Goyazes.
O discurso de João D`Abreu conta que “ Arraias foi fundada pelos bandeirantes e figurava entre os mais importantes Julgados do Sertão. De três troncos principais descendemos nós (Caldeira Brant, Cardoso e Moura) e da sua influência e elevado conceito. Com segurança podemos afirmar deriva a razão da sobrevivência dessa cidade, cuja origem, da mineração, poderia tê-la feito desaparecida, como outras, que assim se formaram. […] Os Caldeira Brant, que em Paracatu se misturou com os Abreu, veio para aqui Jerônimo de Abreu Caldeira, como foram para Vila Boa, Arraias e Natividade, irmãos seus”.
Entretanto, a presença dos Caldeira Brant em Goiás é muito mais presente. Felisberto que se casou em São João Del Rei, sua terra natal, com Branca de Almeida Lara, teve o casal em terras goianas a maioria dos seus filhos. O bom texto genealógico de José Aluísio Botelho publicado no Blog A Raposa da Chapada, Genealogia Paracatuense, nomina os filhos de Felisberto e Branca:
1 Felisberto Caldeira Brant, acompanhou o pai preso à Lisboa; morreu tragicamente, vítima do terremoto que destruiu Lisboa em 1º de novembro de 1755;
2 Coronel Gregório Caldeira Brant
3 Tomás Caldeira Brant
4 Ana
5 Inácio
6 Teresa Caldeira Brant
Por volta de 1744, os Caldeira Brant depois de participaram de um levante contra o gordo fisco português do quinto, com receio de retaliações deixaram nosso eito e retornaram à Capitania de Minas Gerais, e estabeleceram-se no Arraial de São Luiz e Sant´Anna das Minas do Paracatu. Lá, a família prosperou em fortuna, poder e alongou a sua genealogia.
Felisberto Caldeira Brant que entre os irmãos escreveu mais destacadamente sua existência, saindo de Paracatu fixou-se no Arraial de Tijuco, Diamantina, onde se tornou o poderosíssimo Contratante de Diamantes, pelo período de quatro anos, de 1º de janeiro de 1749 a 31 de dezembro de 1752, sucedendo a João Fernandes de Oliveira, amante de Chica da Silva. Só o contratante era autorizado pelo Coroa Portuguesa a promover a exploração de diamantes, pagando-lhe o imposto denominado de capitação. Era do ofício do contratante de denunciar à intendência possíveis lavradores furtivos, ato que concorria a prisão, degredo e morte.
Entretanto, Felisberto era diferente dos seus antecessores fazia “vista grossa” aos menos favorecidos do Tijuco ignorando o gesto de garimparem às escondidas em suas lavras. Com isso, ganhou a simpatia, o carinho o apreço, dos seus moradores. Assim, portando, a comunidade como um todo também ganhava com a lavra de seu rico solo e não tão-somente a Metrópole lusitana.
Cada vez mais rico, tudo ia bem na vida de Felisberto, até que ocorreu em 1752, o roubo do cofre da intendência, onde era guardado o ouro e diamante, cotas da exploração devidas à Metrópole. Curiosamente, o cofre possuía seis chaves. Duas ficavam com Felisberto, duas com intendente e a outras duas com funcionários do contratante. Esse roubo misterioso nunca foi desvendado. Como se não bastasse o roubo do cofre, logo depois numa festa religiosa, um gracejo infeliz do ouvidor da Vila do Príncipe (Serro), Dr. José Pinto de Morais Bacelar, dirigido a uma parente de Felisberto Caldeira Brant, desencadeou na porta da igreja uma discussão entre o contratante e o ouvidor, que acabou sendo levemente ferido por uso de punhal de Felisberto.
Diante do entrevero, o intendente ficou ao lado do ouvidor, somou ao roubo (nada foi provado contra Felisberto) a “tentativa de homicídio” e fez a cabeça do vice-rei contra o contratante, que acabou preso, no dia 31 de agosto de 1753, conduzido a Portugal, à masmorra do Limoeiro, em plena regência do temido, Sebastião José de Carvalho e Melo, Marquês de Pombal, poderosíssimo secretário de Estado do Reino de Portugal.
Ainda, preso na masmorra do Limoeiro, sem defesa, sem julgamento, simplesmente jogado lá, enquanto a Coroa só cuidava de espoliar o pouco que havia sobrado de sua imensa fortuna para “ressarcir os cofres lusitanos” pelo roubo inexplicável do cofre no Arraial do Tijuco, cuja “culpa” só recaiu sobre Felisberto.
No dia 1º de novembro de 1755, Lisboa veio praticamente abaixo em razão de um violentíssimo terremoto que matou dezenas de milhares de lisboetas. Entre casas, igrejas, prédios públicos que desabaram, um deles foi a masmorra do Limoeiro. Sobrevivente à catástrofe, enquanto outros presos fugiam, ao contrário deles, Felisberto Caldeira Brant se apresentou ao Marquês de Pombal, para sua indisfarçável surpresa, indagando para aonde deveria ser conduzido.
Sobre esse episódio, o bisneto do contratador Felisberto Caldeira Brant, o Visconde de Barbacena, prestou um depoimento histórico: “Tendo desabado a prisão em consequência do terremoto e tendo morrido seu filho mais velho (de mesmo nome, Felisberto Caldeira Brant), Caldeira apresentou-se ao Marquês de Pombal referindo-lhe o acidente e pedindo-lhe que lhe indicasse onde devesse residir. O Marquês admirou-se desse procedimento leal, porque todos os outros presos que escaparam da catástrofe se tinham evadido. No mesmo dia referiu o ocorrido a João Pereira Ramos, ao bispo de Coimbra e ao general Godinho, todos brasileiros. Estes aproveitaram o ensejo para intercederem pelo infeliz Caldeira, demonstrando a sua inocência e a intriga de que fora vítima. Pombal deu-lhe a liberdade e ordenou que se procedesse à liquidação de suas contas e ao exame do sequestro de seus bens. Gravemente doente […] retirou-se Felisberto Caldeira para Caldas da Rainha, perto de Lisboa, e aí faleceu […] o Governo Português nunca indenizou aos descendentes de Caldeira das grandes somas que injustamente sequestrou ”. (Portal São João Del Transparente, texto de Francisco José R. Frazão).
A bem da história, da verdade, ainda não se sabe de forma comprovada documental se Felisberto Caldeira Brant teria morrido em Portugal, ou se teria retornado ao Brasil e aqui morrido.
A certeza histórica fica por conta da Coroa Portuguesa que jamais ressarciu a família Caldeira Brant e dela confiscou até a última moeda.