Record lança nova edição do premiado “Tempo de espalhar pedras”, de Estevão
Redação DM
Publicado em 12 de junho de 2018 às 00:51 | Atualizado há 7 anos
Vencedor do Prêmio São Paulo de Literatura de 2015, “Tempo de espalhar pedras”, de Estevão Azevedo, chega às livrarias em junho pela Record numa nova edição, com novo projeto gráfico e linda capa. Tem ainda orelha de Leyla Perrone-Moisés e nota extra do autor que detalha algumas de suas muitas referências e inspirações para compor a história.
Ambientada numa vila desgastada pelo garimpo, a trama fala de desesperança, relações deterioradas, vingança e desejo. O enredo é centrado no ódio entre Diogo e Gomes, dois velhos garimpeiros, e seu reflexo na relação complexa entre seus filhos, Ximena e Rodrigo – que mistura o mesmo ódio com uma forte pulsão sexual.
Nascido em Natal mas morando em São Paulo desde muito cedo, Estevão tem uma realidade muito mais fincada no universo urbano de “Nunca o nome do menino”, seu primeiro romance. Foi exatamente o desejo de fugir disso que o atraiu para cenário do garimpo onde se desenrola “Tempo de espalhar pedras”. Estevão descreve com destreza as imagens que compõem a vila de garimpeiros – e ele conta, na nota de autor, que sua pesquisa para isso foi em outras obras grandiosas da ficção como “Cascalho”, de Herberto Sales; “Vidas secas”, de Graciliano Ramos; e “Abril despedaçado”, de Ismail Kadaré, entre outras.
A ideia para a trama, no entanto, veio de um guia de trilhas durante uma viagem à Chapada Diamantina, na Bahia: ele contou a Estevão sobre um vilarejo de garimpo de diamantes que foi paulatinamente destruído pelos moradores depois de eles perceberem que o único local intacto, e que portanto ainda poderia esconder diamantes, era o próprio vilarejo. “Fiquei com essa história, sem saber o quanto tinha de lenda e o quanto de realidade, na cabeça, pois era uma alegoria muito forte da cobiça: era comer da própria carne para não morrer de fome ou, pior, ter acesso aos atrativos do consumo”, conta o autor em entrevista ao Blog da Record.
O livro foi lançado originalmente em 2014 pela Cosac Naify. Na mesma noite em que foi anunciado o Prêmio São Paulo de Literatura para Estevão, em 2015, chegou também a notícia do fim da editora, o que comprometeu a chegada da obra às mãos dos leitores. Agora, “Tempo de espalhar pedras” chega às livrarias pela primeira vez com ampla distribuição.
TRECHO:
“No dia seguinte, ou quando as moedas se acabassem, o que não tardaria a acontecer, Bezerra estaria entre eles. Naquele momento, porém, e porque não costumavam, Ximena e os outros dali, pensar além do que lhes determinasse a sede, a fome, a doença ou o sexo, ela sentiu-se tentada a compartilhar daquele banquete de tão poucas iguarias – uma rede no alpendre, um cigarro, o ócio – mas de tão atípico sabor, e Bezerra pareceu-lhe mais garboso do que fora no dia, na semana, na vida anterior que vivera sem fartura e que tornaria a viver no dia posterior, no seguinte ou ainda no outro, a depender da quantidade de aguardente que bebesse e que pagasse aos outros e da perspicácia das mulheres com quem dormisse.”
Estevão Azevedo nasceu em Natal, no Rio Grande do Norte, mas mora em São Paulo. É mestre em literatura brasileira pela USP e trabalha como editor. Seu primeiro romance, “Nunca o nome do menino” (Record), foi finalista do Prêmio São Paulo de Literatura em 2009. Publicou ainda “O som de nada acontecendo” (contos, Edições K) e narrativas curtas em antologias e revistas na Alemanha e nos Estados Unidos.