Resgaste histórico
Redação
Publicado em 24 de junho de 2018 às 01:19 | Atualizado há 4 meses
Feliz a iniciativa dos confrades do Instituto Histórico e Geográfico de Goiás, Jales Guedes Coelho Mendonça e Narcisa Abreu Cordeiro, ao proporem à Assembleia Legislativa de Goiás, com plena aceitação, do ex-presidente Hélio Naves e do atual José Antônio Vitti, a sugestão da entronização na galeria de ex-presidentes da Alego, os retratos de Hermógenes Ferreira Coelho e João D`Abreu, cuja elaboração plástica traz a assinatura do talentoso Amaury Menezes. A solenidade, bastante prestigiada, ocorrida no final da tarde da última terça-feira, contou, especialmente, com a presença de vários familiares dos homenageados.
Agradeceram a homenagem, proferindo discursos, o promotor e escritor, Jales Guedes Coelho Mendonça, bisneto de Hermógenes e Narcisa Abreu Cordeiro, arquiteta, urbanista, escritora, profunda conhecedora da historiografia urbana de Goiânia, membro da Academia Feminina de Letras e Artes de Goiás, sobrinha-neta de João D`Abreu.
Os ex-dirigentes da Casa, Hermógenes e João têm lugar destacado na historiografia Goiana. O primeiro nasceu na Cidade de Goiás, em 12 de julho de 1898. Teve intensa vida política e empresarial. Enquanto deputado, quando da transferência da capital da Cidade de Goiás para Goiânia, foi contra por entender que o município nascido das mãos do Anhanguera, Filho, ficaria órfão dos seus principais estabelecimentos de ensino e da oferta de serviços públicos estadual e federal, tal qual ficou mesmo. Queria resguardar parte dessa prestação, não foi atendido. Decisão que, com certeza, não foi nada fácil para o próprio Pedro Ludovico Teixeira, construtor de Goiânia e vilaboense. Foi vereador na Cidade de Goiás, por duas vezes deputado estadual e presidente da Alego, entre 1935 e 1937. Governador interino de Goiás, em 1936 e prefeito da Cidade de Goiás, 1947- 1950. Empresário do setor energético foi pioneiro na implantação da iluminação na Cidade de Goiás e na nascente Goiânia.
FRAGMENTOS DO DISCURSO DE JALES GUEDES COELHO MENDONÇA
[…]Em verdade, aguardamos este dia, pacientemente, por algumas gerações e várias décadas. Acreditamos que o gesto de hoje abre caminho para um resgate dos feitos de nossos antepassados em prol do desenvolvimento e progresso do estado. […]Hermógenes Coelho, em conjunto com outros três sócios, despendeu uma pequena fortuna para edificar a Usina Jaó, primeira fonte energética da nova metrópole. […] Atuando desde cedo no comércio, triunfou sozinho, motivo pelo qual é tido como exemplo de self-made man, ou seja, homem que venceu pelo seu próprio esforço. Fundou, junto com Henrique Pinto Vieira e posteriormente João Coutinho, a Casa Bancária Vieira & Coelho, incorporada depois pelo BEG, quando de sua criação. […] Espírito conciliador, Hermógenes foi escolhido duas vezes, por unanimidade, presidente desta Casa. Ademais se elegeu Prefeito da Cidade Goiás em 1947, em disputa onde apenas ele se candidatou, sendo até hoje o único sufrágio dos últimos 70 anos com essa particularidade. A propósito, foi durante sua administração municipal que os lares vilaboenses receberam pela primeira vez água potável. […] Na vida partidária, foi o primeiro e único presidente da UDB (União Democrática Brasileira) em Goiás, agremiação fundada em 1937 para dar sustentação à candidatura presidencial do Governador paulista Armando de Salles Oliveira. Pai de 13 filhos, Hermógenes Coelho faleceu no Rio de Janeiro em 1953, deixando aos seus rebentos não apenas o indispensável conforto material, como também um legado de honestidade e retidão de caráter.
João D`Abreu, Tijoca, como era conhecido entre os íntimos, nasceu em Santa Maria de Taguatinga, atual estado do Tocantins, em 4 de julho de 1988, é portador de uma trajetória fantástica em prol do desenvolvimento de Goiás como um todo. Primeiro goiano graduado em Odontologia. Professor fundador da Escola de Pharmacia e Odontologia de Goyaz. Secretário de estado da Fazenda (1929/1930 e em 1937). Graduado em Direito foi professor da Faculdade de Direito de Goiás. Foi prefeito de Arraias (TO), por duas vezes. Deputado Federal por três vezes. Presidente da Alego, entre setembro de 1936 a novembro de 1937. Governador interino de Goiás (1937) e vice-governador (1959/1961). Teve importante papel político na mudança da capital da Cidade de Goiás para Goiânia e na transferência da capital federal da cidade do Rio de Janeiro para o Planalto Central, com o soerguimento de Brasília. Defensor-mor do antigo Norte Goiano, defendia com unhas e dentes a criação do estado do Tocantins. Materialização que não pode ver em vida, faleceu em Goiânia, no dia 27 de outubro de 1976.
