Os vários significados da Páscoa
Diário da Manhã
Publicado em 29 de março de 2018 às 01:22 | Atualizado há 4 meses
- Pelo correr da história, ela já significou fertilidade, libertação e ressurreição. Os diferentes ritos da Semana Santa
A Páscoa nem sempre foi um rito cristão, ela é baseada em uma vasta confluência cultural. Antes religiões politeístas mantinham rituais, que foram agregados às celebrações pascais cristãs, que eram ligados à fertilidade e à chegada da primavera. Vários fatores de outras culturas foram distorcidos e amontoados na Páscoa ocidental, por exemplo, o coelho, que veio da cultura nórdica, que na verdade era uma lebre, representando a deusa Gefjun da fertilidade.
As línguas de origem germânica utilizavam a palavra easter para se referir aos festejos do equinócio de inverno, e depois da dominação cristã a palavra passou a significar a ressurreição de Cristo. De acordo com pesquisadores, a palavra vem de Astarte, a deusa-mãe da fertilidade. Esta deusa era amplamente cultuada em regiões do ocidente e oriente. No latim e grego a origem da palavra páscoa é outra, vem de pasha, que significa passagem.
A Páscoa no cristianismo existia já no velho testamento, mas tinha outro significado. “Depois de nove pragas que quase acabaram com o reino egípcio e das negativas do Faraó, Deus enviou aquela que seria a pior praga para todos no Egito: um anjo destruidor foi enviado pelo Senhor para eliminar todo primogênito de todas as famílias egípcias”. A mitologia hebraica conta que para fugir da praga Deus orientou que fizessem o sacrifício de um cordeiro e marcassem a porta de sua casa com seu sangue, para que o anjo não passasse por suas casas, salvando assim seus primogênitos. Disto surgiu o termo Páscoa, do hebreu pessach, que significa “passar por cima”. Desde a mitológica libertação os israelitas passaram a comemorar a Páscoa toda primavera, como a libertação do povo da escravidão no Egito.
A Páscoa se tornou posteriormente a ressurreição de Cristo como conta o site Terra Santa: “Assim como os hebreus foram salvos pelo sangue do cordeiro na praga enviada ao Egito, somos salvos pelo Sangue do Cordeiro, que morreu na cruz para livrar-nos dos pecados do mundo. Por isso a celebração da Páscoa pelos cristãos é tão importante quanto o próprio nascimento de Cristo, pois ela comemora a ressurreição do Cordeiro de Deus, nosso Salvador.” Trata-se então de um significado de extremo sacrifício.
PÁSCOA CATÓLICA
“Relembra o dia em que Nosso Senhor Jesus Cristo é crucificado (após sua prisão, Jesus é julgado e açoitado; recebe a coroa de espinhos na cabeça; é levado à presença de Pilatos, e depois de condenado carrega com a sua própria cruz, até o monte Calvário; ao meio-dia é crucificado entre dois ladrões e por volta das três da tarde, Jesus morreu… o Seu corpo foi depois retirado da cruz, e colocado num sepulcro cavado na rocha. Neste dia é praticado o jejum, e a abstinência da carne em sinal de penitência e respeito pela morte de Jesus Cristo”, contam os membros da Paróquia Nossa Senhora da Assunção em relação à Sexta-feira Santa.
Já a respeito do domingo pascoal, eles dizem: “Dia da ressurreição, no qual Jesus se levanta de sua sepultura, e vence a morte. É o dia do grande milagre. O dia em que Cristo volta à vida através da Sua Ressurreição de entre os mortos. É o dia em que se celebra a vida, o amor e a misericórdia de Deus”. Eles completam a respeito da totalidade das celebrações: “A Semana Santa é o ápice da vida cristã, é tempo em que a Igreja Católica celebra a Paixão, a Morte e a Ressurreição de Jesus Cristo. Período de conversão e de graça por excelência”.
Os ritos católicos envolvem missas diárias, procissões e celebração penitencial. As celebrações são iniciadas no Domingo de Ramos. “O Domingo de Ramos celebra a entrada triunfal de Jesus Cristo em Jerusalém. Este domingo é assim denominado em decorrência do povo ter cortado ramos de árvores, ramagens e folhas de palmeiras para cobrir o chão por onde o Senhor passaria montado em um jumento (símbolo da humildade)”, explica a paróquia. A quinta-feira da semana de Páscoa é marcada pela Santa Ceia do Senhor. Ainda integra o rito a encenação da paixão de Cristo, vigília e a missa do domingo de Páscoa.
PÁSCOA EM OUTRAS RELIGIÕES
O espiritismo não celebra a Páscoa propriamente, apesar de dividir alguns princípios cristãos: “A Doutrina Espírita não comemora a Páscoa, ainda que acate os preceitos do Evangelho de Jesus, o guia e modelo que Deus nos concedeu: Jesus representa o tipo da perfeição moral que a Humanidade pode aspirar na Terra. Contudo, é importante destacar: o Espiritismo respeita a Páscoa comemorada pelos judeus e cristãos, e compartilha o valor do simbolismo representado, ainda que apresente outras interpretações”, destaca a Federação Espírita Brasileira (FEB).
A FEB ainda ressalta que enxerga a importância da celebração ligada à liberdade e ao conceito de corpo e espírito: “A liberdade conquistada pelo povo judeu, ou a de qualquer outro povo no Planeta, merece ser lembrada e celebrada. Os Dez Mandamentos, o clímax da missão de Moisés, é um código de todos os tempos e de todos os países, e tem, por isso mesmo, caráter divino. A ressurreição do Cristo representa a vitória sobre a morte do corpo físico, e anuncia, sem sombra de dúvidas, a imortalidade e a sobrevivência do Espírito em outra dimensão da vida”.
A Pentecostal Protestante explica que as religiões protestantes não compartilham de ritos pagãos durante a Páscoa, como os ovos e coelhos. Para eles a celebração é realizada por um culto e uma ceia: “Partimos o Pão, símbolo de seu corpo (de Cristo) e compartilhamos o sumo da uva, símbolo de seu Sangue vertido por nós na Cruz. O verdadeiro significado é a passagem de uma vida de pecado para uma nova vida com Deus em Cristo, isso sim é Páscoa, pois essa palavra significa passagem”