Quando o remédio vira veneno
Diário da Manhã
Publicado em 7 de maio de 2018 às 00:17 | Atualizado há 4 meses
A informação no século atual circula livremente. O indivíduo pode encontrar respostas para suas dúvidas na palma da mão. Desta forma, a tal era da informação também apresenta suas particularidades perversas. Um pouco de ceticismo nessas horas pode evitar problemas maiores, até mesmo para a saúde física. Atualmente, é preciso desacreditar e verificar o que é dito, e às vezes aquilo que já acreditamos. Entre os males do excesso de informação e de uma espécie de inocência para com o que é veiculado pela mídia, está os danos da automedicação. A publicidade que envolve as grandes indústrias farmacêuticas pode ser uma grande cilada. Junto a este fator, já conhecido por uma parcela da sociedade, ainda surgem pessoas que preferem buscar medicações para supostas doenças em sites ou blogs, sem nem ao menos pesquisar a credibilidade e veracidade do que está descrito nestas páginas.
Por conta dessas ocorrências, os conselhos de Farmácia se uniram em uma campanha nacional no dia 5 de maio, no último sábado, chamada Dia Nacional do Uso Racional de Medicamentos. De acordo com uma pesquisa na Universidade Federal do Rio Grande do Sul, publicada no ano de 2017, cerca de R$ 60 bilhões de reais do Sistema Único de Saúde (SUS) são utilizados para tratar danos causados por medicamentos. As mais onerosas são as causadas por reações adversas (39,3% dos gastos), pela não adesão ao tratamento (36,9%) e pelo uso de doses incorretas (16,9%).
A presidente do Conselho Regional de Farmácia do Estado de Goiás, Lorena Baía, explica que o profissional especializado é responsável por minimizar os efeitos dos remédios, através de uma prescrição médica equilibrada e analisando os riscos que o paciente apresenta. “Medicamentos são produzidos para beneficiar as pessoas, mas se não forem utilizados corretamente podem desencadear reações indesejáveis e até causar riscos severos à saúde”, diz. O acompanhamento do farmacêutico pode até mesmo barrar os ricos de uma medicação mais nociva ao organismo, por exemplo.
HIPERTENSOS E DIABÉTICOS
O principal público-alvo desta campanha são pacientes com quadros de hipertensão, diabetes ou dislipidemias. De acordo com o Ministério da Saúde, cerca de 70% dos pacientes não conseguem controlar suas doenças mesmo tendo diagnóstico e prescrição médica. Outro estudo apresenta que 82% dos pacientes que utilizavam 5 ou mais medicamentos de uso contínuo, o faziam de forma incorreta ou com baixa adesão ao tratamento. Um em cada três pacientes abandonou algum tratamento, 54% omitiram doses, 33% usaram medicamentos em horários errados, 21% adicionaram doses não prescritas e 13% não iniciaram algum tratamento prescrito.
O trabalho dos farmacêuticos para que os pacientes façam o uso racional de medicamentos também inclui acompanhamento de prevenção de danos e de uso seguro dos medicamentos. Durante o mês de maio, farmacêuticos voluntários dos serviços públicos de saúde vão verificar se os pacientes polimedicados têm acesso e aderem ao tratamento medicamentoso ou não.
A ideia é compreender e diagnosticar o problema e traçar estratégias para resolvê-lo. O estudo será feito em 24 das 27 unidades federativas. Em Goiás, serão entrevistados 25 usuários do SUS, em 15 municípios do Estado, totalizando 375 pacientes. A expectativa é divulgar o resultado durante o Congresso do Conselho Nacional de Secretários Municipais de Saúde (Conasems), em julho. Os conselhos de Farmácia esperam sensibilizar os gestores públicos. “É uma iniciativa que visa à melhoria da qualidade da assistência à saúde e também racionalizar gastos do sistema público”, comenta o presidente do Conselho Federal de Farmácia, Walter da Silva Jorge João.