FRAGMENTOS DO DISCURSO DE NARCISA ABREU CORDEIRO
[…] Para entendermos o político, advogado, odontólogo e catedrático João D’Abreu, precisamos nos remeter a seus pais e seu berço natal. Sua mãe, Ricarda d´Alcântara e Silva foi uma das primeiras mulheres educadoras da região nordeste do Estado de Goyaz, no século XIX, onde os jornais chegavam semestralmente. Mulher de extremado amor pátrio, influenciou seus alunos, inclusive Felipe Xavier de Barros que governou Goiás, abrindo para a parte social-intelectual. […] João D`Abreu diplomou-se em odontologia pela Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro, da Praia Vermelha, em 1911. Foi o primeiro dentista formado que atuou no Estado de Goiás. Foi um dos fundadores da Escola de Farmácia e Odontologia da Cidade de Goiás. Fundou o jornal “Odontiatra”, o primeiro periódico científico de nosso Estado. Foi membro efetivo do Sindicato dos Jornalistas profissionais do Rio de Janeiro e também da Associação Goiana de Imprensa. Fundou o jornal “A Bigorna”. Em 1925, torna-se bacharel em Ciências Jurídicas e Sociais pela Faculdade de Direito de Goiás e professor de Geopolítica na Faculdade de Direito de Goiânia. Em 1933, João d’Abreu, com grande empenho junto ao interventor federal em Goiás, conseguiu recursos para a construção da primeira estrada de rodagem de Veadeiros – hoje, Alto Paraíso – à cidade de Arraias. Foi festivamente recebido quando levava o primeiro automóvel em tráfico pela região. […]João D`Abreu foi um dos precursores na mudança das capitais Goiânia e Brasília. Em 1936, Presidente da Comissão de Finanças e de Justiça e Vice-Presidente da Assembleia Legislativa de Goiás. Nessa qualidade, na cidade de Goiás, antiga capital, assume em tumultuada sessão a Presidência da casa. Lidera desta forma a sessão memorável decisiva para a mudança da capital do Estado, culminando com a assinatura do Decreto 1.816, por Pedro Ludovico, em 1937, marco consolidador de Goiânia.
Na década de 30, João D`Abreu foi governador interino do Estado de Goiás e vice-governador na década de 50. Foi também deputado federal por três mandatos – 1946 a 1958.
Ele foi um dos precursores também na mudança da capital Federal. Teve um papel de destaque como combativo parlamentar na Constituinte de 1946. Segundo o livro “Brasília Kubitschek de Oliveira”, de autoria de Ronaldo Costa Couto, a bancada de Goiás, sobretudo Pedro Ludovico, João D`Abreu e Diógenes Magalhães lutaram tenazmente pela alternativa Cruls, que prevaleceu na votação final com cinco votos à mais que o Triângulo Mineiro. O artigo quarto das disposições transitórias da constituição de 18 de setembro de 1946, determina expressamente a transferência. No discurso histórico “A Nova Capital para o Brasil”, João D`Abreu sugeriu uma data para que se realizasse a mudança da capital. […]Foi apaixonado pelo sistema cooperativista de exploração do babaçu, e empenhou-se nesta luta por mais de 30 anos. Fundou, em 1948, a Cooperativa dos Babaçueiros do Norte Goiano. Lutou pela ideia separatista do Norte Goiano, pela criação do Estado de Tocantins.
Foi também um apaixonado pela Educação, fundando várias escolas e fazendo o translado de freiras dominicanas para regiões isoladas de Goiás. […]João d’Abreu teve uma formação multicultural e humanista que refletiu em sua vida política. “É para o azul do céu que se olha e não para a poeira do chão” dizia João d’Abreu. Ele parecia querer agarrar as nuvens para amenizar o sofrimento do desolado povo de Goiás. […] João D`Abreu casou-se em primeiras núpcias com Francisca do Espírito Santo Pereira de Abreu; em segundas núpcias com Eva Aires de Abreu, com quem teve os filhos: a advogada Índia Goiá Abreu Gomes, e o médico radiologista Divino Aires de Abreu.