Entretenimento

Uma crônica molhada a cerveja

Redação DM

Publicado em 19 de outubro de 2018 às 23:17 | Atualizado há 7 anos

Amigo bebum, eis um dos assuntos que mais domi­no nesta vida – que jor­nalismo, literatura que nada… Como sou desprovido daquela ve­lha opinião formada sobre tudo, mantra destes tempos em que se tecem pareceres sobre tudo nas redes sociais, começarei esta crô­nica molhada a cerveja por um assunto de suma importância aos boêmios: o bar, boteco, botequim, seja lá como tu chamas o estabe­lecimento que comercializa bebi­das, petisco e que serve de ponto de interação entre as pessoas.

Sim, no sol das grandes ressa­cas, como afirmaria o bom e ve­lho Hemingway, profissa na arte de enxugar copos e garrafas, é normal se pensar em casamen­to, ser um bom homem, jurar que nunca mais irá pôr uma gota de cerveja na boca, mesmo tudo isso sendo uma deslavada mentira. Quando se vai fazer algo, meus amigos, a tendência é levar a coi­sa a sério, já dizia Hunter Thomp­son. Como esquecer do gonzo num texto sobre bebedeira?

Nobre bebum, o fato é que o pós-expediente da firma nos chama para a bebedeira. Mo­lhar a palavra é essencial, pois não há nada para se fazer numa sexta-feira à noite. Fechar aque­la edição de final de semana do jornal – sou gutemberguiano ir­remediável em plena era da in­ternet – é a premissa para o bar, não há como fugir nisso.

Tentei, juro, deixar de frequen­tar essas espeluncas, todavia en­trei num tédio sem precedentes, a música parou de tocar, até deixei de escrever, cacete! Dá para acre­ditar num troço desses? Jornalista que não escreve, essa é boa! Pois é, é tudo pelo jornalismo, até a pu­taria e a bebedeira, vibe o gonzo, cujo personagem é a própria notí­cia, ou melhor, o responsável pelo desenrolar dos fatos.

Obviamente, como apren­di nesses anos de estrada etílica, é fundamental guardar o nome do garçom. Afinal, é no ombro dele que vais chorar quando to­car aquela dolorosa do Chrystian e Ralf, a inevitável, linda, maravi­lhosa e eletrizante dor de corno, é ele quem irás te servir a cerveja – gelada ou quente, depende do teu tratamento, ninguém é obri­gado a nada, pense bem.

Na saúde e na doença, lem­bre-se, a culpa sempre será da­quele tira-gosto desgraçado, daquela linguiça apimentada, daquele torresmo, daquela azei­tona… jamais, sob hipótese algu­ma, a culpa da tua homérica res­saca será da bebida, mesmo que tu saibas que uísque falsificado derrete o sistema gástrico – ou contribui para destruí-lo.

Outro ponto importantíssimo: a divisão do discurso na mesa do bar tem de ser cirurgicamente res­peitada: 50% sobre mulheres, 40% sobre futebol e 10% sobre ressa­cas monstruosas. Salvo em rarís­simas exceções, há espaço para articular aquele movimento con­tra as insanidades que são postas à mesa neste contexto turbulento pelo qual o País passa.

Sem delongas, sem drama, é isso mesmo. Nas tábuas sagra­das da boemia, toda falha é con­siderada uma infração gravíssi­ma. A impunidade reina neste País, símbolo do molejo, do fu­tebol-arte, da cachaça, do ginga­do e do samba, então que a Carta Magna da boemia seja cumprida, e, antes de tudo e sobretudo, sir­va de anestésico para a dor de ver tudo ruir pelos ares. O resto é res­to. Abraço. Até a próxima.

 


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